São Paulo, Terça-feira, 07 de Setembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Itamaraty exibe obras de Sergio Camargo

Lula Marques/Folha Imagem
"Homenagem a Brancusi" (68), uma das obras de Sérgio Camargo expostas a partir desta noite no Palácio do Itamaraty, em Brasília


FRANCESCA ANGIOLILLO
enviada especial a Brasília

Obras do escultor carioca Sergio Camargo (1930-1990) podem ser vistas em lugares tão diferentes quanto o parque da Catacumba, no Rio, e a Tate Gallery, em Londres. Em Brasília, sua obra está no Palácio do Itamaraty, no muro de concreto que fez para o auditório e em cerca de 50 obras à mostra no terraço, de hoje ao dia 26.
Desde 1995, o Itamaraty hospeda mostras patrocinadas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo, como marco do Dia da Independência.
O nome de Camargo foi sugestão pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso e se justifica pela importância de sua obra para a arte contemporânea brasileira. Junto com Amilcar de Castro e Franz Weissmann, Camargo compunha a "trindade" da escultura concretista no Brasil.
O curador Ronaldo Brito dispôs as peças ao redor do jardim projetado por Burle Marx, no terraço circundado pela estrutura que rendeu à obra de Niemeyer o apelido de "palácio dos arcos".
O arranjo do curador Ronaldo Brito não busca o didatismo. A única concessão feita a explicações é uma vitrine onde estão obras pequenas, que sugerem como Camargo desenvolvia seu método de trabalho -sua "geometria empírica", como ele mesmo dizia-, modelos que ele usava para buscar novas combinações para as mesmas formas.
Camargo começou sua carreira com esculturas em bronze, logo após sua primeira estada em Paris, no fim dos anos 40, quando costumava visitar o ateliê do escultor Brancusi (1876-1957).
Nos anos 60, desenvolveu os conhecidos "relevos" que, no entanto, não puderam ser levados a Brasília. Os painéis, de madeira caiada, corriam o risco de ressecar e rachar, por causa da baixa umidade do ar, típica da cidade.
Nos anos 70, Camargo deixou a madeira caiada e passou a usar mármore italiano "bianco pí" e, mais tarde, também uma espécie de carvão fóssil chamado "negro belga". Seus contemporâneos viram a troca de um material de aparência despojada por outro, clássico, como um retrocesso.
Brito sai em defesa: "Ele escolheu um mármore caro, da região de Massa (norte da Itália), porque quase não tem veios; assim, era o que mais se aproximava do despojamento da madeira, mas com a densidade que ele buscava".
Brito diz também que a obra foge do clássico por não ser artesanal. As peças eram todas cortadas à máquina e não eram polidas.
O resultado é, na verdade, intrigante. Vai de "zigue-zagues" a "castelos", passando pelas poucas obras a que Camargo deu título, deixando claras suas influências e admirações. "Homenagem a Brancusi" e principalmente "Homenagem a Bernini" (mestre do barroco italiano) mostram como é possível recombinar a mesma forma sem cair no óbvio.
Nos anos 80, Camargo passa a trabalhar no limite do material, impondo às peças cortes cada vez mais agudos. Pouco antes de morrer, Camargo desenvolvia um novo trabalho, os "ovos". Fez só três, segundo Brito. Um deles, negro, está na mostra, testemunhando o que talvez viesse a ser a sublimação máxima das explorações geométricas do artista.


A jornalista Francesca Angiolillo viajou a convite da Faap

Mostra: esculturas de Sergio Camargo Onde: terraço do Palácio do Itamaraty (Esplanada dos Ministérios, Brasília) Quando: abertura hoje para convidados; de seg. a sex.: 9h às 13h; sáb. e dom.: 15h às 18h, até 26/9 Quanto: entrada franca Patrocínio: Faap


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