|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/"OS IRMÃOS GRIMM"
Diretor de "Os 12 Macacos" transforma célebres escritores de fábulas em estelionatários
Gilliam leva seus exageros a mundo sombrio
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Dos filmes de Terry Gilliam
sabemos todos o que esperar: um tanto de expressionismo
capenga, contrastes de cor berrantes, distorções insistentes da
imagem. Não lhe faltam os signos
da arte -ou seja, a intervenção
constante na realidade, impedindo-a de se manifestar-, embora
a arte mesmo costume ser rara.
Não há surpresa, portanto, no
fato de "Os Irmãos Grimm" só
evocar lateralmente os escritores
célebres pelos contos de fadas.
Aqui, os dois irmãos são estelionatários que, numa Alemanha
ocupada por Napoleão e tomada
pela superstição, viviam de tomar
dinheiro das comunas, espantando bruxas e demônios. Os Grimm
do filme são uma espécie de Van
Helsing dos efeitos especiais.
Isso até que o desaparecimento
de meninas numa aldeia os leva à
situação inédita de terem de enfrentar magias e bruxarias reais.
O tema possui uma vantagem
inestimável para Gilliam: às voltas
com florestas sombrias, árvores
que se movem, torres sem entrada, seres encantados, não existe
necessidade de praticar os exageros formais que caracterizam seus
filmes. Eles se integram com certa
naturalidade ao assunto tratado.
Há uma desvantagem também:
Gilliam invade, claramente, um
território de Tim Burton, o que
causa uma comparação sempre
desfavorável ao americano, cujo
gosto duvidoso nos leva à beira do
grotesco e cujo cinismo contrasta
com um Burton que, mesmo pessimista, se encanta de maneira
permanente com o mundo.
Com isso, "Os Irmãos Grimm"
é tremendamente oscilante, que
ora parece se lançar ao thriller de
ação, ora opta pelo elogio do imaginário, ora investe na alegoria.
Embora atire para vários lados, o
mais interessante é mesmo o intracinematográfico, isto é: as demonstrações de habilidade dos
Grimm para lidar com os supostos seres do além equivalem a demonstrações do trabalho de efeitos especiais cinematográficos.
É como se Terry Gilliam abrisse
seu pensamento de cineasta que
acredita mais no maquinário do
que no mundo, mais na trucagem
do que na mágica, mais no artifício do que na realidade. Enfim,
uma espécie de Peter Greenaway
menos pretensioso e mais pop,
dotado de igual sensibilidade para
trabalhar o feio. Mas, como "Os
Irmãos Grimm" é cheio de bruxas
e encantamentos, é na mesma
medida um filme que se deixa ver.
Os Irmãos Grimm
The Brothers Grimm
Direção: Terry Gilliam
Produção: EUA, 2005
Com: Matt Damon, Heath Ledger
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Iguatemi, Shopping D e circuito
Texto Anterior: Cinema/"Eros": Antonioni espana o pó do cinema na abertura de longa de episódios Próximo Texto: "Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais": Cachorro é o destaque do primeiro longa da dupla criada por Nick Park Índice
|