São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010 |
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Galpão, passado e futuro Grupo de Minas lança livro sobre parcerias com diretores convidados e prepara duas montagens de Tchékhov LUCAS NEVES DE SÃO PAULO Em "As Três Irmãs", o dramaturgo Anton Tchékhov (1860-1904) bate à porta de um lar rural visitado por saudosismo e promessas de mudança nunca concretizadas. No documentário "Moscou" (2009), de Eduardo Coutinho, que registra o grupo Galpão em jogos de improviso, exercícios de corpo e esboços de cenas da peça, o mal-estar é outro: a trupe parece pouco à vontade com o imperativo de montar trechos em apenas três semanas e repeti-los para a câmera do diretor. Quer experimentar antes, chegar com calma à Rússia provinciana. Findadas as filmagens, vem não um aprofundamento da investigação iniciada no set, mas a estreia de "Till", reencontro com a linguagem popular e farsesca que celebrizou o coletivo. Era natural supor, portanto, que Tchékhov talvez fosse um intruso no universo do Galpão. Eis que agora o grupo anuncia duas montagens dedicadas ao mestre do realismo, ambas em 2011: uma encenação de "Tio Vânia" dirigida por Yara de Novaes (em abril) e uma compilação de contos sob a batuta de Jurij Alschitz, conterrâneo do autor (em dezembro). "O conflito existiu. A proposta [de "Moscou'] era de criação louca, caótica. O Coutinho se preocupou com alguns improvisos malucos demais", explica o ator e também cofundador do Galpão Eduardo Moreira, que lança hoje o livro "Grupo Galpão: Uma História de Encontros", série de relatos sobre as parcerias dos mineiros com diretores convidados. O retorno a Tchékhov veio depois de problemas na negociação dos direitos de "Volta ao Lar", de Harold Pinter (1930-2008). "Queríamos um mergulho maior na interpretação a partir do pessoal", diz Moreira, para depois contar que o grupo flertou com "Espia uma Mulher que se Mata", adaptação do argentino Daniel Veronese para "Tio Vânia", antes de se decidir pelo original. A escolha também foi pautada por um sentimento geracional. "Tchékhov tem a ver com uma virada cronológica: a chegada do núcleo duro do Galpão aos 50 e a busca de uma certa maturidade. A dramaturgia dele tem esse traço inacabado, o fator do tempo que já não é tanto e a preocupação com os que virão daqui a cem anos." Em "Tio Vânia", já em fase de ensaios, a trilha executada ao vivo pelos atores deve ser deixada de lado. Mas não alguma remissão a Minas. "A discussão do provincianismo em oposição a uma coisa mais cosmopolita é cara ao Estado. Como dizia Samuel Beckett, toda época e lugar são insuportáveis se se passa muito tempo neles", conclui Moreira. Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Livro sobre parcerias do Galpão evita cabotinismo Índice | Comunicar Erros |
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