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CINEMA
"Comédia de maus costumes" escrita por Tutty Vasques deve estrear em setembro
Filme "oportunista" quer fazer rir do jogo eleitoral
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
No jogo eleitoral, o trio formado
pelo humorista Tutty Vasques, o
diretor Moacyr Góes e o produtor
de cinema Diler Trindade anuncia sua entrada em campo, do lado dos oportunistas.
"Vamos fazer um filme oportunista sobre as eleições, mas no
sentido da oportunidade. Como
tudo, o oportunismo tem dois
sentidos", suaviza Trindade.
"É um filme sobre o que a gente
está vivendo agora, do tipo que
explodirá em dez segundos, que
deve ser consumido naquele momento. Essa é a empreitada: preconizar a urgência da realidade",
afirma Góes.
Maus costumes
Vasques, que assina o roteiro,
em seu primeiro trabalho no cinema, define: "É uma comédia de
maus costumes".
"Tá Dominado", o nome do petardo, tem previsão de filmagens
para julho, com lançamento idealizado para setembro, véspera das
eleições presidenciais no Brasil.
O ato que desencadeia a trama é
o desaparecimento de um jovem
promotor de Justiça, que ocorre
durante uma campanha eleitoral
e no momento em que a vítima
está prestes a desbaratar uma rede
de contrabando de armas.
Das incontáveis hipóteses sobre
a motivação do desaparecimento
surge o retrato de "um país de cabeça para baixo, onde os políticos
vendem voto, a polícia vende droga, e os juízes vendem sentença",
exemplifica Trindade.
Tráfico
Como tudo "está dominado", é
possível inclusive que o promotor
seja ele também um criminoso,
envolvido com tráfico e escândalos sexuais. "É uma história tão
inverossímil quanto qualquer outra que a gente vê no "Jornal Nacional'", diz Vasques.
A bandalheira geral é ocasião
para que diversos personagens repitam no filme o bordão "basta!".
O roteirista diz, no entanto, que a
intenção do longa "é tirar graça da
indignação" e até zombar dela.
"Há uma espécie de indignação
que é paralisante e transforma a
vida em algo muito chato. O filme
busca um jeito de escapar disso.
Não quer ser pessimista, denuncista ou apontar: olha como as
coisas estão erradas", afirma.
Por isso, nem só os temas de alto
relevo serão ironizados por Vasques mas também as pequenas
chateações do dia-a-dia. "Cada
vez que o telefone toca e parece
que haverá uma informação importante sobre o paradeiro do
promotor, na verdade, é uma ligação de telemarketing", conta.
Na versão do produtor, a oportunidade que "Tá Dominado"
oferecerá ao espectador é a de divertir-se, reconhecendo que "rir é
o único remédio".
Voto
O trio diz que não há em sua ficção a intenção de influenciar votos nas eleições reais que o Brasil
terá neste ano. "Instrumentalizar
o filme é reduzi-lo demais. Não é
um filme antipetista, mas é sobre
práticas que quem as fizer poderá
ficar incomodado", afirma Góes.
O diretor quer evitar também a
associação do filme com o reforço
da idéia de que a prática da corrupção é intrínseca ao caráter do
brasileiro. "Eu, particularmente,
acho que esse não é o nosso jeito.
É o jeito que as coisas estão."
Mas, também na opinião de
Góes, as coisas estão desajeitadas
"demais" em torno do cidadão
que tenta levar a vida trabalhando. "Você é achacado todo dia, de
todos os lados, pô."
Trindade estima gastar R$ 2 milhões na produção do longa e pretende reuni-los com o patrocínio
das leis federais de incentivo ao cinema, "evidentemente, já que só
assim se faz filmes no Brasil hoje".
A escalação do elenco ainda não
está acertada. Diler responsabiliza
o roteiro. "Quando você convida
um ator, a primeira coisa que ele
pede é para ler o roteiro. O nosso
ainda não está pronto", diz.
Barbaridades
Mas Vasques escreve antevendo
intérpretes para seus personagens. No papel do taxista que tem
o hábito de dizer barbaridades
aos passageiros, ele quer ver o
músico punk e VJ João Gordo,
por sua aproximação com o personagem. "Tem que ser o cara
mais escroto", diz. Trindade prevê: "Agora que você disse isso ele
não aceita". O roteirista discorda:
"Aceita, sim. Ele vai achar legal".
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