|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Guitarrista lapida gemas brutas e verdadeiras
DA REDAÇÃO
Quando o futuro do blues
parecia estar irreversivelmente nas mãos brancas de guitarristas como Kenny Wayne
Shepherd e Jonny Lang, eis que
Buddy Guy resolve dar um tempo
em sua sanha popularesca e reassumir o timão do estilo com
"Sweet Tea". Como nos anos 60,
quando influenciou gente como
Eric Clapton e Jimi Hendrix, Guy
chafurda na lama blueseira e ali
esculpe algo novo. Gemas brutas
que serão lapidadas e embaladas
para consumo popular.
O CD não é para leigos, tampouco vai entrar sem resistência
em ouvidos acostumados às variantes mais populares do estilo.
Mas, para aqueles que se dispuserem a vencer a prova, está reservado um daqueles raros momentos em que, depois de ter passado
vários anos como sintoma das sonoridades alheias, um músico
volta a ser e a criar um sistema.
Antes de levar o ouvinte aos recônditos mais obscuros do blues
rústico do norte do Mississippi,
Guy abre o CD encarando os problemas da velhice na acústica
"Done Got Old", em que se ouve
sua respiração.
Pronto, acabada essa bem-vinda ovelha negra, começa uma saraivada de frases curtas e distorcidas de guitarra, repetições que
vão ganhando novos significados
a cada rodada, alternâncias de gritos e sussurros. Tudo está sob
controle. O som é intencionalmente cru, instável, perturbador.
A produção cuidou para que nada
que não fosse verdadeiro chegasse às caixas acústicas.
Sucedem-se letras telegráficas,
recitadas sobre canções de um ou
dois acordes. Beira o miraculoso o
volume de emoções e referências
que o guitarrista e a banda conseguem encapsular num espaço
harmônico tão restrito.
Sem concessões, o álbum está
longe de se tornar um campeão de
vendas. Mas, se cair nos ouvidos
certos, os ventos da mudança voltarão a soprar no blues. O melhor
está por vir.
(EDSON FRANCO)
Sweet Tea
Artista: Buddy Guy
Lançamento: Silvertone/Zomba
Records
Quanto: R$ 25, em média
Texto Anterior: Música: Buddy Guy abre novas trilhas para o blues Próximo Texto: Frase Índice
|