São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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Dilma Rousseff ainda guarda o sentimento do "custe o que custar", diz a atriz

DO RIO

Para Fernanda Torres, a eleição de uma mulher para a Presidência da República diz menos a respeito do país do que a escolha de uma militante da luta armada. "É um traço muito mais marcante nela do que a sua feminilidade", diz. (MB)

 

Folha - A última eleição trouxe alguma lição de moral?
Fernanda Torres
- A moral varia conforme as pesquisas em uma eleição.

E quanto à escolha de uma mulher para presidente?
Você sabe que eu acho menos surpreendente ter uma mulher na Presidência do que alguém que já fez parte da luta armada e foi torturada. Talvez isso fale mais sobre o que mudou no Brasil.
Eu acredito que para parte da sociedade não importa o fato de um presidente ser uma mulher ou um homem. Muitos países foram liderados por mulheres recentemente.
A Dilma [Rousseff] foi muito obstinada, ela guarda aquele sentimento do custe o que custar da militante, é um traço muito mais marcante nela do que a feminilidade.
Nas regiões mais conservadoras, ela foi apresentada como a mulher do Lula. Existe uma tradição no Brasil de se votar na mulher do poderoso como se fosse nele. O Joaquim Roriz tentou fazer isso abertamente, então não é tão surpreendente assim.

O que explica a recorrente menção a Deus numa campanha com temática teoricamente progressista?
Atualmente tudo é medido por estatísticas e pesquisas. Isso acontece na política, na medicina, na cultura, é o "ao gosto do freguês". Uma parte do comprometimento religioso veio como resposta ao que apontavam as pesquisas de opinião.
Mas não sei se, caso houvesse um plebiscito, como sugeriu a Marina [Silva], a população votaria a favor do aborto, desconfio que não. Ninguém acha justo prender uma mulher que fez um aborto no desespero, mas legalizá-lo é outra história.

O tema foi usado de forma demagógica pelos candidatos?
Sim, a demagogia é um dos lados nocivos e inevitáveis de uma eleição. A Igreja Católica e as novas igrejas de tantas correntes que eu nem entendo têm uma força imensa no Brasil e, como presidente ou candidato, não se pode ignorá-las.
Esse paradoxo entre viver em uma sociedade moderna e ainda sofrer com questões que vem lá do arcaico não é privilégio do Brasil.

A eleição do palhaço Tiririca foi uma resposta do eleitor?
Foi apenas uma piada niilista do eleitor, que vai se voltar contra ele mesmo.


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