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ARTES PLÁSTICAS
O crítico Carlos von Schmidt, ex-curador da Bienal, lança "Na Cama com Picasso" ainda em março
Livro visita a alcova de Pablo Picasso
ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local
O pintor andaluz Pablo Ruiz Picasso (1881-1973) já virou mesmo
um popstar. Por que, então, não o
tratar literalmente assim, às claras,
sem os rigores da academia?
É o que parece pensar Carlos von
Schmidt, crítico de arte, 67 anos,
curador da Bienal Internacional de
São Paulo em 1979, um longo rabo-de-cavalo grisalho.
Ele acaba de escrever o livro "Na
Cama com Picasso", que tem 144
páginas e 30 capítulos curtos. O
lançamento está previsto para o
dia 27, no Museu Brasileiro de Escultura, zona sul paulistana.
O título do trabalho, dispensável
dizer, tira uma casquinha de "Na
Cama com Madonna", o documentário de 1990 que prometia
desnudar a já desinibida cantora e
atriz norte-americana (mostrava-a, por exemplo, simulando sexo oral em uma garrafa).
O livro de Schmidt segue trilha
parecida. Concentra-se, basicamente, na alcova de Picasso. Pretende jogar luz sobre os principais
casos amorosos do pintor e demonstrar como interferiram em
tudo o que o espanhol produziu.
Não defende nenhuma tese espetacular. "Quero provar apenas
que a vida e a obra do artista andaram juntas", define o autor, à
vontade com o lugar-comum.
"Como Madonna, Picasso adorava se exibir", prossegue. "Cultivava o marketing sexual. Era o
arauto das próprias performances,
que contava em detalhes nos bares, brasseries e restaurantes."
Para Schmidt, o livro poderia se
chamar "Os Lençóis de Picasso".
Para a dramaturga Maria Adelaide
Amaral, que assina o prefácio, outro título de inspiração cinematográfica também lhe cairia bem: "O
Que Você Gostaria de Saber sobre
Picasso, mas Tem Medo de Perguntar".
Tanta atenção à intimidade do
pintor não acaba banalizando o
gênio, como ocorreu no recente
filme de James Ivory, "Os Amores
de Picasso"?
Schmidt se confessa despreocupado com a questão -e o prova
mais uma vez. Caminha até a estante próxima e saca dali a capa do
livro, ainda inacabada.
Vê-se, então, a foto de uma jovem na cama, usando camisolinha
e desfiando um olhar de tédio.
Para conceber o volume, que sairá com tiragem de 1.500 exemplares e custará R$ 25, Schmidt se
apoiou em uma bibliografia de 40
títulos.
A lista contempla raridades como "Picasso", que Gertrude
Stein publicou há quase 60 anos.
Também inclui obras indispensáveis para quem deseja conhecer
o pintor. As principais: "Le Siècle
de Picasso" (Pierre Cabanne,
1975), "Picasso Creator and Destroyer" (Arianna Huffington,
1988) e "A Life of Picasso" (John
Richardson, volume 1, 1991).
Praticamente tudo o que
Schmidt aborda vem dos 40 títulos. "Na Cama com Picasso",
portanto, não traz informações
novas. Escrito coloquialmente, à
moda das crônicas, o livro traça o
perfil das sete mulheres com quem
o artista manteve relações duradouras (leia quadro abaixo).
Mas há páginas dedicadas às
amantes ocasionais -aquelas
duas ou três mocinhas que, reza a
lenda, o "minotauro de Málaga"
costumava devorar por dia.
A acrobata Nush Éluard é uma
delas. Loira de olhos azuis, dividia-se entre o leito do marido (o
poeta Paul Éluard) e o de Picasso.
O livro destaca, ainda, uma faceta obscura do artista e rejeitada por
biógrafos como John Richardson:
o dom Juan compulsivo teria se
envolvido com homens, principalmente durante a juventude.
Esmiuça-se, entre outros, o caso
de um cigano que o pintor conheceu num vilarejo espanhol em
1898, enquanto convalescia de escarlatina (leia trecho à direita).
O autor encerra o volume com
uma carta de intenções, esclarecendo por que o escreveu: "Este
livro não é e não pretende ser um
estudo da obra picassiana. Longe
disso! É uma biografia interpretativa não autorizada".
A biografia, porém, se ressente
da falta de ilustrações. Não há nenhuma ao longo das 144 páginas.
Explica-se: as duas pequenas editoras do livro (a Artes e a Digital)
não tiveram condições de pagar os
direitos de reprodução.
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