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ARTES CÊNICAS
Durante encontro em BH, profissionais criticam MinC e artistas
Teatro repercute polêmica com Gil
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Teatro é, por natureza, conflito.
E no Brasil deste final de 2005, o
embate se dá fora de cena: artistas
apontam o descaso do Ministério
da Cultura em relação ao setor.
Em sabatina na Folha, o ator
Paulo Autran afirmou que "ninguém da classe teatral sabe o que
ele [Gilberto Gil] fez". Também
em entrevista à Folha, seu colega,
Marco Nanini, disse que Gil
"nunca foi ao teatro, não gosta".
Em resposta, o ministro Gilberto
Gil afirmou que não prioriza o
"teatro dos consagrados".
Gerald Thomas, que dirige Nanini em "Um Circo de Rins e Fígados", também critica o ministro:
"Gil está matando a cultura teatral
no Brasil por ser um total analfabeto no que diz respeito à infra-estrutura dramática: não sabe distinguir um intérprete de um dramaturgo; não sabe distinguir um
autor dramático de ator".
A peleja também respinga em
Belo Horizonte (MG), onde termina hoje a 2ª edição do Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral).
Aqui, a voz é do teatro feito por
grupos e companhias. Não por
acaso, o evento acontece no Galpão Cine Horto, centro cultural
do grupo Galpão, 23 anos.
"Os dois lados foram infelizes.
Não é que o MinC não esteja fazendo nada. Não se faz nada no
país há décadas, daí a demanda. E
Gil também é um músico consagrado, o que também ajuda sua
pasta", diz o diretor Luiz Fernando Lobo, da companhia Ensaio
Aberto (RJ).
Para a pesquisadora Iná Camargo Costa, o movimento Arte contra a Barbárie, de São Paulo, "já
havia levantado essa lebre".
"Não fazemos um teatro cuja
consagração é a chancela do mercado, mas um teatro que tenha
função social." Nesse sentido,
afirma a intelectual, "faltam esclarecimentos" tanto a Gil quanto
aos seus críticos.
O Arte contra a Barbárie surgiu
em 1999 por iniciativa de grupos
paulistanos. Sua principal conquista foi a Lei de Fomento, de
2002 (cerca de R$ 9 milhões por
ano repartidos para grupos selecionados por comissão).
Em sua participação anteontem, no Redemoinho, o presidente da Funarte (órgão responsável
pelas artes cênicas no MinC), Antônio Grassi, disse que a pasta
busca "uma política de Estado
que tenha como alvo o cidadão".
Mas o ministério não abre a torneira. Dois prêmios de fomento à
produção, anunciados com pompa por Gil no início de 2005, ainda
não vingaram: o Myriam Muniz
(para o teatro) e o Klauss Vianna
(para a dança). Grassi promete
edital para janeiro de 2006: R$ 13
milhões para as duas áreas.
Gil passou o ano reclamando de
contingenciamento. O governo
cortou 57% do orçamento do
MinC, que era de R$ 480 milhões.
Crise da cultura
Durante três dias de Redemoinho, cerca de 70 grupos de 11 Estados debatem assuntos relativos
à "permanente crise da cultura e a
omissão dos governos federal, estaduais e municipais no apoio e
manutenção dos espaços".
Relator da Lei de Fomento, o diretor Luiz Carlos Moreira (grupo
Engenho Teatral, SP) afirma que
os artistas, em geral, não têm clareza sobre as políticas públicas.
"A classe precisa construir um
teatro significativo para a sociedade, agir como sujeito histórico e
não ficar na briga medíocre pela
sobrevivência", afirma.
O jornalista Valmir Santos viajou a convite do Galpão Cine Horto
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