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DANÇA
Twyla Tharp quer superar a história
Divulgação
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Cena do espetáculo "Tharp!", com a companhia da coreógrafa Twyla Tharp, que tem exibição em SP do dia 13 ao dia 15, no Alfa Real
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ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O elenco da Twyla Tharp Dance
Company, que estréia em Campinas amanhã e chega dia 13 a São
Paulo, para se apresentar no teatro
Alfa Real (onde, até as 12h de ontem, ainda restavam 1.000 ingressos para os três espetáculos), representa uma retomada na carreira da coreógrafa que se tornou um
símbolo da dança americana.
Formado há dois anos, o novo
grupo de Twyla Tharp procura recuperar o brilho da antiga companhia, que surgiu em 1965 e encerrou atividades no final dos anos 80.
"Tharp!", nome do espetáculo
que o elenco recém-formado mostra em sua primeira turnê brasileira, reúne três coreografias: "Heroes", "Sweet Fields" e "Yemayá".
"Já estou preparando um segundo programa para 1999, que vai se
compor de uma peça longa e única,
sobre as "Variações Diabelli', de
Beethoven", disse Tharp à Folha.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Por que você chama seu
novo grupo de projeto e qual a
proposta desse novo elenco?
Twyla Tharp - Chamamos o gru
po de projeto logo que ele foi fundado porque nossa proposta seria
trabalhar juntos enquanto houvesse demanda para vivermos de turnês. Obviamente, nesta época difícil para as artes, ninguém pode garantir como uma companhia recém-fundada vai sobreviver nos
anos seguintes.
Meu elenco atual é diferente da
companhia que já tive. Em parte,
porque o antigo grupo se desenvolveu em torno de mim, como se
fosse um centro que vai ganhando
novas peles, tal qual uma cebola. Já
com o grupo novo a relação é diferente, eu ocupo uma posição mais
externa e o fato de os bailarinos serem muito jovens me desperta
uma responsabilidade especial.
É uma situação de trabalho saudável, em que eles me dão tudo o
que podem e eu retribuo, sendo
que a meta é o desenvolvimento.
Claro que nós queremos grandes
bailarinos e grandes espetáculos.
Mas o que me deixa mais orgulhosa com essa atual companhia é o
considerável progresso obtido por
todos nos últimos dois anos, tanto
no nível individual quanto no conjunto.
Folha - Quais as conotações autobiográficas do espetáculo
"Tharp!"?
Tharp - Entre as coreografias que
compõem "Tharp!", a mais autobiográfica é "Sweet Fields", que é
conduzida por música coral americana dos séculos 18 e 19, interpretada à capela, além de hinos da tradição Shaker. Essas músicas significam minhas raízes na religião
Quaker.
Criei essa relação porque até os
oito anos de idade eu frequentava
com minha família as reuniões da
comunidade Quaker. Naquela
época nós vivíamos no Meio Oeste
dos Estados Unidos, e eu percebia
o quanto aquela fé austera influía
na maneira de trabalhar de minha
família.
A disciplina de "Sweet Fields" está diretamente relacionada à minha origem Quaker.
Folha - Você fez da cultura pop
uma fonte de enriquecimento de
sua linguagem, sem jamais desprezar a dança clássica. Como você lida com o popular e o erudito?
Tharp - Aprendi a conhecer melhor a técnica clássica trabalhando
com grandes companhias de balé,
como a Ópera de Paris, o Royal Ballet de Londres, o American Ballet
Theater. Sempre investiguei como
as grandes tradições poderiam ser
assimiladas por meu trabalho.
Acho que não é possível escapar da
história. Porém, podemos superá-la.
Para chegar a esse ponto, é preciso saber como ela funciona e perceber até que ponto você precisa
dela, ou seja, como a história pode
nos empurrar para a frente.
Ao mesmo tempo, quando comecei a coreografar eu estava muito interessada em associar à dança
os movimentos que todos nós fazemos cotidianamente, além de
descobrir como ampliar essa relação. Na verdade, procurei me cercar de diversos instrumentos.
Folha - Como nasceu a parceria
histórica entre você e Mikhail
Baryshnikov?
Tharp - Uma das razões que moveram Baryshnikov a se mudar para os Estados Unidos foi a chance
de explorar novas experiências, às
quais ele não teria acesso na Rússia.
Nossa parceria nasceu em 1976,
quando criei "Push Comes to Shove", primeiro balé feito especialmente para ele. Foi um grande desafio para Baryshnikov, mas ele se
saiu muito bem e o trabalho em
conjunto se transformou em uma
diversão para nós.
Folha - Por que você costuma ser
tão eclética na escolha das músicas?
Tharp - Minha mãe foi treinada
para ser uma concertista de piano e
eu cresci ouvindo todo tipo de música. Ela tocava tanto jazz e ragtime
quanto Mozart. Todos esses sons
se confundiam em minha casa e,
para mim, assumiram importâncias equivalentes.
Folha - Sua geração gerou o pós-modernismo na dança americana.
Você, no entanto, preferiu ficar à
parte, desenvolvendo seu próprio
estilo. Como conseguiu escapar de
movimento tão forte?
Tharp - Acredito que nenhum artista gosta de títulos genéricos. O
termo "pós-modernismo" é particularmente agravante porque é
alienador.
"Pós" me faz pensar em fraqueza. Nunca usei essa denominação
porque meu objetivo sempre foi
fazer um trabalho distinto, sem referências a algo que o precedeu.
˛
Espetáculo: Tharp!, com Twyla Tharp Dance
Company
Quando: 13 a 15 de novembro (sexta e
sábado, às 21h; domingo, às 17h)
Onde: teatro Alfa Real (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000)
Quanto: R$ 60, R$ 70 e R$ 80
Patrocinadores: Banco Real e IBM
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