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CRÍTICA
Nuvens sobre a Espanha
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Em 1996, Fernando León de
Aranoa já despontara como
boa surpresa do cinema espanhol
com a mordaz comédia surrealista "Família". Nesta, um homem
solitário, Santiago, presenteava-se, no dia de seu aniversário, com
uma família alugada -na verdade um grupo de atores contratados. Claramente inspirado por
Luis Buñuel (1900-83), Aranoa
ironizava ali a dramaticidade que
permeia a relação entre pessoas
unidas pelo mesmo sangue.
Em "Segunda-Feira ao Sol",
Aranoa constrói outra sátira,
também cruel, mas a comparação
que pode ser feita não é com o
surrealista espanhol e sim com o
engajado britânico Ken Loach.
Estamos na Espanha contemporânea, recém-integrada à "nova" Europa, onde a tal modernidade fez suas vítimas. Numa cidade portuária, um grupo de ex-funcionários de um estaleiro fechado reúne-se todos os dias para
beber e chorar sua desgraça comum -a falta de empregos e de
perspectivas que acompanha a
degradação da sociedade em que
estavam habituados a viver.
O olhar de Aranoa, porém, é um
pouco mais refinado, intimista, e
menos panfletário que o do inglês. Os desempregados têm dissecadas suas fraquezas até revelarem-se tipos infantis e desprotegidos. Há aquele de meia-idade que
tinge o cabelo para candidatar-se
a uma vaga para menores de 30
anos ou o que é sustentado pela
mulher, dá escândalos em público
e só encontra abrigo na compaixão desta. No centro do grupo está Santa, vivido por um Javier
Bardem distante do seu habitual
perfil de galã sexy e algo vulgar
-celebrizado, principalmente,
pelas fitas de Bigas Luna.
Aqui, Bardem é um orgulhoso
excluído que ora desafia a justiça,
que o condena por quebrar uma
luminária, ora leva amigos para
uma farra na casa de milionários,
onde supostamente teria de estar
cuidando da criança da família.
O sucesso de "Segunda-Feira ao
Sol" explica-se pelo fato de retratar as incertezas dos espanhóis
diante das dificuldades de ajustar
o funcionamento da sociedade a
um novo compasso. Enquanto
seu compatriota Pedro Almodóvar pode ser criticado por mostrar
uma Espanha por demais colorida e apolítica, Aranoa oferece o
conflito, a preocupação social.
Longe de serem opostos, ambos
provocam a reflexão sobre as contradições de um mesmo momento histórico, evocado no título do
filme de Aranoa como instante
em que as pessoas celebram o sol
de um novo amanhã ao mesmo
tempo em que se desesperam por
ter tanto tempo livre para assisti-lo, e quase nenhuma esperança.
Segunda-Feira ao Sol
Los Lunes al Sol
Produção: Espanha, 2002
Direção: Fernando León de Aranoa
Com: Javier Bardem, Luis Tosar
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