São Paulo, sexta, 7 de novembro de 1997.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERSONALIDADE
Ensaísta nascido na Rússia era considerado um dos grandes nomes do pensamento liberal do século
Isaiah Berlin morre aos 88 na Inglaterra

da Reportagem Local

O ensaísta Isaiah Berlin, considerado um dos mais importantes pensadores políticos do século, morreu anteontem na Inglaterra aos 88 anos.
O anúncio foi feito na manhã de ontem na Universidade de Oxford, da qual Berlin fazia parte do corpo de professores, onde deu aulas durante mais de 60 anos. Berlin estava doente, mas a causa da morte não foi revelada.
Conhecido por sua posição anticomunista, Berlin escreveu sobre a filosofia liberal e o totalitarismo, e também sobre pensadores do Renascimento, música e literatura russa.
Sir Isaiah Berlin nasceu em 6 de junho de 1909 na Rússia, filho de um comerciante de madeira. Aos 10 anos sua família migrou para a Inglaterra, onde Berlin estudou e se graduou em filosofia no Corpus Christi College, em Oxford. Aos 30 anos já havia se tornado uma figura central nos centros intelectuais do país.
Começa então a carreira de professor. Interessa-se, no início, pela filosofia pura.
Abandona esse campo logo depois do fim da Segunda Guerra. Prefere a história das idéias. Termina por se voltar para a teoria política.
Conferencista visitante em várias instituições dos Estados Unidos, Berlin lecionou, entre outras, na Universidade de Nova York, entre 1966 e 1971.
Foi diretor da Royal Opera House e presidente British Academy. Traduziu para língua inglesa a obra de Turgenev, destacou-se como ativista para assuntos relativos ao povo judeu e foi o primeiro presidente do Wolfson College, em Oxford.
"Quando digo que sou liberal", costumava falar Berlin, "é uma idéia que está ligada à Inglaterra: julgar as coisas por seus méritos, ser empírico e manter a crença de que o mais importante é impedir que o indivíduo seja intimidado por um partido, igreja e Estado. Essas são coisas britânicas".
Violência
Em uma entrevista dada à publicação norte-americana "The New York Review of Books", em 1992, Berlin explicou sua trajetória como uma incompatibilidade com o marxismo, dizendo que escreveu um livro sobre Karl Marx levado pelo "espírito do tempo". A Europa da década de 30.
"Eu não pude evitar a influência da União Soviética, ser afetado pela sua existência. Eu nunca me senti atraído pelo marxismo ou pelo regime soviético (...) Eu tinha memórias da União Soviética e elas não eram muito boas (...) Pensei que jamais escreveria sobre Marx ou mesmo o leria um dia. Isso porque quando comecei a ler "O Capital", particularmente no início, eu o achava pouco ilegível (como Keynes, mas por outras razões)".
Durante toda sua vida e escritos, dizia combater tudo o que julgava ser o "autoritarismo".
Declarava odiar a violência, explicando que "desde que vi o assassinato de um policial na primeira revolução russa, adquiri um profundo desgosto em relação à violência física, que tem permanecido comigo durante toda a minha vida. Mas, de qualquer forma, alguém tem que lutar em uma guerra. Eu não poderia me opor a uma guerra contra Hitler."
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, em um tributo escrito para Berlin em seu aniversário, em 1994, afirmou que "Isaiah Berlin defendeu e promoveu a cultura da liberdade com mais visão, persuasão e brilho do que qualquer outro pensador contemporâneo, e tem demonstrado em seus escritos e em seu exemplo que a paixão pela liberdade também significa tolerância e compaixão com seus adversários".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.