São Paulo, Sábado, 08 de Janeiro de 2000


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LIVRO LANÇAMENTOS
Biografia retrata mão invisível de Adam Smith

OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro


Criada há mais de 200 anos, a metáfora da mão invisível do mercado é hoje mais aplicável do que nunca, dado que, desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, o capitalismo não tem mais outro sistema que lhe ofereça resistência.
O fato justifica um renovado interesse por seu autor, Adam Smith, e pela obra em que o conceito apareceu em 1776, "A Riqueza das Nações". A biografia de Smith, de Ian Simpson Ross, tenta, para dizer como os economistas, atender a essa demanda.
Fundador da política econômica, Adam Smith (1723-1790) foi também o filósofo social que, inicialmente ligado ao estoicismo, acabou formulando a idéia nada altruística de que é a busca do interesse individual que faz emergirem benefícios para a sociedade.
A ponte entre vício e virtude é feita pela "mão invisível". É ela que, ao promover a competição, se encarrega de ajustar interesses, corrigir distorções e estimular o crescimento, desde que livre da ação de governos e monopólios.
O mundo de Smith é o dos primórdios da Revolução Industrial. A produção maior exigia maior mercado para que fosse escoada -e, quanto mais liberdade houvesse, mais facilmente o objetivo seria atingido. Estava plantada a semente do "laissez-faire".
Ross procura relativizar o liberalismo indiscriminado de Smith, lembrando que ele "sustentou que havia razões de Estado, tais como defesa, que poderiam exigir restrições de mercado".
Trata-se, no entanto, de uma exceção, e o próprio Ross não insiste no argumento. Smith será sempre, e corretamente, lembrado como o maior defensor da remoção das barreiras ao mercado.
O papel regulador do mercado ele identificou na prática e desde cedo. Formado na culturalmente efervescente Universidade de Glasgow, epicentro do iluminismo escocês do século 18, Smith acabou se decepcionando com o sistema educacional de Oxford, cuja ineficiência ele atribuiu à falta de competição acadêmica.
Teórico por vocação e temperamento, Smith deixou o gabinete para se envolver no debate sobre o maior evento da época: a guerra de independência dos Estados Unidos (a Revolução Francesa eclodiria já perto de sua morte).
Ross banca a versão de que ele planejou o lançamento de "A Riqueza..." para tentar influenciar o Parlamento inglês a apoiar uma solução pacífica para o conflito do outro lado do Atlântico que, em julho de 1776, três meses após a primeira edição ser publicada, desembocaria na declaração da independência americana.
Por suas reconhecidas qualidades intelectuais, Smith havia sido tutor do enteado do ministro das Finanças inglês que ajudou a precipitar a revolução americana ao taxar o chá da então colônia.
A ascendência de Smith sobre o amigo, entretanto, não foi suficiente para demover a autoridade do atentado contra o livre comércio. E o pai do liberalismo reagiu com coerência. "Ele denuncia a mentalidade de lojista do governo da Grã-Bretanha e se coloca ao lado dos americanos em seu conflito com a pátria-mãe", escreve Ross, professor emérito da University of British Columbia.
Com 654 páginas, o livro oferece um amplo painel do tempo e da vida de Smith, mas, por vezes, deixa o fio narrativo escapar em detalhes que só interessam, eventualmente, ao especialista.


Avaliação:  


Livro: Adam Smith - Uma Biografia
Autor: Ian Simpson Ross
Editora: Record
Quanto: R$ 70,00 (654 págs.)


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