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DRAUZIO VARELLA
Para retardar o envelhecimento
A juventude eterna é sonho antigo. No passado,
uma pessoa vivia até os 30 anos,
no máximo. No início do século,
nos países desenvolvidos da Europa, a média de vida andava pelos
40; hoje, passa de 80 no Japão. No
entanto, esse salto espetacular da
média de idade não foi acompanhado por aumento da longevidade: que se saiba, desde as cavernas, ninguém chegou aos 130
anos.
A idade média de uma população depende do meio ambiente.
Vem a guerra, e a morte dos jovens reduz a média geral. Vacina,
esgoto, comida barata, educação
e água à vontade aumentam a
média. Com a longevidade, é diferente: a expectativa de esticar os
limites de nossa permanência no
mundo independe de melhorias
ambientais. Para estendermos a
longevidade, existe apenas uma
estratégia: envelhecer mais devagar (o sonho de todos).
A velocidade de envelhecimento
dos órgãos depende de nossos genes. Existe uma doença herdada
geneticamente chamada progeria, na qual um menino de 7 anos
parece mais velho do que o avô.
Poucos deles sobrevivem aos derrames cerebrais, reumatismo e à
decrepitude dos 15 anos. Por outro lado, há famílias que dão inveja: passam dos 90, lúcidos e saudáveis.
Viver muito não é para quem
quer. Por mais que hesitemos em
admitir, é evidente que a natureza é injusta. Uns vêm para ficar
cem anos, outros morrem de câncer antes de ir para a escola.
Como não nos é dado o privilégio de escolhermos os pais, só podemos contar com um caminho
para a fonte da juventude: a sabedoria humana, habilidade por
meio da qual povoamos a Terra e
aprendemos a voar.
Na década de 30, Clive McCay,
da Universidade Cornell, observou que ratos mantidos com dieta
de baixo conteúdo calórico viviam mais tempo. Como em outras descobertas relevantes, a comunidade acadêmica interpretou o achado como simples curiosidade. Afinal, a quem interessa
aumentar a longevidade de ratos?
Nos últimos 20 anos, diversos
trabalhos provaram que McCay
tinha razão: restrição calórica retarda o envelhecimento e aumenta a longevidade do animal. A
mesma afirmação vale para seres
unicelulares, pulga d'água, aranha, caranguejo, peixe, sapo, rato
e, provavelmente, também para
os primatas, nossos parentes mais
próximos.
As conclusões principais desses
estudos sobre o envelhecimento
são as que se seguem:
1) Respeitados os limites da desnutrição, a expectativa máxima
de vida é inversamente proporcional ao número de calorias ingeridas diariamente. Se dividirmos ratos geneticamente iguais
em dois grupos, deixarmos o primeiro comer à vontade e cortarmos 50% das calorias do segundo,
estes viverão muito mais tempo.
2) O exercício físico aumenta a
sobrevida média de uma população, mas não altera o limite de
idade de quem o pratica. Quer dizer o seguinte: se todos andassem
míseros 30 minutos por dia, em
São Paulo, haveria menos ataques cardíacos, diabetes e hipertensão. Como consequência, aumentaria a média de idade dos
paulistanos (em vez de 70 anos,
digamos, passaria para 73), a longevidade, é pena, permaneceria
inalterada.
É lógico que, em termos pessoais, mil vezes morrer de pneumonia aos 90 do que de infarto
aos 40, por isso a atividade física é
fundamental. Mas nem correndo
uma maratona por dia o recorde
de 120 e poucos anos será quebrado na espécie humana.
3) Por si, o grau de adiposidade
não estica ou encurta os limites
da vida. A chave mestra da longevidade é o número de calorias na
dieta.
Ratos portadores de um gene
chamado ob-ob engordam só de
olhar para a comida. Se tomarmos ratos em tudo idênticos a
eles, exceto pela ausência do gene
ob-ob, e alimentarmos os dois
grupos com o mesmo número de
calorias diárias, no final do experimento os portadores de ob-ob
estarão mais obesos. Tem lógica:
o gene ob-ob facilita o acúmulo
de gordura. A presença desta, entretanto, não tem impacto na longevidade: gordo ou magro não
faz diferença, é o número de calorias ingeridas que manda.
4) Embora uma dieta rica em
frutas e verduras seja importantíssima para aumentar a expectativa de vida média da população
e melhorar a qualidade de vida
individual (o que não é pouco),
não há evidência de que algum tipo de alimento, complemento nutricional, medicamento, sal mineral ou vitamina na dose que quiser aumente a longevidade dos
bem-nutridos.
O número de calorias é ditador
absoluto, venham elas de onde
vierem, da gordura ou da cenoura. A diferença é questão de
quantidade: 500 calorias são
meia dúzia de torresmos ou um
saco até a boca de cenoura.
A ciência do século 20 deixou
claro que qualidade de vida se
persegue com dieta rica em frutas
e verduras e parcimônia no consumo de açúcar e gordura. Retardar o envelhecimento para chegar bonito aos 100 anos, no entanto, será privilégio apenas dos
que tiveram sorte com os genes e
ingeriram menos calorias na dieta. Infelizmente. Não adianta ficar revoltado, a natureza é impiedosa.
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