São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

"Não sou o tipo de filho complexado"

Pedro Neschling, filho da atriz Lucélia Santos e do maestro John Neschling, grava o seriado "Aline" e estreia como diretor

Fotos Leticia Moreira/Folhapress
Pedro Neschling em um karaokê de SP

Pedro Santos
Neschling, 28, não tem dúvida: "Seria burrice da minha parte renegar uma história familiar tão bonita". "Sou superorgulhoso de ser o filho de quem eu sou, mas estou construindo aos poucos o meu espaço." O ator, diretor e escritor é filho único da atriz Lucélia Santos e do maestro John Neschling.

Na Choperia Liberdade, um tradicional karaokê no bairro japonês de SP, o ator senta no balcão, de jeans rasgado, coturnos pretos, camiseta de manga comprida e um colar com várias chaves penduradas. Pede um chope. A atriz Mariana Lima se aproxima. "Ensaiando!", grita o diretor Mauro Farias. Começa assim mais uma tarde de gravações da segunda temporada do seriado jovem "Aline", da TV Globo, que vai ao ar em fevereiro. Nela, Pedro vive o xará Pedro, um dos dois rapazes que compartilham o amor de Aline.

 


"Sou um garoto começando a vida, minha carreira. É normal que me associem aos meus pais. Não sou o tipo de filho complexado", diz à repórter Lígia Mesquita.

 


O ator estudou teatro na Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio, e estreou nos palcos em 2001. Três anos depois, fazia sua primeira novela, "Da Cor do Pecado". Contrato assinado com a Globo, participou, depois, de "A Lua Me Disse", "Páginas da Vida" e "Desejo Proibido". "Quando começou a pintar a vontade de atuar, fiquei assustado. Eu sei a dificuldade que é ser ator no Brasil, tive uma escola em casa. Mas foi mais forte do que eu."

 


Ainda estudante do segundo grau, "resolvi ser rebelde". No seu caso, rebeldia era prestar vestibular para... administração. "Mas vi que era demais, com pai maestro e mãe atriz, escolher um caminho tão oposto." Preferiu passar um ano em Londres. Na volta, se matriculou na faculdade de cinema e fez seu primeiro curta de terror: "Vou Zoar até Morrer".

 


Pedro vai até o monitor do diretor Mauro Farias checar o seu desempenho nas cenas já gravadas.

 


A vontade de trabalhar com cinema surgiu quando, adolescente, foi ver o filme de terror "Pânico". "Depois disso as referências foram amadurecendo, graças a Deus! (risos). Adoraria poder dizer que foi com o "O Poderoso Chefão"."

 


"Ficou incrível?", pergunta ao diretor. "Vamos correr para eu poder ir embora, pessoal. Tenho que pegar minha avó na capoeira às 17h! (risos)", brinca com o câmera. O diretor pede para ele dar um gole maior no copo de chope. "Ih, você não é profissional [da bebida]. Bebeu só esse tantinho?", diz uma pessoa da produção.

 


Em setembro, o ator estreou como diretor teatral com "Estragaram Todos Os Meus Sonhos, Seus Cães Miseráveis!", no Sesc Copacabana, no Rio. "Ensaiamos só dois meses, mas deu tudo certo!" Sua experiência anterior havia sido como codiretor de "A Forma das Coisas", ao lado de Guilherme Leme.

 


"Gosto muito da direção, de ter o contato com o ator sem a pressão de ser o ator. Acho legal a troca, você dá seu ponto de vista para a história, coloca sua linguagem estética. Já ser ator é muito complicado", diz ele, que planeja um dia dirigir um longa. Antes disso, integrará o elenco do filme "Jardim Perfumado", de Johnny Araújo, a ser rodado em 2011.

 


Escrever é uma das coisas de que Pedro mais gosta. Começou "fazendo poesias ridículas pras menininhas do colégio" e, recentemente, finalizou sua segunda peça, "Como Nossos Pais". "É uma tragédia urbana sobre paternidade. Não tem absolutamente nada a ver comigo. Não é uma peça biográfica." O ator escreveu um papel para ele mesmo na trama. Para produzir a montagem, conta com a ajuda da mãe.

Essa não será a primeira vez que os dois trabalham juntos. Quando tinha 18 anos, pediu para acompanhar Lucélia na viagem que ela fez ao Timor Leste para produzir um documentário.

 


"Fiz assistência de produção, direção, de tudo um pouco. Não estava lá como o filho da Lucélia. Foi uma viagem incrível que me mudou como pessoa."

De volta ao Brasil, mostrou à mãe suas ideias de roteiro e ela o chamou para a montagem de "Timor Lorosae - O Massacre Que o Mundo Não Viu".

 


Nesta segunda temporada de "Aline", Lucélia faz uma participação como mãe da personagem do filho. "Quando comecei, ela me dava muitas dicas. Hoje é tão babona que fica difícil fazer uma crítica que não seja: "Ai, meu filho é lindo!" (risos)." "Só fico de saco cheio quando alguém, nessa altura do campeonato, fala: "Como é ser filho da Lucélia?"."

 


Do pai, o antigo maestro da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de SP), diz ter herdado "a postura". "Ele é muito focado em fazer o que acredita e com qualidade. Puxei a disciplina, a seriedade dele." A escolha da carreira artística, diz, foi bem recebida por Neschling. "Mas acho que ele preferia que eu tivesse feito economia."

 


Pedro hoje mora sozinho, no Rio, e namora a atriz Vitória Frate. Durante três anos foi casado com a cantora Luiza Possi, filha de Zizi Possi. "Quero muito casar de novo. Sou canceriano."

 


Neste ano, ele completa dez anos de carreira artística. "Tô honrando meus cabelos brancos. E olha que eu tenho muito, tá barra pesada", fala, enquanto aguarda o carro que o levará para as gravações externas da série, em uma rua próxima do karaokê. "Minha primeira década de trabalho foi muito feliz e realizada. Espero que continue fluindo assim."


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: McCartney canta hoje em Porto Alegre para 50 mil
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.