São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"LIVE AT LEEDS"

Disco é registro da única turnê em que o grupo tocou a ópera-rock "Tommy" ao vivo

Show confirma supremacia do Who no palco

MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se você um dia tivesse a chance de conversar com um rock star das antigas e perguntasse qual o melhor show que ele viu na vida, a probabilidade de ele responder "The Who, no final dos anos 60" não é pequena.
Na virada dos 60 para os 70, o grupo estava no auge da forma e não encontrava muita competição nos palcos britânicos. Os Beatles não mais se apresentavam, o hard rock ainda engatinhava com Led Zeppelin e Black Sabbath e os Rolling Stones, por melhores que fossem, não eram páreo, ao vivo, para o quarteto liderado pelo guitarrista Pete Townshend.
A prova dessa supremacia está na nova edição do clássico "Live at Leeds", primeiro e melhor registro oficial da banda ao vivo. Pela primeira vez, é lançada a íntegra do concerto gravado em 14 de fevereiro de 70, na Universidade de Leeds. A grande atração desta nova versão de "Live at Leeds" é a execução de "Tommy", obra mais célebre do grupo. Lançada em 69, a ópera-rock sobre um garoto cego, surdo e mudo que é craque no pinball foi tocada ao vivo pela formação original do Who apenas nesta turnê.
Sobre "Tommy", é preciso reiterar que, apesar do pomposo título ópera-rock, a obra é muito mais rock do que ópera e não lembra em quase nada extravagantes trabalhos de grupos da época.
Esta versão ao vivo, que está separada no disco 2, não traz todas as músicas do "Tommy" original e é tocada em andamento mais acelerado, deixa isso bem claro. Em pouco mais de 50 minutos, o público da apresentação viaja pela saga, que tem como destaque as faixas "Overture", "Go to the Mirror" e "We're Not Gonna Take It".
No primeiro CD aparecem alguns dos maiores sucessos do quarteto, como "I Can't Explain", "Substitute" e "Happy Jack", em versões diretas, energéticas.
O hino "My Generation" é outro destaque. A faixa, com 15 minutos de duração, revisita vários temas de "Tommy" e mostra que a química entre os integrantes do grupo era fantástica. Também aparecem as covers "Summertime Blues", "Shakin" All Over", "Fortune Teller" e o blues "Young Man Blues", em versão que lembra o Led Zeppelin da época.
"I'm a Boy" e "A Quick One, While He's Away" são ensaios para "Tommy", tentativas anteriores de Townshend em criar uma ópera-rock. Mas o Who de "Live at Leeds" felizmente não tinha sucumbido aos vícios do rock de arena. A banda não perde tempo com firulas e proporciona à audiência verdadeiro ataque sônico.
Ao contrário das convencionais bandas de rock, no Who a dita "cozinha" (bateria e baixo) não faz o papel de suporte para guitarra e voz. Os riffs de Townshend é que são a base para que John Entwhistle passeie pelas cordas do baixo e para que Keith Moon sole praticamente o tempo inteiro, descendo o braço na bateria, sem fazer questão de marcar o ritmo.
Esse estilo revolucionário fica bastante evidente no melhor momento do show, a impressionante faixa de abertura, "Heaven and Hell". De cara, fica óbvio que o grande destaque da noite é o incansável Moon. Pegue seu ingresso e prepare os ouvidos, porque o espetáculo é inesquecível.

Live at Leeds     
Artista: The Who
Lançamento: Polydor/Universal
Quanto: R$ 50, em média


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