IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não deixa de ser irônico que, justamente quando se profetiza o colapso da indústria fonográfica e o fim do disco como o conhecemos, as técnicas de gravação sejam capazes de prodígios cada vez mais assombrosos. Um exemplo eloqüente é o registro recém-lançado no mercado internacional (mas disponível em boas lojas brasileiras) dos concertos para piano de Liszt, com o carioca radicado nos EUA Arnaldo Cohen ao teclado, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a batuta de John Neschling.
O disco chega no formato de alta fidelidade Super Áudio CD, mas também roda em aparelhos reprodutores de CD. E mesmo com um equipamento de som "normal", acessível a bolsos menos opulentos, é impossível não se render ao luxo sonoro conseguido pelos técnicos da gravadora escandinava Bis.
Embora os discos anteriores de Cohen já tivessem atingido qualidade digna de nota, aqui seu piano é captado com um detalhamento impressionante.
É como se os microfones funcionassem como lentes de aumento, trazendo para mais perto do ouvinte o vigor e o virtuosismo do solista.
Sintomático é o início da "Totentanz" (literalmente, "Dança da Morte"), que abre o álbum, e que Cohen havia gravado anteriormente em versão para piano solo: uma sucessão de acordes possantes, anunciando a força que virá não apenas no restante da obra, mas ao longo do CD inteiro.
Quanto à Osesp, mesmo o mais assíduo freqüentador da Sala São Paulo há de se surpreender com a sonoridade encorpada e robusta que emana da orquestra. É um bom presente para este Natal, já que, nos próximos, talvez não haja mais discos a serem ofertados.