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Colagem de músicas é nova mania entre jovens europeus e ganha adesão do "mainstream"
Pop bastardo
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Parido a partir dos computadores de entediados jovens europeus, um novo meio de fazer música começa a chamar a atenção
de indústria e imprensa especializadas: o "bastard pop" (pop bastardo). Desde o punk o conceito
"faça você mesmo" nunca se encaixou tão bem a um gênero.
A idéia é simples: juntar e/ou sobrepor duas ou mais canções conhecidas, gerando "cria" às vezes
mais excitante do que as originais.
Exemplo: "A Stroke of Genius"
("duelo" dos Strokes com a pós-teen Christina Aguilera).
Astros pop já estão embarcando
na onda "bastard" -ou "hybrid
tunes", "mash-up", "bootleg"-,
que congestiona sites de down-
load na internet. Em sua apresentação no último Brit Awards, dia
20 de fevereiro, Kylie Minogue
cantou a sua "Can't Get You Out
of My Head" em cima da base de
"Blue Monday", clássico do New
Order. A australiana gostou tanto
que vai lançar a versão em single.
Nesta semana, nas passarelas de
Milão, a estilista Consuelo Castiglioni colocou como trilha sonora
de seu desfile de alta-costura "Get
UR Faith On", mix de canção da
diva hip hop Missy Elliott com
George Michael. No ano passado,
esse "bastard" foi tocado em horário matinal na Radio 1 inglesa
pela DJ/musa Sara Cox. No mesmo dia, o próprio Michael ligou à
emissora para saber onde conseguiria descolar a música...
Mais: outra rádio inglesa, a Xfm,
colocou em sua programação "A
Stroke of Genius". Mas, em quatro dias, teve que tirá-la do ar após
ser ameaçada judicialmente por
uma gravadora. "Todo mundo
queria essa faixa. Recebemos ligações da Radio 1, Virgin [rádio],
NME [New Musical Express]
implorando por aquela música",
disse à Folha Edward Temple-Morris, DJ da Xfm.
Nos últimos meses, "bastard
pop" virou febre entre adolescentes europeus. "Toda semana chegam cerca de cem "bootlegs" para
nós. A maioria não tem qualidade, mas, no meio disso, sempre
descobre-se uma pérola", afirma
Temple-Morris.
Foi assim que a emissora descobriu "A Stroke of Genius". A versão foi criada por um jovem inglês
conhecido por The Freelance
Hellraiser. "Eu sabia que "Genie in
a Bottle" [Christina Aguilera" era
uma canção lenta, enquanto
"Hard to Explain] [Strokes] tinha
quase o dobro de sua velocidade
nos vocais. Foi apenas uma questão de sorte que, apesar disso, elas
funcionaram tão bem juntas",
disse o DJ à Folha.
Segundo Hellraiser, a inspiração para cair no mundo "bastard
pop" veio de Fatboy Slim. "Ouvi
um mix que ele fez com uma música do Outkast [dupla de hip
hop" e decidi que era aquilo que
eu queria fazer."
O top DJ, que esteve no Brasil
para o Free Jazz do ano passado, é
responsável por um já clássico do
gênero: "The Satisfaction Skank",
resultado de sua "The Rockafeller
Skank" com a manjada "Satisfaction", do Rolling Stones.
O crescimento dessa nova cena
pode ser medido pelo sucesso da
"King of the Boots", noite gratuita
londrina dedicada exclusivamente aos "bastard pop".
A atmosfera do lugar está sendo
comparada à "Heavenly Social",
histórica residência do Chemical
Brothers no porão de um pub londrino em 1994. Na época, antes de
seu sucesso, a dupla arrastava
descolados intercalando músicas
de rockers como Oasis com batidas de tecno e big beat. Foi ali que
grande parte da cultura dance da
cidade tomou forma. Além de
Hellraiser, a "King of the Boots" é
promovida por Osymyso (leia
texto abaixo) e pelo Cartel Communique, os três nomes mais conhecidos no meio "bootleg".
Cartel Communique é uma dupla de adolescentes "anarquistas e
psicopatas musicais" que, não
contente com mixes de áudio, faz
colagens com imagens.
Uma de suas "vítimas" foi a
emissora britânica BBC, que teve
um de seus vídeos misturado a
uma animação e distribuído pela
internet. "O que fazemos é uma
reação às produções excessivamente rebuscadas que se encontram por aí. O sampler tem grande influência na cultura musical e
ainda é bem pouco utilizado em
vídeo. Queremos mudar isso",
afirma Jonny Dixon, do Cartel.
"Para fazer um "bootleg", basta
um equipamento básico, um software de edição musical e pronto.
É a própria ética punk: qualquer
um pode fazer isso", diz Dixon.
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