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LANÇAMENTOS/DVD
"TABU"
Murnau preserva cinema como enciclopédia do mundo
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando o prodígio alemão
F.W. Murnau, na época um
dos diretores mais bem pagos de
Hollywood, morreu em um misterioso acidente de carro às vésperas da première mundial de "Tabu", a imprensa americana passou a imprimir a lenda. Boatos
davam conta de uma maldição: os
problemas de Murnau e de sua filmagem no Taiti teriam começado
depois de o diretor, ainda que dos
mais supersticiosos, ter quebrado
tabus locais ao invadir os lugares
sagrados dos nativos.
A história de "Tabu" (1931)
principiou com uma conversa entre Murnau e David Flaherty, assistente e irmão do papa do documentarismo clássico Robert Flaherty. Murnau comprara um iate,
decidido a passar férias em Bali,
mas acabou convencido a se
aventurar em um filme no Taiti
com os irmãos Flaherty. E a financiá-lo com o próprio capital.
Os problemas começaram por
aí: quanto mais pobre Murnau ficava, quanto mais gastava na conturbada produção, mais autoritário se revelava, a ponto de levar
Robert Flaherty a descrevê-lo como a encarnação do fanatismo
germânico -isso, em tempos de
ascensão hitlerista.
Em favor de Murnau, os historiadores costumam salientar que
Flaherty, além de gastador, era
beberrão. O fato é que a relação se
desgastou a tal ponto que Murnau
acabou por submeter Flaherty, ao
final das filmagens, a um contrato
em que este se comprometia a
não falar mal do filme publicamente. A relação de poder entre
os dois diretores era movida, no
fundo, por uma divergência de
concepção.
Flaherty estava mais interessado nas condições sociais dos nativos. Seu roteiro original centrava-se no comércio de pérolas e na
forma como os chineses exploravam a mão-de-obra dos nativos.
Murnau, que desembarcara na
Polinésia cheio de livros de Stevenson, Conrad e Melville, estava
mais interessado na pureza perdida daqueles nativos aculturados.
Sua visão das coisas era, para Flaherty, demasiado romantizada e
artificial.
Mas o fato é que "Tabu" acabou
por se consagrar como um dos últimos filmes mudos a fazer sucesso na era do cinema falado. Talvez
por ser a expressão dessa inocência perdida, por preservar um
ideal caro ao primeiro cinema e
ao próprio documentarismo de
Flaherty, o ideal do cinema como
enciclopédia do mundo.
Com relação aos extras, além de
cenas excluídas do filme, acompanhadas de comentários sobre a
produção, o DVD (duplo) traz
um pequeno documentário sobre
a incrível história de Reri, a jovem
taitiana que protagoniza o filme e
cuja inocência foi também ela
perdida.
Depois de "Tabu", Reri tornou-se, como bailarina, atração da
Broadway e dos palcos do mundo
inteiro antes de se meter num beco sem saída na Polônia.
Tabu
Tabu: A Story of the South Seas
Direção: F.W. Murnau
Produção: EUA, 1931
Com: Matahi Hitu, Anna Chevalier, Jean Jules
Quanto: R$ 40, em média
Distribuidora: Continental
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