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LIVROS/LANÇAMENTOS
"A IMPOSSIBILIDADE DO SEXO"
Susie Orbach atendeu a princesa Diana
"Terapia não é resposta para problemas do mundo"
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
É meio injustiça dizer que a psicoterapeuta Susie Orbach, que
veio participar dos simpósios sobre psicanálise na semana passada no Masp, ficou conhecida por
ter atendido ninguém menos que
a princesa Diana de Gales. Na verdade, foi Diana quem chegou até
ela porque Orbach já era famosa
desde os anos 80, quando lançou
seu best seller "Fat Is Not a Feminist Issue" (algo como "A Gordura Não É uma Questão Feminista"), onde falava dos distúrbios
das mulheres com a comida.
No Brasil, ela acaba de lançar,
pela Imago, "A Impossibilidade
do Sexo", que reúne seis casos de
consultório "vividos" por Orbach
-em realidade imaginados pela
terapeuta, embora o leitor só vá
saber disso no final do livro.
A própria Diana a procurou por
sofrer de um distúrbio alimentar,
a bulimia: aquilo que faz as modelos comerem exageradamente e
vomitarem tudo em seguida.
Com Orbach, o método criado
por ela mesma parece funcionar.
Aos 54 anos, em excelente forma e
vaidosa, foi direto ao cabeleireiro
quando chegou a São Paulo -depois de enfrentar horas de avião,
alguém comentou, graciosamente, que a descabelada terapeuta de
lady Di parecia ter passeado de
bugue nas praias de Natal.
Diana foi, naturalmente, a mais
famosa das pacientes de Susie Orbach como psicoterapeuta. Naturalmente, também, nada fala sobre isso. "Nunca. Sou uma terapeuta, não posso falar sobre meus
pacientes", disse Orbach à Folha,
depois de enfrentar a sessão que
domou seu penteado.
Muito cansada por causa da visita-relâmpago (chegou na sexta e
foi embora no domingo), ela concedeu uma pequena entrevista
em que fala de outro tipo de distúrbio alimentar, digamos assim,
que vem causando problemas às
pessoas no mundo e não tem solução pela terapia: a pobreza.
Atualmente, Susie Orbach trata
de psicanálise e políticas sociais
em seu trabalho como professora
visitante da London School of
Economics.
Folha - Todo mundo necessita fazer terapia?
Susie Orbach - Não. Terapia é
maravilhoso, é muito interessante, é outra forma de ver as coisas,
mas não é a resposta para os problemas do mundo. A resposta para os problemas do mundo está
nas causas econômicas. Nós não
resolvemos com a psicanálise o
fato de as pessoas se sentirem mal
consigo mesmas porque são pobres. Isso se resolve fazendo elas
trabalharem.
Folha - Então só pessoas com problemas mentais necessitam de terapia?
Orbach - A psicanálise é maravilhosamente rica, não só se você
tem problemas mentais. Mas
também sou uma crítica da terapia. É muito importante para ouvir qual é o problema na vida das
pessoas, em seu coração, mas não
acredito que todo mundo precise
de terapia. Algumas pessoas procuram porque não conseguem lidar com seus problemas, porque
os negam, fogem deles. Conviver
com os problemas é parte da vida,
faz as pessoas crescerem.
Folha - Por que a psicanálise continua atual, cem anos depois?
Orbach - A psicanálise na verdade está só começando, porque a
gente está apenas começando a
entender a idéia do sujeito humano. Além disso, os estudos da psicanálise sobre o sujeito humano
estão em um processo de mudança. É muito excitante essa relação
entre o sujeito humano e a sociedade de massa, esse problema da
intimidade, por exemplo.
Folha - E Freud, continua atual?
Orbach - Perguntar sobre Freud
é como me perguntar o que eu
acho de Marx. Freud é muito significativo, porque fala sobre os
problemas da mente do indivíduo, do inconsciente. Em coisas
específicas, eu não estou de acordo com ele, mas a metodologia e a
idéia são fantásticas. Por isso foi
tão importante quanto Marx, que
falou sobre a natureza econômica.
Folha - Quando a sra. fala sobre o
peso dos problemas econômicos,
isso significa que no Brasil as pessoas sofrem mais?
Orbach - No Brasil, vocês têm a
maior diferença entre ricos e pobres que em qualquer país do
mundo, não é? Não sei se têm
mais problemas que em outras
partes do mundo, mas devem ter.
Como viver com essa divisão?
Não ter dinheiro é um grande
problema.
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