São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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Bienal começa hoje com elogios de curadores

Entre os pontos negativos, Carolina Grau e Moacir dos Anjos vêem muitas paredes e expectativas frustradas em relação a alguns artistas

A convite da Folha, brasileiro e espanhola visitam a mostra no Ibirapuera e dizem ver mais virtudes do que defeitos


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Estou alucinada", repetiu dezenas de vezes a curadora espanhola Carolina Grau, durante visita, anteontem, à 27ª Bienal de São Paulo, que é aberta, hoje, ao público. A convite da Folha, dois curadores estiveram, por duas horas cada um, na mostra, para tecer comentários críticos ao que viram.
Ambos fizeram leituras positivas, sendo que um dos destaques ficou por conta do efeito das residências artísticas na exposição, já que, além dos dez convidados da curadoria para viver um tempo no país, vários outros artistas também criaram obras a partir de visitas por aqui.
"Estou impressionada com a quantidade de obras realizadas para esta Bienal, pelo seu nível e ainda por não ficarem restritas apenas a cidades já conhecidas, mas abordarem locais como Recife e Acre", afirmou a curadora, que chegou no país após visitar a Bienal de Liverpool, que também convidou artistas para realizarem projetos após uma estada na cidade. Grau vive em Londres e está em cartaz em São Paulo com a exposição "Contrabando", na galeria Luisa Strina.
O outro curador convidado foi Moacir dos Anjos, diretor do Museu de Arte Moderna de Recife, curador do próximo Panorama do MAM-SP e presente na cidade em duas exposições: "Geração da Virada", no Instituto Tomie Ohtake, e "Babel", individual de Cildo Meireles, na Estação Pinacoteca.
O primeiro desafio aos curadores foi constatar se o conceito curatorial está de fato presente na mostra. "A visita confirmou tudo que já ouvi do projeto. Há uma integração entre o conceito, a idéia do como viver junto e a presença espacial das obras. Ficou claro ainda que viver junto não se trata apenas de convivência pacífica mas da existência de choques também", contou o curador.
"Nos últimos cinco anos, o mundo passou por grandes transformações, e isso se reflete muito claramente nesta Bienal. Viver junto tornou-se uma questão, e é importante que problemas como a situação entre Israel e Palestina, por exemplo, estejam presentes aqui", disse Grau, referindo-se às obras do artista israelense Yael Bartana.
Um dos pilares conceituais da mostra, Hélio Oiticica (1937-1980) não tem obras na exposição. Isso não poderia representar uma falha da curadoria? "O Hélio permeia a Bienal, pois, desde os anos 60, seu trabalho foi permitir encontros, e essa atitude está presente no conceito curatorial e na mostra", afirmou dos Anjos. "Eu acho fantástico que ele não esteja, primeiro porque creio que ele mesmo teria gostado disso, depois porque há filmes que o contextualizam e, finalmente, porque isso deve ter dado mais liberdade aos demais artistas", diz Grau.

Sem fronteiras
O fim das representações foi uma das inovações desta edição. Valeu a pena? Nessa questão, ambos os curadores foram ainda mais entusiastas com a curadoria. "Isso representa um ganho muito importante, pois a arte não trata de países, além do que, com isso se confirmou algo que na prática já existe, ou seja, os artistas têm uma mobilidade muito grande, produzem em muitos locais distintos", afirma a curadora. "Essa mudança deu integridade à mostra", resumiu dos Anjos, que também elogiou que "a maior parte dos artistas tem mais de uma obra no pavilhão, o que é muito generoso com eles, não só por uma questão de espaço, mas por propor situações diferentes para serem observados".

Destaques
Também foi pedido a cada curador que indicasse cinco destaques na exposição. O grupo dinamarquês Superflex foi um dos selecionados por dos Anjos, pois "ele fez a curadoria se voltar para pensar a própria instituição na qual está inserida". A obra "Guaraná Power", vetada pela instituição, acabou sendo incluída de maneira indireta, numa série de desenhos de garrafas pintadas de preto, que fazem referência à censura. Já entre os escolhidos de Grau, a brasileira Lucia Koch foi uma das selecionadas, pois "ela realizou colaborações com vários artistas, além de discutir o espaço, ambas questões levantadas por essa Bienal".
A maneira de dispor as obras na mostra não foi unânime entre os curadores. "Há um ponto muito positivo em relação à montagem, que foi a comunicação entre as obras dos artistas, o que permitiu que os trabalhos entrassem em choque", contou dos Anjos. Já Grau acredita que "para uma mostra que aborda o fim das fronteiras, ainda há muitas paredes", ponto negativo que a curadora apontou na mostra.

Críticas
O curador pernambucano fez duas ressalvas à exposição: "Conhecendo a potência de alguns artistas, creio que nem todos corresponderam à expectativa, mas em se tratando de uma experiência de risco, e isso é importante, a frustração faz parte da proposta".
A segunda ressalva foi mais genérica: "A crítica maior não é a essa Bienal específica, mas a exposições desse porte, que impossibilitam o visitante médio a ver todos os trabalhos como eles merecem. Talvez, depois de todas as inovações dessa edição, o próximo passo seja o enxugamento da mostra".


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