São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"A IMPOSSIBILIDADE DO SEXO"
Susie Orbach atendeu a princesa Diana
"Terapia não é resposta para problemas do mundo"

CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

É meio injustiça dizer que a psicoterapeuta Susie Orbach, que veio participar dos simpósios sobre psicanálise na semana passada no Masp, ficou conhecida por ter atendido ninguém menos que a princesa Diana de Gales. Na verdade, foi Diana quem chegou até ela porque Orbach já era famosa desde os anos 80, quando lançou seu best seller "Fat Is Not a Feminist Issue" (algo como "A Gordura Não É uma Questão Feminista"), onde falava dos distúrbios das mulheres com a comida.
No Brasil, ela acaba de lançar, pela Imago, "A Impossibilidade do Sexo", que reúne seis casos de consultório "vividos" por Orbach -em realidade imaginados pela terapeuta, embora o leitor só vá saber disso no final do livro.
A própria Diana a procurou por sofrer de um distúrbio alimentar, a bulimia: aquilo que faz as modelos comerem exageradamente e vomitarem tudo em seguida. Com Orbach, o método criado por ela mesma parece funcionar. Aos 54 anos, em excelente forma e vaidosa, foi direto ao cabeleireiro quando chegou a São Paulo -depois de enfrentar horas de avião, alguém comentou, graciosamente, que a descabelada terapeuta de lady Di parecia ter passeado de bugue nas praias de Natal.
Diana foi, naturalmente, a mais famosa das pacientes de Susie Orbach como psicoterapeuta. Naturalmente, também, nada fala sobre isso. "Nunca. Sou uma terapeuta, não posso falar sobre meus pacientes", disse Orbach à Folha, depois de enfrentar a sessão que domou seu penteado.
Muito cansada por causa da visita-relâmpago (chegou na sexta e foi embora no domingo), ela concedeu uma pequena entrevista em que fala de outro tipo de distúrbio alimentar, digamos assim, que vem causando problemas às pessoas no mundo e não tem solução pela terapia: a pobreza. Atualmente, Susie Orbach trata de psicanálise e políticas sociais em seu trabalho como professora visitante da London School of Economics.

Folha - Todo mundo necessita fazer terapia?
Susie Orbach
- Não. Terapia é maravilhoso, é muito interessante, é outra forma de ver as coisas, mas não é a resposta para os problemas do mundo. A resposta para os problemas do mundo está nas causas econômicas. Nós não resolvemos com a psicanálise o fato de as pessoas se sentirem mal consigo mesmas porque são pobres. Isso se resolve fazendo elas trabalharem.

Folha - Então só pessoas com problemas mentais necessitam de terapia?
Orbach
- A psicanálise é maravilhosamente rica, não só se você tem problemas mentais. Mas também sou uma crítica da terapia. É muito importante para ouvir qual é o problema na vida das pessoas, em seu coração, mas não acredito que todo mundo precise de terapia. Algumas pessoas procuram porque não conseguem lidar com seus problemas, porque os negam, fogem deles. Conviver com os problemas é parte da vida, faz as pessoas crescerem.

Folha - Por que a psicanálise continua atual, cem anos depois?
Orbach
- A psicanálise na verdade está só começando, porque a gente está apenas começando a entender a idéia do sujeito humano. Além disso, os estudos da psicanálise sobre o sujeito humano estão em um processo de mudança. É muito excitante essa relação entre o sujeito humano e a sociedade de massa, esse problema da intimidade, por exemplo.

Folha - E Freud, continua atual?
Orbach
- Perguntar sobre Freud é como me perguntar o que eu acho de Marx. Freud é muito significativo, porque fala sobre os problemas da mente do indivíduo, do inconsciente. Em coisas específicas, eu não estou de acordo com ele, mas a metodologia e a idéia são fantásticas. Por isso foi tão importante quanto Marx, que falou sobre a natureza econômica.

Folha - Quando a sra. fala sobre o peso dos problemas econômicos, isso significa que no Brasil as pessoas sofrem mais?
Orbach
- No Brasil, vocês têm a maior diferença entre ricos e pobres que em qualquer país do mundo, não é? Não sei se têm mais problemas que em outras partes do mundo, mas devem ter. Como viver com essa divisão? Não ter dinheiro é um grande problema.


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