|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Ensaísta nascido na Rússia era considerado um dos grandes nomes do pensamento liberal do século
Isaiah Berlin morre aos 88 na Inglaterra
da Reportagem Local
O ensaísta Isaiah Berlin, considerado um dos mais importantes
pensadores políticos do século,
morreu anteontem na Inglaterra
aos 88 anos.
O anúncio foi feito na manhã de
ontem na Universidade de Oxford,
da qual Berlin fazia parte do corpo
de professores, onde deu aulas durante mais de 60 anos. Berlin estava doente, mas a causa da morte
não foi revelada.
Conhecido por sua posição anticomunista, Berlin escreveu sobre a
filosofia liberal e o totalitarismo, e
também sobre pensadores do Renascimento, música e literatura
russa.
Sir Isaiah Berlin nasceu em 6 de
junho de 1909 na Rússia, filho de
um comerciante de madeira. Aos
10 anos sua família migrou para a
Inglaterra, onde Berlin estudou e
se graduou em filosofia no Corpus
Christi College, em Oxford. Aos 30
anos já havia se tornado uma figura central nos centros intelectuais
do país.
Começa então a carreira de professor. Interessa-se, no início, pela
filosofia pura.
Abandona esse campo logo depois do fim da Segunda Guerra.
Prefere a história das idéias. Termina por se voltar para a teoria política.
Conferencista visitante em várias
instituições dos Estados Unidos,
Berlin lecionou, entre outras, na
Universidade de Nova York, entre
1966 e 1971.
Foi diretor da Royal Opera House e presidente British Academy.
Traduziu para língua inglesa a
obra de Turgenev, destacou-se como ativista para assuntos relativos
ao povo judeu e foi o primeiro presidente do Wolfson College, em
Oxford.
"Quando digo que sou liberal",
costumava falar Berlin, "é uma
idéia que está ligada à Inglaterra:
julgar as coisas por seus méritos,
ser empírico e manter a crença de
que o mais importante é impedir
que o indivíduo seja intimidado
por um partido, igreja e Estado.
Essas são coisas britânicas".
Violência
Em uma entrevista dada à publicação norte-americana "The New
York Review of Books", em 1992,
Berlin explicou sua trajetória como uma incompatibilidade com o
marxismo, dizendo que escreveu
um livro sobre Karl Marx levado
pelo "espírito do tempo". A Europa da década de 30.
"Eu não pude evitar a influência
da União Soviética, ser afetado pela sua existência. Eu nunca me senti atraído pelo marxismo ou pelo
regime soviético (...) Eu tinha memórias da União Soviética e elas
não eram muito boas (...) Pensei
que jamais escreveria sobre Marx
ou mesmo o leria um dia. Isso porque quando comecei a ler "O Capital", particularmente no início,
eu o achava pouco ilegível (como
Keynes, mas por outras razões)".
Durante toda sua vida e escritos,
dizia combater tudo o que julgava
ser o "autoritarismo".
Declarava odiar a violência, explicando que "desde que vi o assassinato de um policial na primeira revolução russa, adquiri um
profundo desgosto em relação à
violência física, que tem permanecido comigo durante toda a minha
vida. Mas, de qualquer forma, alguém tem que lutar em uma guerra. Eu não poderia me opor a uma
guerra contra Hitler."
O escritor peruano Mario Vargas
Llosa, em um tributo escrito para
Berlin em seu aniversário, em
1994, afirmou que "Isaiah Berlin
defendeu e promoveu a cultura da
liberdade com mais visão, persuasão e brilho do que qualquer outro
pensador contemporâneo, e tem
demonstrado em seus escritos e
em seu exemplo que a paixão pela
liberdade também significa tolerância e compaixão com seus adversários".
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|