São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Doc sobre Cildo estreia na Tate

Filme sobre o artista brasileiro, que começou a ser rodado em 2005, explora bem suas obras sonoras

Cildo comenta no documentário a influência que sofreu de programas radiofônicos; mostra na Tate vai até o domingo

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crônica falta de recursos do cinema nacional acabou contribuindo para o melhor resultado de um documentário. "Cildo", de Gustavo Moura, sobre o artista brasileiro Cildo Meireles, será exibido pela primeira vez amanhã, na Tate Modern, em Londres. O filme teria perdido força caso tivesse sido realizado em tempo mais reduzido.
"O pessoal da produção me procurou inicialmente em 2005, quando havia uma exposição de desenhos minha no CCBB do Rio. Ter acabado só em 2008 foi uma vantagem; o documentário adquiriu uma velocidade bonita, mais expressiva", afirma Meireles, 60, cuja obra, iniciada no final da década de 60, está exposta numa elogiada mostra na Tate, que acaba domingo.
"Rodar desde 2005 deu uma outra característica ao filme. Foi uma sorte nossa. Se pegássemos só o Cildo já com a mostra na Tate poderia parecer uma coisa oportunista", avalia Moura. "Pude gravar horas de entrevista com o Cildo, ir a outras exposições dele, como no Museu da Vale, explorar seu pavilhão em Inhotim e conseguir filmar cenas em Londres."
O som é um dos pontos fortes do documentário. Obras sonoras de Meireles, como a pouco conhecida "Liverbeatlespool" (2004), produzida especialmente para a Bienal de Liverpool, e "Sal sem Carne" (1975), um dos trabalhos mais políticos do artista, ganham tratamento destacado na produção.
"Acho que o som atravessa a minha obra, tornou-se algo indissociável dela. E isso não apenas nos trabalhos sonoros, mas também em instalações onde elas ganham mais dramaticidade justamente pelo som, como, por exemplo o barulho do vidro quebrando em "Através" e a sobreposição das diversas emissoras de rádio em "Babel'", conta o artista.
O rádio, aliás, é uma das grandes influências na obra de Cildo. No documentário, ele frisa o quanto a transmissão radiofônica de "A Guerra dos Mundos" (1938), de Orson Welles, é uma das decisivas obras de arte do século 20. Um trecho da transmissão que causou pânico nos EUA ao ser veiculada é reproduzido em "Cildo".
"Como um produto audiovisual, o documentário potencializa essas relações entre som e imagem. Foi uma opção clara, então, usar pouquíssima trilha sonora e quase nada da voz em off de Cildo", afirma o diretor, que também reproduz trechos de "Cildo Meireles" (1979), documentário sobre o artista, realizado pelo jornalista e crítico Wilson Coutinho (1947-2003).
"Cildo" será exibido amanhã e no domingo, dia de encerramento da mostra da Tate. O título foi enviado à organização do festival de documentários É Tudo Verdade, que acontece em março e abril. "Mas mesmo que não seja selecionado, quero lançá-lo neste ano no Brasil, ainda que em um circuito pequeno", diz Moura.


Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.