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EXPOSIÇÃO
Mostra "A África por Ela Mesma" abre hoje em São Paulo
Pinacoteca do Parque revela a história da fotografia negra
ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha
A Pinacoteca do Parque inaugura hoje a mostra "A África por Ela
Mesma", com cerca de 400 obras,
que conta a história da participação do negro na fotografia, de 1840
até os dias de hoje.
Serão apresentados registros de
37 fotógrafos e de agências oficiais
da África do Sul, Mali, Serra Leoa,
Senegal, Gana, Madagascar, Nigéria, Quênia, Angola e Etiópia.
Inclui obras da diáspora negra na
França, Cuba, Canadá, EUA e Brasil, com 13 artistas da Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas.
O projeto é o resultado da parceria entre a Pinacoteca e a editora
francesa Revue Noire, a Maison
Européene de la Photographie e a
South African Gallery.
A mostra será acompanhada pelo lançamento de um livro, em
português, com textos e mais de
450 fotos.
Leia a seguir entrevista do editor-chefe da Revue Noire, Simon Njami, 36, que participou da elaboração do livro.
Folha - No contexto da sociedade
atual e diante da multiplicidade racial, qual é a importância da fotografia tirada pelos negros?
Simon Njami - Sua importância é
fundamental. A partir delas pudemos recuperar a nossa própria alma. Durante muito tempo, ficou
gravado no imaginário popular as
imagens dos negros calcadas nos
estudos etnográficos, antropológicos e coloniais.
Chegou-se ao ponto de fotografar arquétipos, como se os colonizadores quisessem dizer, "olha,
eles são selvagens, usam ossos no
nariz e nas orelhas".
Folha - Isso não seria um fato recorrente da missão civilizadora?
Njami - Sim, mas quero dizer que
essas fotos definem as fronteiras
entre o colonizador e o colonizado,
atingindo o ápice na fotografia antropométrica para especificar a
pessoa e tipos de conduta. Os momentos críticos da história usaram
esse tipo, como nos anos 40, especificando os judeus perseguidos.
Folha - E o apartheid?
Njami - O sistema de segregação
racial recolheu grande parte de fotos, que retratavam nossa história.
O fotógrafo Santu Mofokeng está
recuperando esses trabalhos, tornando possível a reabilitação da
nossa imagem.
Folha- Na mostra e no livro, há
muitos fotógrafos jovens. É uma
tendência?
Njami - A fotografia africana teve
um grande vácuo até os anos 80. A
partir daquela época, foi realizado
um trabalho de descoberta e promoção. A exposição mostra bem
isso: são os jovens se descobrindo e
dando continuidade à descoberta
de seus ancestrais.
Folha - Esse fato está ligado à
tentativa de autodefinição de fotógrafos como Ajamu e Rotimi?
Njami - Não tentativa, mas necessidade. Com a diáspora, os problemas passaram a ser colocados em
vários termos. Em Londres, Rotimi enfrentou questões sérias, que
envolviam a parte social, a afetiva e
o aspecto da sexualidade.
Ajamu também tem os mesmos
problemas. É complexa a busca
proposta pelo fotógrafos da diáspora. Eles querem responder as
questões pessoais por eles mesmos
sem a ajuda de ninguém.
²
Exposição: A África por Ela Mesma
Quando: hoje, às 15h (só para convidados);
ter a dom, das 11h às 17h; até 29.11
Onde: Pinacoteca do Parque (Pavilhão das
Artes Padre Manoel da Nóbrega, av. Pedro
Alvares Cabral, s/nº, portão 10, parque
Ibirapuera, tel. 011/549-8073)
Quanto: R$ 2 e R$ 5; grátis às quintas
Livro: Antologia da Fotografia Africana e do
Oceano Índico
Lançamento: Éditions Revue Noire
Quanto: R$ 80 (432 págs.)
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