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Terra de caubói
Francio de Hollanda/Folha Imagem
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Adriana Andrade (à dir.), 25, operadora de telemarketing de Campinas, que gasta até R$ 1.000 por mês viajando com amigos para cidades onde há rodeios |
Mapa cultural mostra que número de cidades que promovem rodeios em SP é cinco vezes maior do que o das que possuem cinemas
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DANIEL CASTRO
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local
Lins, cidade de 61 mil habitantes
e 8.000 estudantes universitários,
já teve dois cinemas tradicionais.
O último fechou há quatro anos.
No ano passado, virou templo da
Igreja Universal do Reino de
Deus. Destino semelhante tiveram outras 800 salas no Estado de
São Paulo nos últimos 20 anos.
Quem mora em Lins tem de viajar no mínimo 60 quilômetros para ir ao cinema mais próximo.
Mas, por outro lado, não precisa
nem sair do bairro em que vive
para ir a uma festa de peão de
boiadeiro. Na cidade, aconteceram sete rodeios em 99, um principal e outros seis "menores", nos
bairros e distritos, reunindo, cada
um, pelo menos 5.000 pagantes.
Com vocação para a pecuária,
Lins (a 453 km a noroeste de São
Paulo) é um exemplo do perfil
cultural de São Paulo. No Estado
mais industrializado do país, predomina a cultura rural. São Paulo
é uma terra de caubóis.
É o que revela o primeiro, e inédito, mapeamento de equipamentos culturais no Estado de
São Paulo, feito pelo Fórum São
Paulo Século 21, da Assembléia
Legislativa, com base em pesquisa
da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).
Segundo o levantamento, em
390 (60,5%) dos 645 municípios
paulistas as prefeituras promovem ou patrocinam festas de peão
de boiadeiro. Mas apenas 73 cidades (11,3%) possuem cinemas.
"O rodeio conquista adeptos a
cada dia. É um espetáculo circense, mas muito mais pobre do que
o circo", diz o sociólogo Gabriel
Bolaffi sobre o fenômeno.
A pesquisa revela que cinemas,
assim como teatros, são hoje privilégios de cidades grandes. Ao
contrário, rodeios são eventos típicos de cidades pequenas.
Nas 73 cidades em que existem
cinemas moram 22,5 milhões de
pessoas (65% da população do
Estado). As 390 que promovem
rodeios representam só 33,4%
dos paulistas (11,5 milhões).
Há municípios, como Barra do
Chapéu (cerca de 330 km de São
Paulo), em que o rodeio é o único
evento esportivo-cultural disponível aos seus 5.022 moradores.
Já em São Paulo, a capital, há
uma lei (nº 11.359/93) que proíbe
rodeios, supostamente para proteger os animais de maus-tratos.
Dados que não constam no mapeamento reforçam ainda mais
que a indústria do rodeio é muito
maior do que a cinematográfica.
Dos cerca de 1.300 rodeios espalhados pelo país no ano passado,
São Paulo concentrou 650, com
pelo menos 13 milhões de pagantes. A indústria country paulista
movimentou mais de US$ 1 bilhão em 99, segundo a FNRC (Federação Nacional do Rodeio
Completo), responsável pelos
principais eventos do Brasil.
De acordo com o Sindicato dos
Distribuidores do Rio de Janeiro,
o Estado de São Paulo tem 25,4%
das salas do país. Logo, proporcionalmente, em 99 seus cinemas
tiveram 17,8 milhões de espectadores (foram 70 milhões no país)
e arrecadaram R$ 88,9 milhões
(R$ 350 milhões no Brasil).
Para o secretário estadual de
Cultura, Marcos Mendonça, o
mapa mostra "que São Paulo tem
uma vida rural muito intensa" e
que "preserva raízes".
Ex-secretária-executiva do Ministério da Cultura e autora do estudo "Os Indicadores Quantitativos da Cultura" (98), Maria Delith
Balaban ameniza o fator "raízes
rurais" ou "Estado caipira": "As
festas de peão batem diretamente
na música sertaneja, que é uma
indústria fortíssima".
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