São Paulo, sábado, 7 de novembro de 1998

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DANÇA
Twyla Tharp quer superar a história

Divulgação
Cena do espetáculo "Tharp!", com a companhia da coreógrafa Twyla Tharp, que tem exibição em SP do dia 13 ao dia 15, no Alfa Real


ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

O elenco da Twyla Tharp Dance Company, que estréia em Campinas amanhã e chega dia 13 a São Paulo, para se apresentar no teatro Alfa Real (onde, até as 12h de ontem, ainda restavam 1.000 ingressos para os três espetáculos), representa uma retomada na carreira da coreógrafa que se tornou um símbolo da dança americana.
Formado há dois anos, o novo grupo de Twyla Tharp procura recuperar o brilho da antiga companhia, que surgiu em 1965 e encerrou atividades no final dos anos 80.
"Tharp!", nome do espetáculo que o elenco recém-formado mostra em sua primeira turnê brasileira, reúne três coreografias: "Heroes", "Sweet Fields" e "Yemayá".
"Já estou preparando um segundo programa para 1999, que vai se compor de uma peça longa e única, sobre as "Variações Diabelli', de Beethoven", disse Tharp à Folha. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - Por que você chama seu novo grupo de projeto e qual a proposta desse novo elenco?
Twyla Tharp -
Chamamos o gru po de projeto logo que ele foi fundado porque nossa proposta seria trabalhar juntos enquanto houvesse demanda para vivermos de turnês. Obviamente, nesta época difícil para as artes, ninguém pode garantir como uma companhia recém-fundada vai sobreviver nos anos seguintes.
Meu elenco atual é diferente da companhia que já tive. Em parte, porque o antigo grupo se desenvolveu em torno de mim, como se fosse um centro que vai ganhando novas peles, tal qual uma cebola. Já com o grupo novo a relação é diferente, eu ocupo uma posição mais externa e o fato de os bailarinos serem muito jovens me desperta uma responsabilidade especial.
É uma situação de trabalho saudável, em que eles me dão tudo o que podem e eu retribuo, sendo que a meta é o desenvolvimento. Claro que nós queremos grandes bailarinos e grandes espetáculos. Mas o que me deixa mais orgulhosa com essa atual companhia é o considerável progresso obtido por todos nos últimos dois anos, tanto no nível individual quanto no conjunto.
Folha - Quais as conotações autobiográficas do espetáculo "Tharp!"?
Tharp -
Entre as coreografias que compõem "Tharp!", a mais autobiográfica é "Sweet Fields", que é conduzida por música coral americana dos séculos 18 e 19, interpretada à capela, além de hinos da tradição Shaker. Essas músicas significam minhas raízes na religião Quaker.
Criei essa relação porque até os oito anos de idade eu frequentava com minha família as reuniões da comunidade Quaker. Naquela época nós vivíamos no Meio Oeste dos Estados Unidos, e eu percebia o quanto aquela fé austera influía na maneira de trabalhar de minha família.
A disciplina de "Sweet Fields" está diretamente relacionada à minha origem Quaker.
Folha - Você fez da cultura pop uma fonte de enriquecimento de sua linguagem, sem jamais desprezar a dança clássica. Como você lida com o popular e o erudito?
Tharp -
Aprendi a conhecer melhor a técnica clássica trabalhando com grandes companhias de balé, como a Ópera de Paris, o Royal Ballet de Londres, o American Ballet Theater. Sempre investiguei como as grandes tradições poderiam ser assimiladas por meu trabalho. Acho que não é possível escapar da história. Porém, podemos superá-la.
Para chegar a esse ponto, é preciso saber como ela funciona e perceber até que ponto você precisa dela, ou seja, como a história pode nos empurrar para a frente.
Ao mesmo tempo, quando comecei a coreografar eu estava muito interessada em associar à dança os movimentos que todos nós fazemos cotidianamente, além de descobrir como ampliar essa relação. Na verdade, procurei me cercar de diversos instrumentos.
Folha - Como nasceu a parceria histórica entre você e Mikhail Baryshnikov?
Tharp -
Uma das razões que moveram Baryshnikov a se mudar para os Estados Unidos foi a chance de explorar novas experiências, às quais ele não teria acesso na Rússia.
Nossa parceria nasceu em 1976, quando criei "Push Comes to Shove", primeiro balé feito especialmente para ele. Foi um grande desafio para Baryshnikov, mas ele se saiu muito bem e o trabalho em conjunto se transformou em uma diversão para nós.
Folha - Por que você costuma ser tão eclética na escolha das músicas?
Tharp -
Minha mãe foi treinada para ser uma concertista de piano e eu cresci ouvindo todo tipo de música. Ela tocava tanto jazz e ragtime quanto Mozart. Todos esses sons se confundiam em minha casa e, para mim, assumiram importâncias equivalentes.
Folha - Sua geração gerou o pós-modernismo na dança americana. Você, no entanto, preferiu ficar à parte, desenvolvendo seu próprio estilo. Como conseguiu escapar de movimento tão forte?
Tharp -
Acredito que nenhum artista gosta de títulos genéricos. O termo "pós-modernismo" é particularmente agravante porque é alienador.
"Pós" me faz pensar em fraqueza. Nunca usei essa denominação porque meu objetivo sempre foi fazer um trabalho distinto, sem referências a algo que o precedeu.
˛

Espetáculo: Tharp!, com Twyla Tharp Dance Company Quando: 13 a 15 de novembro (sexta e sábado, às 21h; domingo, às 17h) Onde: teatro Alfa Real (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000) Quanto: R$ 60, R$ 70 e R$ 80 Patrocinadores: Banco Real e IBM


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