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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Mangue beat completa dez anos, data que (quase) passou despercebida; bandas comemoram consolidação da cena recifense

Sem choro nem vela

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Silêncio estranho, esse. Sem festa nem barulho, o mangue beat, mais importante movimento de renovação da música brasileira recente, completou dez anos.
O aniversário na verdade são três, e um deles ainda está por vir. O primeiro marco da cena pop, apontado por seus criadores, foi o manifesto "Caranguejos com Cérebro", escrito por Fred 04 em 1992. No ano seguinte houve a primeira excursão ao Sudeste de Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, as bandas que institucionalizaram o agito. Foi também em 1993 a primeira edição do Abril Pro Rock, que se tornaria o maior celeiro de bandas independentes do país.
O cartucho que resta é a celebração de "Da Lama ao Caos" (CSNZ) e "Samba Esquema Noise" (Mundo Livre), cujo lançamento faz uma década em 2004.
A múltipla efeméride só não passará em branco por causa do livro "Sob o Calçamento Está o Mangue", organizado pelo jornalista Renato L., o "ministro da informação" da cena recifense, e pela produtora Alê Oliveira.
O volume, a ser lançado no ano que vem, por editora ainda indefinida, reunirá artigos do antropólogo Hermano Vianna, do etnomusicólogo americano John Murphy, de Zeroquatro e Renato L. e do jornalista Xico Sá, crítico da Folha, entre outros.
Fotos e imagens inéditas da inquieta década ilustrarão o livro.
"Eu mesmo fiquei receoso em entrar no projeto, porque lembrar essas datas pode sugerir que a cena acabou, e ela está vivíssima. Mas resolvemos fazer, para estimular a reflexão", afirma Renato L. O livro foi concebido para sair neste ano, junto com shows e debates, pacote batizado de "A Maré Encheu" e destrinchado no site www.manguebit.org.br. Mas, por falta de dinheiro, foi adiado.
Se não houve vela nem bolo, não houve tampouco choro pela quietude dos dez anos -muito pelo contrário. As bandas comemoram a consolidação da cena mangue, mesmo com a morte de Chico Science, em 1997.
"É o paradoxo de uma utopia alcançada", diz Zeroquatro, que cita o surgimento de um novo pólo de produção musical no Recife, onde foi gravada a maioria dos últimos discos do mangue.
Não significa, porém, que as bandas ganharam dinheiro. Ninguém na Nação Zumbi ou no Mundo Livre, as mais bem-sucedidas da cena, tem casa própria. "O que ganho é para pagar contas e comprar discos. Mas comemoramos por poder continuar fazendo música mesmo estando fora da máquina", afirma Jorge du Peixe, da Nação. "Não me preocupo com isso. Deito a cabeça no travesseiro e consigo dormir legal", emenda o guitarrista Lúcio Maia.


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