São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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COMIDA

Tempero marxista

Livro recria receitas e o ambiente dos almoços no sítio de Roberto Burle Marx, paisagista inovador também na cozinha

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Paisagista, pintor, escultor, desenhista, tapeceiro, designer de joias e ceramista, Roberto Burle Marx também fazia da culinária uma arte. Seus almoços no sítio Santo Antônio da Bica, em Pedra de Guaratiba, na zona oeste do Rio, reuniam amigos famosos e anônimos em torno de pratos cuja marca registrada era a irreverência. Parte deles agora está disponível ao público no livro "À Mesa com Burle Marx", que integra as comemorações do centenário de nascimento do artista.
Organizado pela arquiteta Claudia Pinheiro, o volume surgiu a partir de anotações feitas pela também arquiteta Cecília Modesto ao longo de 20 anos de convívio com o paisagista. Cecília -que conheceu Burle Marx como sua estagiária, na década de 70- guarda até hoje o caderno no qual registrava os ensinamentos do mestre. Entre as dicas de paisagismo e pintura, muitas receitas: "Ele adorava cozinhar", diz. Ao desenvolver o projeto, a dupla decidiu que, tanto quanto divulgar as receitas, era preciso recriar a atmosfera do sítio de Guaratiba. As arquitetas procuraram então o cozinheiro Cleofas César da Silva, companheiro de Burle Marx por anos, para recompor o cenário dos já lendários almoços dos finais de semana. Foi ele quem preparou os pratos que, ambientados em recantos do local onde o artista morou por 45 anos, foram fotografados para o projeto.
"O Roberto não admitia que um prato fosse servido em uma travessa comum. Ele tinha muito cuidado com a apresentação, e o livro tenta reproduzir isso", conta Claudia, que provou as cerca de 40 receitas preparadas pelo cozinheiro. Além dessas, há ainda outras 20.
São pratos como o macarrão de palmito, a compota de melancia com coco e a galinha com anis-estrelado. "Todas as receitas têm em comum a irreverência, um quê que foge do tradicional", avalia a arquiteta, para quem a seleção reflete a máxima do artista, que dizia que "o importante é ter curiosidade".
As receitas são divididas em capítulos e acompanhadas por textos breves que relembram os diversos elementos que preencheram a vida de Burle Marx: os amigos, a botânica, a brasilidade, as coleções, o desenho, a escultura, a irreverência, a música, o paisagismo e a pintura. "Queríamos um livro lúdico e intimista, que desse ao leitor pinceladas rápidas das várias facetas do artista."
Nem as toalhas de mesa que o paisagista pintava para receber os convidados ficaram de fora.
Além de aparecerem nas fotos internas, serviram também como capa para o livro. No total, são 20 versões, em tecido, que ajudam a revelar a dedicação com que ele fazia seus eventos gastronômicos.
Entre os convidados que puderam desfrutar desses momentos, estão o pintor Alfredo Volpi, o compositor Vinicius de Moraes, o arquiteto Le Corbusier, o urbanista Lucio Costa e a cantora Mercedes Sosa. "Ele era como um farol que atraía as principais cabeças da nossa cultura", lembra Cecília Modesto. "E, nesses momentos, a cozinha virava a sala de visitas."


À MESA COM BURLE MARX
Organizadora: Claudia Pinheiro
Editora: Batel
Quanto: R$ 88 (192 págs.)

Leia receita de lula
www.folha.com.br/090071



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