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ARTES PLÁSTICAS
Exposição no Itaú Cultural reúne concretistas e tropicalismo
Mistura conceitual constrói mostra sobre arte brasileira
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mistura e hibridismo, termo da
gramática que significa o uso de
línguas distintas para a construção de uma palavra, são as marcas
que delimitam a produção na cultura brasileira, segundo "Tudo É
Brasil", mostra que será aberta
amanhã, no Itaú Cultural.
Com curadoria de Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial,
no Rio, onde a exposição esteve
em cartaz, a mostra traça um panorama que, apesar de um conceito nada inédito para tratar do
Brasil, apresenta momentos históricos importantes para a compreensão desse fenômeno e traz
vários artistas pouco conhecidos
no circuito que trata dessa temática, evitando os renomados Hélio
Oiticica e Lygia Clark.
"Meu objetivo foi mapear um tipo de formação da linguagem
brasileira, e não discutir identidade. Procurei não ser enciclopédico e optei expor artistas pouco
vistos e ainda revelar outros",
afirma Cavalcanti.
A mostra usa dois momentos
como fundantes desse tipo de
criação, marcada pela mistura e o
hibridismo: a produção dos artistas concretos, especialmente os
paulistas, e as obras neoconcretas,
de artistas como Ferreira Gullar e
Lygia Pape, e sua vertente musical, o tropicalismo. Com isso, a
curadoria opta por não tratar da
Antropofagia, de Oswald de Andrade, também fundamental para
a idéia de mistura. "Em última
análise, a Antropofagia é devoradora, mas baseada num sistema
binário do "eu gosto, eu engulo".
Acredito que é só nos anos 70 que
a mistura fica mais complexa."
É pelos concretistas Geraldo de
Barros (1923-98) e Waldemar
Cordeiro (1925-73) que a mostra
tem início, no 1º andar da instituição. "Cordeiro, com "Popcreto
para Popcrítico" [64] é um artista
fundador do hibridismo, ao mesclar o pop, que é a banalização do
mundo, ao concreto, mais racional, platônico", diz o curador.
Oito obras dos anos 50 de Gullar
dão início a um percurso que o
curador vai reforçar na exposição:
o uso da palavra. Tema caro à geração neoconcreta, a participação
do espectador tem destaque com
"Roda dos Prazeres" (68), de Pape, com montagem que permite
interação: bacias com líquidos em
vários cores, que podem ser provados pelos visitantes.
Um segmento especial é dedicado à bandeira brasileira, com um
dos trabalhos mais fortes da mostra: a obsessão de Jorge Fonseca
na procura do irmão, colando
imagens dele à bandeira, de quem
havia sido separado e cujo trabalho acabou unindo-os novamente, há quatro anos. "Quando se fala tanto em arte e vida, aqui no
Brasil ela ganha uma verdade alucinante", diz Cavalcanti.
A mostra segue no 1º subsolo
com um núcleo poético, que traz
obras de poetas concretos paulistas, de Augusto de Campos a Arnaldo Antunes, e ainda trabalhos
que usam a palavra como componente importante, caso de Lenora
de Barros, em "Brincadeira Albidum" (2000), que se utiliza da voz.
É nesse pavimento que o curador
aponta a importância do tropicalismo como outro movimento
fundador do hibridismo.
Finalmente, no 2º piso, Cavalcanti aponta não só na produção
de artistas contemporâneos os
elementos chaves da exposição,
como em trabalhos de José Paulo,
de Pernambuco, e Felipe Barbosa,
do Rio, mas também em áreas limítrofes como o artesanato. "A
idéia é mostrar que o hibridismo
existe aqui tanto em obras de artistas eruditos como na produção
de artesãos do Pantanal, que nunca ouviram falar de Picasso."
Um ciclo de cinema, com clássicos como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, e o
lançamento de um livro completam a exposição.
TUDO É BRASIL. Onde: Itaú Cultural (av.
Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/3268-1776). Quando: abertura amanhã, às
19h30 (para convidados); de ter. a sex.,
das 10h às 21h, sáb. e dom., das 10h às
19h; até 6/2/2005. Quanto: grátis.
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