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Piaf abre a competição em Berlim
Longa francês que recupera a trajetória da cantora Édith Piaf inaugura hoje a disputa de 22 títulos pelo Urso de Ouro
O filme brasileiro "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, concorre ao prêmio; diretor faz documentário em Berlim
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Festival de Berlim começa
hoje sua 57ª edição com o filme
"La Vie en Rose", em que o diretor francês Olivier Dahan reconstitui a trajetória da cantora
Édith Piaf (1915-1963).
A extraordinária biografia de
Piaf -que superou uma infância de privação e se tornou o
ícone máximo da canção francesa- confere a Dahan a oportunidade de contar, também,
parte da história de um tempo
(a primeira metade do século
20), de um país (a França), e de
sua relação com a cultura.
A imbricação de um personagem singular com um pano de
fundo histórico é comum a boa
parte dos 22 longas que lutam
para ganhar, no próximo dia 17,
o Urso de Ouro -principal prêmio do Festival de Berlim, ramo da trinca de ouro das mostras cinematográficas, ao lado
das de Cannes e Veneza.
O brasileiro "O Ano em que
Meus Pais Saíram de Férias",
de Cao Hamburger, visto por
334 mil espectadores no Brasil,
está na disputa e compartilha o
recurso de encarar uma sociedade, num de seus momentos
cruciais, com foco sobre um
percurso individual.
Ditadura
Aqui, é o garoto Mauro (Michel Joelsas) quem vê sua infância ser tumultuada por uma
temporada de exílio involuntário na casa do avô, quando a ditadura militar brasileira dos 70
leva seus pais, militantes políticos, à clandestinidade.
Descendente de judeus alemães que fugiram para escapar
do nazismo, Hamburger diz
que visitará pela primeira vez a
cidade de seus avós e bisavós
"sem nenhum rancor", até porque se considera "filho da possibilidade da coexistência pacífica" e parte da geração que "já
não sofreu com aquilo".
Mas o diretor pretende trazer à tona resquícios do passado, iniciando, durante o festival, o documentário "Um Terreno em Berlim", sobre uma
propriedade de seus antepassados, que o governo alemão tenta devolver aos descendentes.
"Esse terreno foi confiscado
pelos nazistas. Como ficava em
Berlim Oriental, tornou-se depois posse dos comunistas.
Agora, querem entregá-lo de
volta", conta. Assunto de família que é, o documentário terá
assistência de direção de Tom
Hamburger, 17, filho de Cao
que estréia no cinema.
A produtora Gullane Filmes
tentará atrair co-produtores
internacionais para o documentário no mercado de filmes, paralelo ao festival.
Prêmios
O Brasil não contava com um
longa na competição do Festival de Berlim desde 1998, quando "Central do Brasil", de Walter Salles, venceu o Urso de Ouro e o Urso de Prata de melhor
atriz (Fernanda Montenegro).
Hamburger diz que não se
sente pressionado a também
trazer um troféu para casa.
"Não estou nem me cobrando
[prêmios] nem com expectativa, apesar de achar que o filme
tem qualidades", afirma.
Dos organizadores de Berlim
que selecionaram seu filme, o
diretor ouviu elogios ao desempenho do elenco e também comentários de que o titulo é "tocante e bem filmado".
"O Ano em que Meus Pais
Saíram de Férias" estréia amanhã no festival. Será o segundo
longa a ser apresentado em
competição. Pela manhã, ocorre projeção para a imprensa, seguida de entrevista coletiva. À
tarde, sessão oficial de gala. A
Embaixada do Brasil em Berlim oferece coquetel ao diretor
e à equipe, após a maratona.
Os atores Michel Joelsas, Daniela Piepszyk (Hanna) e Germano Haiuf (Schlomo) acompanham Hamburger na sessão,
assim como Cláudio Galperin e
Anna Muylaert (roteiristas),
Daniel Rezende (montador),
Cássio Amarante (diretor de
arte) e Caio e Fabiano Gullane
(produtores).
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