Prestigiada no circuito indie e de visual andrógino, a dupla Montage lança seu 1º CD

Danilo Verpa/Folha Imagem

Leco Jucá e Daniel Peixoto, no clube Vegas, em São Paulo

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Na música pop, performance é tudo. Imagem importa. Que o digam David Bowie, Boy George, T. Rex e, bem, Marilyn Manson. No Brasil, essa estética andrógina e de excessos é o que movimenta a banda Montage.
Formada pelos cearenses Daniel Peixoto, 23 anos, e Leco Jucá, 32, a dupla (finalmente) lança seu aguardado disco de estréia, "I Trust My Dealer", pelo selo Segundo Mundo.
Basta uma passada de olho no encarte do álbum para encontrar pistas do clima construído pelo álbum. São canções que trazem títulos como "Hi Oprah!", "Money, Success, Fame, Glamour", "Ode to My Pills (Benflogin)" e "Pedro Almodovar & Bento 16".
Citações a personalidades, como a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, referências ao glamour e à fama permeiam a temática do Montage e de suas músicas moldadas a partir de batidas eletrônicas fortes, de espírito roqueiro.
Ao conhecer o vocalista Daniel Peixoto e sua incansável performance ao vivo (joga-se no chão, pula e corre o tempo todo; sente-se bem vestido tanto como uma diva ou como um punk retrô), esse universo torna-se um pouco mais claro. Criado no Crato [na região do Cariri, a 533 km de Fortaleza], Peixoto é um showman nato.
"Se dissesse que não, estaria mentindo", responde, sobre se sempre desejou ser famoso. "Desde criança sabia que queria ser artista. Cantava em coral de igreja, fiz curso de teatro na escola. Sempre fui popular com as outras crianças por estar envolvido com essas coisas. Então não teve outro caminho. Por isso tem gente que acha que eu sou meio parasita, que queria apenas ser famoso", brinca.
Daniel Peixoto e o Montage ainda não são famosos, mas são nomes bem conhecidos no circuito independente. A dupla já tocou em praticamente todos os festivais do país (estava escalada para o Tim Festival, mas por causa do mau tempo no Rio, o palco em que tocariam foi cancelado), e se apresenta em mais um, o Groselha Fuzz, em Ribeirão Preto, no sábado.
Já foram citados no site do britânico "Observer" -um jornalista do veículo elogiou um show da dupla em São Paulo e a performance andrógina e exagerada de Peixoto.
"A performance é algo espontâneo. Já compararam com outros artistas, como Iggy Pop, Madonna, David Bowie. Até com a Joelma, do Calypso." E... "Acho ela incrível. Canta e dança sem perder o pique."
Muito do que faz no palco Peixoto aprendeu na TV e na passarela. Entre 1999 e 2002, foi modelo (desfilou e estrelou comerciais) e apresentador na TV União, emissora cearense, no "programa de perfis" "Tantos Talentos". "Tinha amigos estilistas que me convidavam para desfiles. Mas gosto muito mais de estar no universo da moda, de todo o conceito que envolve, do que de trabalhar como modelo", conta.
"Quando começamos com os shows, essa coisa da performance não estava formada", lembra. "Isso veio muito mais das pessoas observarem do que de qualquer planejamento que tínhamos. Com o tempo percebemos que era uma forma de expressão tão forte quanto a música. E passei a me preocupar com o visual, não só no palco, mas nos vídeos, nas fotos."
"Penso o Montage como um projeto de arte total: não é só música -é visual, é performance, é moda, é estilo", opina o antropólogo Hermano Vianna. "Brian Eno declarou recentemente, pensando no início de sua carreira: "Eu quero fazer arte, e se isso acontecer no contexto da música pop, tudo bem". Acho que o mesmo acontece com o Montage: é um projeto artístico que reprocessa muitas informações, inclusive música pop, dentro da tradição mais performática da música pop."
O disco "I Trust My Dealer" "ficou pronto duas vezes", diz Peixoto. "Começamos a gravá-lo quando nos mudamos para São Paulo, em março de 2006. Ficou pronto em outubro, mas o guitarrista saiu e tivemos de tirar cinco músicas que eram dele. Regravamos o álbum e ele ficou pronto agora", conta. "Mas nunca precisamos de um disco. Ele tem apenas essa função de cartão de visitas."
E, finalmente, Daniel Peixoto e o Montage já têm o seu.


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