São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição no Itaú Cultural reúne concretistas e tropicalismo

Mistura conceitual constrói mostra sobre arte brasileira

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mistura e hibridismo, termo da gramática que significa o uso de línguas distintas para a construção de uma palavra, são as marcas que delimitam a produção na cultura brasileira, segundo "Tudo É Brasil", mostra que será aberta amanhã, no Itaú Cultural.
Com curadoria de Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial, no Rio, onde a exposição esteve em cartaz, a mostra traça um panorama que, apesar de um conceito nada inédito para tratar do Brasil, apresenta momentos históricos importantes para a compreensão desse fenômeno e traz vários artistas pouco conhecidos no circuito que trata dessa temática, evitando os renomados Hélio Oiticica e Lygia Clark.
"Meu objetivo foi mapear um tipo de formação da linguagem brasileira, e não discutir identidade. Procurei não ser enciclopédico e optei expor artistas pouco vistos e ainda revelar outros", afirma Cavalcanti.
A mostra usa dois momentos como fundantes desse tipo de criação, marcada pela mistura e o hibridismo: a produção dos artistas concretos, especialmente os paulistas, e as obras neoconcretas, de artistas como Ferreira Gullar e Lygia Pape, e sua vertente musical, o tropicalismo. Com isso, a curadoria opta por não tratar da Antropofagia, de Oswald de Andrade, também fundamental para a idéia de mistura. "Em última análise, a Antropofagia é devoradora, mas baseada num sistema binário do "eu gosto, eu engulo". Acredito que é só nos anos 70 que a mistura fica mais complexa."
É pelos concretistas Geraldo de Barros (1923-98) e Waldemar Cordeiro (1925-73) que a mostra tem início, no 1º andar da instituição. "Cordeiro, com "Popcreto para Popcrítico" [64] é um artista fundador do hibridismo, ao mesclar o pop, que é a banalização do mundo, ao concreto, mais racional, platônico", diz o curador.
Oito obras dos anos 50 de Gullar dão início a um percurso que o curador vai reforçar na exposição: o uso da palavra. Tema caro à geração neoconcreta, a participação do espectador tem destaque com "Roda dos Prazeres" (68), de Pape, com montagem que permite interação: bacias com líquidos em vários cores, que podem ser provados pelos visitantes.
Um segmento especial é dedicado à bandeira brasileira, com um dos trabalhos mais fortes da mostra: a obsessão de Jorge Fonseca na procura do irmão, colando imagens dele à bandeira, de quem havia sido separado e cujo trabalho acabou unindo-os novamente, há quatro anos. "Quando se fala tanto em arte e vida, aqui no Brasil ela ganha uma verdade alucinante", diz Cavalcanti.
A mostra segue no 1º subsolo com um núcleo poético, que traz obras de poetas concretos paulistas, de Augusto de Campos a Arnaldo Antunes, e ainda trabalhos que usam a palavra como componente importante, caso de Lenora de Barros, em "Brincadeira Albidum" (2000), que se utiliza da voz. É nesse pavimento que o curador aponta a importância do tropicalismo como outro movimento fundador do hibridismo.
Finalmente, no 2º piso, Cavalcanti aponta não só na produção de artistas contemporâneos os elementos chaves da exposição, como em trabalhos de José Paulo, de Pernambuco, e Felipe Barbosa, do Rio, mas também em áreas limítrofes como o artesanato. "A idéia é mostrar que o hibridismo existe aqui tanto em obras de artistas eruditos como na produção de artesãos do Pantanal, que nunca ouviram falar de Picasso."
Um ciclo de cinema, com clássicos como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, e o lançamento de um livro completam a exposição.


TUDO É BRASIL. Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/3268-1776). Quando: abertura amanhã, às 19h30 (para convidados); de ter. a sex., das 10h às 21h, sáb. e dom., das 10h às 19h; até 6/2/2005. Quanto: grátis.


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