|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bienal começa hoje com elogios de curadores
Entre os pontos negativos, Carolina Grau e Moacir dos Anjos vêem muitas paredes e expectativas frustradas em relação a alguns artistas
A convite da Folha, brasileiro e espanhola visitam a mostra no Ibirapuera e dizem ver mais virtudes do que defeitos
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Estou alucinada", repetiu
dezenas de vezes a curadora espanhola Carolina Grau, durante visita, anteontem, à 27ª Bienal de São Paulo, que é aberta,
hoje, ao público. A convite da
Folha, dois curadores estiveram, por duas horas cada um,
na mostra, para tecer comentários críticos ao que viram.
Ambos fizeram leituras positivas, sendo que um dos destaques ficou por conta do efeito
das residências artísticas na exposição, já que, além dos dez
convidados da curadoria para
viver um tempo no país, vários
outros artistas também criaram obras a partir de visitas por
aqui.
"Estou impressionada com a
quantidade de obras realizadas
para esta Bienal, pelo seu nível
e ainda por não ficarem restritas apenas a cidades já conhecidas, mas abordarem locais como Recife e Acre", afirmou a
curadora, que chegou no país
após visitar a Bienal de Liverpool, que também convidou artistas para realizarem projetos
após uma estada na cidade.
Grau vive em Londres e está em
cartaz em São Paulo com a exposição "Contrabando", na galeria Luisa Strina.
O outro curador convidado
foi Moacir dos Anjos, diretor do
Museu de Arte Moderna de Recife, curador do próximo Panorama do MAM-SP e presente
na cidade em duas exposições:
"Geração da Virada", no Instituto Tomie Ohtake, e "Babel",
individual de Cildo Meireles,
na Estação Pinacoteca.
O primeiro desafio aos curadores foi constatar se o conceito curatorial está de fato presente na mostra. "A visita confirmou tudo que já ouvi do projeto. Há uma integração entre o
conceito, a idéia do como viver
junto e a presença espacial das
obras. Ficou claro ainda que viver junto não se trata apenas de
convivência pacífica mas da
existência de choques também", contou o curador.
"Nos últimos cinco anos, o
mundo passou por grandes
transformações, e isso se reflete muito claramente nesta Bienal. Viver junto tornou-se uma
questão, e é importante que
problemas como a situação entre Israel e Palestina, por exemplo, estejam presentes aqui",
disse Grau, referindo-se às
obras do artista israelense Yael
Bartana.
Um dos pilares conceituais
da mostra, Hélio Oiticica (1937-1980) não tem obras na exposição. Isso não poderia representar uma falha da curadoria? "O
Hélio permeia a Bienal, pois,
desde os anos 60, seu trabalho
foi permitir encontros, e essa
atitude está presente no conceito curatorial e na mostra",
afirmou dos Anjos. "Eu acho
fantástico que ele não esteja,
primeiro porque creio que ele
mesmo teria gostado disso, depois porque há filmes que o
contextualizam e, finalmente,
porque isso deve ter dado mais
liberdade aos demais artistas",
diz Grau.
Sem fronteiras
O fim das representações foi
uma das inovações desta edição. Valeu a pena? Nessa questão, ambos os curadores foram
ainda mais entusiastas com a
curadoria. "Isso representa um
ganho muito importante, pois a
arte não trata de países, além
do que, com isso se confirmou
algo que na prática já existe, ou
seja, os artistas têm uma mobilidade muito grande, produzem
em muitos locais distintos",
afirma a curadora. "Essa mudança deu integridade à mostra", resumiu dos Anjos, que
também elogiou que "a maior
parte dos artistas tem mais de
uma obra no pavilhão, o que é
muito generoso com eles, não
só por uma questão de espaço,
mas por propor situações diferentes para serem observados".
Destaques
Também foi pedido a cada
curador que indicasse cinco
destaques na exposição. O grupo dinamarquês Superflex foi um dos selecionados por dos Anjos, pois
"ele fez a curadoria se voltar para pensar a própria instituição
na qual está inserida". A obra
"Guaraná Power", vetada pela
instituição, acabou sendo incluída de maneira indireta, numa série de desenhos de garrafas pintadas de preto, que fazem referência à censura. Já
entre os escolhidos de Grau, a
brasileira Lucia Koch foi uma
das selecionadas, pois "ela realizou colaborações com vários
artistas, além de discutir o espaço, ambas questões levantadas por essa Bienal".
A maneira de dispor as obras
na mostra não foi unânime entre os curadores. "Há um ponto
muito positivo em relação à
montagem, que foi a comunicação entre as obras dos artistas,
o que permitiu que os trabalhos
entrassem em choque", contou
dos Anjos. Já Grau acredita que
"para uma mostra que aborda o
fim das fronteiras, ainda há
muitas paredes", ponto negativo que a curadora apontou na
mostra.
Críticas
O curador pernambucano fez
duas ressalvas à exposição:
"Conhecendo a potência de alguns artistas, creio que nem todos corresponderam à expectativa, mas em se tratando de
uma experiência de risco, e isso
é importante, a frustração faz
parte da proposta".
A segunda ressalva foi mais
genérica: "A crítica maior não é
a essa Bienal específica, mas a
exposições desse porte, que impossibilitam o visitante médio
a ver todos os trabalhos como
eles merecem. Talvez, depois
de todas as inovações dessa edição, o próximo passo seja o enxugamento da mostra".
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: 27ª Bienal de SP Índice
|