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LIVROS
A música negra americana além das notas
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Não é preciso ser fanático por James Brown, Aretha Franklin ou
Miles Davis para concordar. Sem o
blues, o jazz, o soul e o funk, a música popular norte-americana perderia muito de seu impacto.
Essa é uma das sugestões do livro
"Heart & Soul - A Celebration of
Black Music Style in América
1930-1975", lançado recentemente
nos EUA e que já pode ser encontrado nas seções de importados de
boas livrarias brasileiras.
Os autores, Bob Merlis e Davin
Seay, traçam um delicioso panorama da presença negra na música
norte-americana deste século,
combinando informações históricas e musicais com uma significativa pesquisa visual.
Em vez de uma tese acadêmica,
como o tema parece sugerir, a pesquisa dos dois autores assumiu a
forma de um sofisticado livro de
arte, que impressiona antes de tudo pela riqueza das imagens incluídas nas 160 páginas.
São capas de discos, fotos promocionais, folhetos de divulgação,
cartazes, capas de partituras, selos
de discos e até figurinhas, que em
muitos casos acabam revelando
mais que o próprio texto.
Assinada pela cantora Etta James, a introdução funciona como
uma síntese da obra. A blueseira,
nascida em Los Angeles, há quase
60 anos, fala de vários cantores e
músicos negros que a influenciaram -não por acaso, todos retratados no livro.
Etta menciona cantoras de gospel, como Clara Ward e Sister Rosetta Tharpe, passa por vários
mestres do rhythm & blues, como
Little Richard, Jackie Wilson e
Louis Jordan, sem esquecer o impacto de seu encontro com Billie
Holiday, a diva do jazz.
Ao longo dos nove capítulos, os
autores alinhavam fatos históricos, dados biográficos e anedotas,
para narrar a evolução do que chamam de um "vibrante, vistoso e
extravagante florescimento da cultura afro-americana".
Quem espera encontrar uma história da música negra nos EUA,
em moldes mais tradicionais, pode
estranhar algumas classificações. É
o caso do capítulo "Roots" (raízes), que mistura gospel, blues,
rhythm & blues e jazz.
Na verdade, o critério é visual. Se
o primeiro capítulo está recheado
de enormes e extravagantes ternos
dos anos 40 (os "zoot suits"), o capítulo dedicado a ídolos "teen"
dos anos 50, como a cantora Little
Eva e o então "Little" Stevie Wonder, coleciona uniformes colegiais.
Nessa mesma linha, acompanhados por modelitos mais moderninhos, os bizarros topetes de
Percy Sledge e Major Lance, assim
como o estiloso penteado "pompadour" de James Brown, colorem
o capítulo "Soul Men".
Já a seção "Red-Hot Mamas"
exibe a sensualidade feminina de
divas do jazz e do blues, como La
Vern Baker, Dinah Washington,
Aretha Franklin, Mary Wells e
Carla Thomas.
Mas o melhor capítulo é mesmo
o dedicado ao "Wild Style" (estilo
selvagem). Imagens de blueseiros
debochados, como os saxofonistas
Louis Jordan e Big Jay McNeely, ou
jazzistas irreverentes, como Dizzy
Gillespie, provam que a música
negra vai muito além das notas e
convenções sonoras.
Algumas imagens funcionam
como verdadeiras revisões históricas. É o caso da foto do clássico
bluesman T-Bone Walker, que já
tocava sua guitarra apoiando-a nas
costas décadas antes dos malabarismos de um Jimi Hendrix.
Já o capítulo dedicado à psicodelia dos anos 70 é curto demais. Não
traz uma única foto do alucinado
George Clinton e suas bandas funkeiras, tratando esse período de
forma muito apressada -quem
sabe economizando material para
um próximo volume.
Livro: Heart & Soul - A Celebration for
Black Music Style in America 1930-1975
Autores: Bob Merlis e Davin Seay
Lançamento: Stewart, Tabori & Chang
(EUA)
Quanto: R$ 57 (160 págs.)
Onde encontrar: Freebook (r. da
Consolação, 1.924, tel. 011/256-0577)
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