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TELEVISÃO
Ministro que fez lei de controle à programação sai em dezembro e diz à Folha que estratégia do governo deve mudar
Gregori deixa Justiça sem solução para TV
LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Depois de tentar por diálogo e
imposição um controle à programação da TV, José Gregori deixa
o Ministério da Justiça no próximo mês reconhecendo que teve
pouco êxito no objetivo de melhorar a qualidade da televisão.
O futuro embaixador do Brasil
em Portugal, em entrevista exclusiva à Folha, diz acreditar hoje
que o melhor caminho para elevar a qualidade da TV talvez não
seja o controle à programação,
idéia que vinha defendendo desde
1998, quando era secretário nacional dos Direitos Humanos.
O novo ministro, em sua opinião, deveria melhorar a exigência do telespectador, já que "tudo
gira em torno do Ibope".
Aos 70, Gregori diz que "fica de
cabelo arrepiado" ao ver TV, que
os programas estão em uma "fase
escatológica", em que "palavrão
virou vírgula" e "tem sempre que
aparecer o banheiro". Seguem os
principais trechos da entrevista.
Folha - Antes de ser ministro, o sr.
negociou com as TVs a auto-regulamentação da programação. Sem
sucesso, já no ministério, assinou a
portaria impondo o controle. As
TVs barraram a lei na Justiça. Em
dezembro, deixa o ministério sem
solução para a questão. Ainda acredita em controle à programação?
José Gregori - É difícil. Conversando com as TVs, vi que a concorrência é feroz, e tudo gira em
torno do Ibope. Minha luta foi
muito isolada. É difícil se contrapor à idéia de que só vê (TV)
quem quer. Mas o que ficou foi
um pouco mais de preocupação
com o horário. A grande liberalidade ficou para depois das 23h.
Folha - O sr. dá por encerrada sua
participação nessa discussão?
Gregori - Ainda existe a decisão
judicial da portaria, dada como liminar. Mas acho que o novo ministro deveria atacar por outro
prisma. O problema já não é mais
com as TVs, porque, enquanto estiverem atadas ao Ibope, não podem se modificar. O caminho é
saber como criar um tipo de público com mais critério.
Folha - E que caminho o novo ministro deve seguir?
Gregori - Tem que ser uma luta
conjugada entre os ministros da
Educação e da Cultura. É o que eu
pretendia fazer. É tentar injetar o
mínimo de exigência à audiência
e fazer com que a sociedade se interesse em participar desse esforço. Quando mantive o diálogo
pouco frutífero com as TVs, só
havia mais um outro grupo interessado, do qual fez parte a prefeita de São Paulo (a ONG TVer,
fundada por Marta Suplicy).
Folha - Em outubro de 2000, um
mês depois da assinatura da portaria, Elizabeth Sussekind (secretária
nacional de Justiça) disse à Folha
que o ministério faria um seminário internacional para discutir uma
forma de controle à programação.
Por que o evento não ocorreu?
Gregori - Está no horizonte. Se
eu continuasse aqui, faria uma
conversa com profissionais da
TV, educadores, psicólogos, pais,
um grupo que pudesse imaginar
o congresso. Mas acho que a couraça do Ibope é blindada. Um mês
atrás estive com o padre Marcelo
e perguntei: "Você, que é uma estrela de TV, que convive com outras grandes estrelas, sabe por que
o nível da TV é tão baixo?". E ele
reconheceu que o problema é do
Ibope. Acho que, no fundo, é um
problema de educação...
Folha - Mas o que impediu a realização desse seminário, programado para janeiro de 2001?
Gregori - Primeiro houve a questão da portaria, que foi cassada
em dezembro. Em janeiro e fevereiro, tentamos resolver a questão
no plano jurídico. Depois, analisando a questão com mais profundidade, percebi que, em vez de
ir por aqui, vou por ali. Mas o que
é o ali? Estava tentando descobrir.
Folha - Em sua opinião, por que o
conselho de comunicação, cuja
criação é prevista na Constituição
de 88, que poderia auxiliar na
questão do conteúdo da programação das TVs, nunca sai do papel?
Gregori - Porque ficou a cargo
do Congresso. E não é fácil para
um Congresso polirrepresentativo como o nosso ter consenso numa questão como essa.
Folha - Não seria pressão das TVs,
para evitar uma possibilidade de
interferência na programação?
Gregori - Tem de tudo nesse coquetel. Mas não é só por causa das
emissoras. É também pela dificuldade de formatar. Se fosse atribuída ao Executivo, eu teria feito.
Folha - O sr. tem tempo de ver TV?
Gregori - Vejo quase todos os
dias canais de notícia e dou uma
geral "profissional" em outros canais para ver se melhorou.
Folha - E melhorou?
Gregori - Não, piorou. Não sei se
é porque vejo tarde, mas quase
sempre fico com o cabelo arrepiado. Estamos numa fase escatológica, em que as pessoas precisam
se referir a certas partes do corpo
com o nome mais chulo possível.
Por imitação do cinema americano, agora todo programa tem que
ter o selo do realismo, de aparecer
o banheiro, de preferência a bacia.
E palavrão virou vírgula.
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