Grupos fundem ritmos tradicionais e modernidade

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem comparecer ao Auditório Ibirapuera mais de uma vez neste fim de semana poderá encontrar dois cenários distintos e, ao mesmo tempo, parecidos. Hoje e amanhã, os argentinos da Orquestra Típica Fernández Fierro tomam o palco para provar que o tango não precisa de batidas eletrônicas para soar moderno. Já os americanos do Ozomatli, atração do domingo, ganharam destaque no underground justamente por fundir ritmos latinos tradicionais com estilos contemporâneos, como o hip hop.
Mesmo sonoramente distantes, os grupos possuem muitas semelhanças. Ambos são numerosos e irreverentes. O repertório da Fernández Fierro varia de clássicos do tango a temas próprios afinados com a escola do gênero. Ao vivo, porém, os músicos se portam como roqueiros. O crooner Walter "Chino" Laborde, quando não está concentrado nas ardidas letras, entretém os espectadores com piadinhas e arremessos de CDs -o mais recente se chama "Mucha Mierda".

Cadeiras
Sem dois importantes membros fundadores -o DJ Cut Chemist e o MC Chali 2na-, o Ozomatli apresenta a turnê de seu quarto álbum de inéditas, "Don't Mess with the Dragon". Pelo telefone, o baterista Justin "El Niño" Porée, um fã de pagode e capoeira, ficou surpreso ao descobrir que a apresentação será num lugar com cadeiras. "Obrigaremos as pessoas a deixarem seus lugares!"
Seja partindo da salsa, da cumbia ou do funk latino, o objetivo final do Ozomatli é sempre fazer o público sacudir. Só não deve prestigiar o Ozomatli quem não agüenta mais ouvir artistas americanos reclamando de seus governantes. Dono de músicas de protesto como "Magnolia Soul", sobre o descaso das autoridades com as vítimas do Katrina, o grupo é daqueles que incitam a audiência a gritar "fuck, Bush". "É difícil não falar mal do nosso governo", diz Porée. "Mas, já que você comentou isso, vou pedir para a banda maneirar no show daí."