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Doc sobre Cildo estreia na Tate
Filme sobre o artista brasileiro, que começou a ser rodado em 2005, explora bem suas obras sonoras
Cildo comenta no documentário a influência que sofreu de programas radiofônicos; mostra na Tate vai até o domingo
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crônica falta de recursos do
cinema nacional acabou contribuindo para o melhor resultado
de um documentário. "Cildo",
de Gustavo Moura, sobre o artista brasileiro Cildo Meireles,
será exibido pela primeira vez
amanhã, na Tate Modern, em
Londres. O filme teria perdido
força caso tivesse sido realizado em tempo mais reduzido.
"O pessoal da produção me
procurou inicialmente em
2005, quando havia uma exposição de desenhos minha no
CCBB do Rio. Ter acabado só
em 2008 foi uma vantagem; o
documentário adquiriu uma
velocidade bonita, mais expressiva", afirma Meireles, 60, cuja
obra, iniciada no final da década de 60, está exposta numa
elogiada mostra na Tate, que
acaba domingo.
"Rodar desde 2005 deu uma
outra característica ao filme.
Foi uma sorte nossa. Se pegássemos só o Cildo já com a mostra na Tate poderia parecer
uma coisa oportunista", avalia
Moura. "Pude gravar horas de
entrevista com o Cildo, ir a outras exposições dele, como no
Museu da Vale, explorar seu
pavilhão em Inhotim e conseguir filmar cenas em Londres."
O som é um dos pontos fortes
do documentário. Obras sonoras de Meireles, como a pouco
conhecida "Liverbeatlespool"
(2004), produzida especialmente para a Bienal de Liverpool, e "Sal sem Carne" (1975),
um dos trabalhos mais políticos do artista, ganham tratamento destacado na produção.
"Acho que o som atravessa a
minha obra, tornou-se algo indissociável dela. E isso não apenas nos trabalhos sonoros, mas
também em instalações onde
elas ganham mais dramaticidade justamente pelo som, como,
por exemplo o barulho do vidro
quebrando em "Através" e a sobreposição das diversas emissoras de rádio em "Babel'", conta o artista.
O rádio, aliás, é uma das grandes influências na obra de Cildo. No documentário, ele frisa
o quanto a transmissão radiofônica de "A Guerra dos Mundos" (1938), de Orson Welles, é
uma das decisivas obras de arte
do século 20. Um trecho da
transmissão que causou pânico
nos EUA ao ser veiculada é reproduzido em "Cildo".
"Como um produto audiovisual, o documentário potencializa essas relações entre som e
imagem. Foi uma opção clara,
então, usar pouquíssima trilha
sonora e quase nada da voz em
off de Cildo", afirma o diretor,
que também reproduz trechos
de "Cildo Meireles" (1979), documentário sobre o artista, realizado pelo jornalista e crítico
Wilson Coutinho (1947-2003).
"Cildo" será exibido amanhã
e no domingo, dia de encerramento da mostra da Tate. O título foi enviado à organização
do festival de documentários É
Tudo Verdade, que acontece
em março e abril. "Mas mesmo
que não seja selecionado, quero
lançá-lo neste ano no Brasil,
ainda que em um circuito pequeno", diz Moura.
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