|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Festival inclui pré-estréia de "A Luta" e apresentação das primeiras três peças sobre o livro de Euclydes da Cunha
Oficina leva "Os Sertões" para a Alemanha
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante a Guerra de Canudos
(1896-97), no sertão baiano, o
Exército incluía no aparato bélico
os canhões Krupp para intimidar
os resistentes jagunços de Antônio Conselheiro.
Essa peça de artilharia era fabricada na região de Ruhr, norte da
Alemanha, onde está localizada a
cidade de Marl. Será justamente
ali, num galpão pertencente a
uma mineradora de carvão, que o
grupo Oficina Uzyna Uzona apresentará sua transposição do épico
"Os Sertões", de Euclydes da Cunha (1866-1909) para o teatro.
Evento internacional com sede
em Recklinghausen -no norte
do país-, o Ruhrfestspiele (festival de Ruhr, em português) convidou a companhia do diretor José
Celso Martinez Corrêa para um
projeto especial que se estende à
vizinha Marl.
O Oficina fará a pré-estréia do
quarto espetáculo, "A Luta".
Também serão apresentadas "A
Terra", "O Homem - Do Pré-Homem à Revolta" e "O Homem -Da
Revolta ao Trans-Homem", encenações anteriores que, antes, ganham retrospectiva no Bexiga
(leia texto ao lado).
O curador do festival, Matthias
Pees, reuniu-se no último sábado,
em São Paulo, com o ator Marcelo
Drummond, responsável pela
produção do Oficina. Eles acertaram os últimos detalhes. Cerca de
60 pessoas, entre elenco e equipe
técnica, embarcam para oito
apresentações, duas de cada peça,
entre 20 e 31 de maio.
Segundo Pees, 34, a companhia
brasileira vai ocupar o galpão
Grubenausbauwerkstatt, que já
serviu de oficina para manutenção das máquinas de extração de
carvão. Será criado espaço que
lembre o teatro Oficina, com sua
passarela e platéia disposta na lateral (600 pessoas). Além de "Os
Sertões", o segmento teatral do
Ruhrfestspiele, que começa no
dia 30 de abril, vai até até 13 de junho e se espraia para áreas de
dança, música e instalações, programou o grupo de rua do coreógrafo Bruno Beltrão, de Niterói,
que leva quatro peças.
Entre os artistas internacionais,
participam o argentino-espanhol
Rodrigo García, com a cia. La Carnicería Teatro, e o coreógrafo
francês Philippe Jamet.
Pees afirma que a trajetória do
festival, lançado em 1946, é marcada pela resistência. Surgiu no
pós-guerra como contraponto ao
mais tradicional festival de música alemã, o de Bayreuth, dedicado
à obra do compositor alemão Richard Wagner. Foi uma iniciativa
dos sindicatos dos trabalhadores
mineiros que não tinham acesso à
alta cultura.
O diretor-artístico do Ruhrfestspiele, o também encenador
Frank Castorf, orientou a curadoria a trabalhar neste ano com o tema "Sem Medo" ("No Fear").
"Sem medo do sistema social que
está caindo na Alemanha e em
outros países; sem medo do terrorismo que controla nossos sentidos; sem medo de apostar na vanguarda que não seja novidadeira;
sem medo de que o espectador
alemão não veja as atrações; enfim, sem medo de fazer festival
que traga um projeto como "Os
Sertões'", diz Pees.
Legendas
A cada sessão, haverá cerca de
45 minutos de introduções sobre
"Os Sertões", pelo professor de literatura latino-americana e língua portuguesa na Universidade
de Berlim, Berthold Zilly, que traduziu o épico de Euclydes da Cunha para o alemão dez anos atrás.
Parte das falas será legendada.
O curador do Festival Internacional de Teatro de São José do
Rio Preto (SP), Ricardo Fernandes, também confirma "Os Sertões" para a edição de 2004.
Texto Anterior: Artes plásticas: 26ª Bienal de SP encolhe representação nacional Próximo Texto: Retrospectiva exibe peças anteriores Índice
|