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Dilma Rousseff ainda guarda o sentimento do "custe o que custar", diz a atriz
DO RIO
Para Fernanda Torres, a
eleição de uma mulher para a
Presidência da República diz
menos a respeito do país do
que a escolha de uma militante da luta armada. "É um
traço muito mais marcante
nela do que a sua feminilidade", diz.
(MB)
Folha - A última eleição trouxe alguma lição de moral?
Fernanda Torres - A moral varia conforme as pesquisas em
uma eleição.
E quanto à escolha de uma
mulher para presidente?
Você sabe que eu acho menos surpreendente ter uma
mulher na Presidência do
que alguém que já fez parte
da luta armada e foi torturada. Talvez isso fale mais sobre o que mudou no Brasil.
Eu acredito que para parte
da sociedade não importa
o fato de um presidente
ser uma mulher ou um homem. Muitos países foram
liderados por mulheres
recentemente.
A Dilma [Rousseff] foi muito obstinada, ela guarda
aquele sentimento do custe o
que custar da militante, é um
traço muito mais marcante
nela do que a feminilidade.
Nas regiões mais conservadoras, ela foi apresentada
como a mulher do Lula. Existe uma tradição no Brasil de
se votar na mulher do poderoso como se fosse nele. O
Joaquim Roriz tentou fazer isso abertamente, então não é
tão surpreendente assim.
O que explica a recorrente
menção a Deus numa campanha com temática teoricamente progressista?
Atualmente tudo é medido
por estatísticas e pesquisas.
Isso acontece na política, na
medicina, na cultura, é o "ao
gosto do freguês". Uma parte
do comprometimento religioso veio como resposta ao
que apontavam as pesquisas
de opinião.
Mas não sei se, caso houvesse um plebiscito, como
sugeriu a Marina [Silva], a
população votaria a favor do
aborto, desconfio que não.
Ninguém acha justo prender
uma mulher que fez um aborto no desespero, mas legalizá-lo é outra história.
O tema foi usado de forma demagógica pelos candidatos?
Sim, a demagogia é um
dos lados nocivos e inevitáveis de uma eleição. A Igreja
Católica e as novas igrejas de
tantas correntes que eu nem
entendo têm uma força
imensa no Brasil e, como presidente ou candidato, não se
pode ignorá-las.
Esse paradoxo entre viver
em uma sociedade moderna
e ainda sofrer com questões
que vem lá do arcaico não é
privilégio do Brasil.
A eleição do palhaço Tiririca
foi uma resposta do eleitor?
Foi apenas uma piada niilista do eleitor, que vai se voltar contra ele mesmo.
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