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LIVRO LANÇAMENTOS
Biografia retrata mão invisível de Adam Smith
OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro
Criada há mais de
200 anos, a metáfora da mão invisível
do mercado é hoje
mais aplicável do
que nunca, dado
que, desde a queda do Muro de
Berlim, em 1989, o capitalismo
não tem mais outro sistema que
lhe ofereça resistência.
O fato justifica um renovado interesse por seu autor, Adam
Smith, e pela obra em que o conceito apareceu em 1776, "A Riqueza das Nações". A biografia de
Smith, de Ian Simpson Ross, tenta, para dizer como os economistas, atender a essa demanda.
Fundador da política econômica, Adam Smith (1723-1790) foi
também o filósofo social que, inicialmente ligado ao estoicismo,
acabou formulando a idéia nada
altruística de que é a busca do interesse individual que faz emergirem benefícios para a sociedade.
A ponte entre vício e virtude é
feita pela "mão invisível". É ela
que, ao promover a competição,
se encarrega de ajustar interesses,
corrigir distorções e estimular o
crescimento, desde que livre da
ação de governos e monopólios.
O mundo de Smith é o dos primórdios da Revolução Industrial.
A produção maior exigia maior
mercado para que fosse escoada
-e, quanto mais liberdade houvesse, mais facilmente o objetivo
seria atingido. Estava plantada a
semente do "laissez-faire".
Ross procura relativizar o liberalismo indiscriminado de Smith,
lembrando que ele "sustentou
que havia razões de Estado, tais
como defesa, que poderiam exigir
restrições de mercado".
Trata-se, no entanto, de uma
exceção, e o próprio Ross não insiste no argumento. Smith será
sempre, e corretamente, lembrado como o maior defensor da remoção das barreiras ao mercado.
O papel regulador do mercado
ele identificou na prática e desde
cedo. Formado na culturalmente
efervescente Universidade de
Glasgow, epicentro do iluminismo escocês do século 18, Smith
acabou se decepcionando com o
sistema educacional de Oxford,
cuja ineficiência ele atribuiu à falta de competição acadêmica.
Teórico por vocação e temperamento, Smith deixou o gabinete
para se envolver no debate sobre
o maior evento da época: a guerra
de independência dos Estados
Unidos (a Revolução Francesa
eclodiria já perto de sua morte).
Ross banca a versão de que ele
planejou o lançamento de "A Riqueza..." para tentar influenciar o
Parlamento inglês a apoiar uma
solução pacífica para o conflito do
outro lado do Atlântico que, em
julho de 1776, três meses após a
primeira edição ser publicada, desembocaria na declaração da independência americana.
Por suas reconhecidas qualidades intelectuais, Smith havia sido
tutor do enteado do ministro das
Finanças inglês que ajudou a precipitar a revolução americana ao
taxar o chá da então colônia.
A ascendência de Smith sobre o
amigo, entretanto, não foi suficiente para demover a autoridade
do atentado contra o livre comércio. E o pai do liberalismo reagiu
com coerência. "Ele denuncia a
mentalidade de lojista do governo
da Grã-Bretanha e se coloca ao lado dos americanos em seu conflito com a pátria-mãe", escreve
Ross, professor emérito da University of British Columbia.
Com 654 páginas, o livro oferece um amplo painel do tempo e
da vida de Smith, mas, por vezes,
deixa o fio narrativo escapar em
detalhes que só interessam, eventualmente, ao especialista.
Avaliação:
Livro: Adam Smith - Uma Biografia
Autor: Ian Simpson Ross
Editora: Record
Quanto: R$ 70,00 (654 págs.)
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