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COMIDA
Tempero marxista
Livro recria receitas e o ambiente dos almoços no sítio de Roberto Burle Marx, paisagista inovador também na cozinha
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Paisagista, pintor, escultor,
desenhista, tapeceiro, designer
de joias e ceramista, Roberto
Burle Marx também fazia da
culinária uma arte. Seus almoços no sítio Santo Antônio da
Bica, em Pedra de Guaratiba,
na zona oeste do Rio, reuniam
amigos famosos e anônimos
em torno de pratos cuja marca
registrada era a irreverência.
Parte deles agora está disponível ao público no livro "À Mesa com Burle Marx", que integra as comemorações do centenário de nascimento do artista.
Organizado pela arquiteta
Claudia Pinheiro, o volume
surgiu a partir de anotações feitas pela também arquiteta Cecília Modesto ao longo de 20
anos de convívio com o paisagista. Cecília -que conheceu
Burle Marx como sua estagiária, na década de 70- guarda
até hoje o caderno no qual registrava os ensinamentos do
mestre. Entre as dicas de paisagismo e pintura, muitas receitas: "Ele adorava cozinhar", diz.
Ao desenvolver o projeto, a
dupla decidiu que, tanto quanto divulgar as receitas, era preciso recriar a atmosfera do sítio
de Guaratiba. As arquitetas
procuraram então o cozinheiro
Cleofas César da Silva, companheiro de Burle Marx por anos,
para recompor o cenário dos já
lendários almoços dos finais de
semana. Foi ele quem preparou
os pratos que, ambientados em
recantos do local onde o artista
morou por 45 anos, foram fotografados para o projeto.
"O Roberto não admitia que
um prato fosse servido em uma
travessa comum. Ele tinha
muito cuidado com a apresentação, e o livro tenta reproduzir
isso", conta Claudia, que provou as cerca de 40 receitas preparadas pelo cozinheiro. Além
dessas, há ainda outras 20.
São pratos como o macarrão
de palmito, a compota de melancia com coco e a galinha com
anis-estrelado. "Todas as receitas têm em comum a irreverência, um quê que foge do tradicional", avalia a arquiteta, para
quem a seleção reflete a máxima do artista, que dizia que "o
importante é ter curiosidade".
As receitas são divididas em
capítulos e acompanhadas por
textos breves que relembram
os diversos elementos que
preencheram a vida de Burle
Marx: os amigos, a botânica, a
brasilidade, as coleções, o desenho, a escultura, a irreverência,
a música, o paisagismo e a pintura. "Queríamos um livro lúdico e intimista, que desse ao leitor pinceladas rápidas das várias facetas do artista."
Nem as toalhas de mesa que o
paisagista pintava para receber
os convidados ficaram de fora.
Além de aparecerem nas fotos
internas, serviram também como capa para o livro. No total,
são 20 versões, em tecido, que
ajudam a revelar a dedicação
com que ele fazia seus eventos
gastronômicos.
Entre os convidados que puderam desfrutar desses momentos, estão o pintor Alfredo
Volpi, o compositor Vinicius de
Moraes, o arquiteto Le Corbusier, o urbanista Lucio Costa e a
cantora Mercedes Sosa. "Ele
era como um farol que atraía as
principais cabeças da nossa
cultura", lembra Cecília Modesto. "E, nesses momentos, a
cozinha virava a sala de visitas."
À MESA COM BURLE MARX
Organizadora: Claudia Pinheiro
Editora: Batel
Quanto: R$ 88 (192 págs.)
Leia receita de lula
www.folha.com.br/090071
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