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José Resende estende varal de referências
DA REPORTAGEM LOCAL
A principal sala de exposições
do Centro Universitário Maria
Antonia é, apesar de um espaço
privilegiado, uma pequena armadilha para quem vai mostrar trabalhos de artes plásticas ali. Entremeada por colunas, representa
uma competição com o próprio
trabalho, e os modos de o artista
encarar esse problema acabam
sendo um trabalho à parte.
No caso de José Resende, 60,
que mostra uma série de 130 camisas brancas abotoadas umas às
outras naquele espaço, a partir da
próxima quinta-feira, o jeito foi
"orientar a circulação" através de
lençóis igualmente brancos, que
se tornaram parte da obra.
"É uma correção do espaço que
me parece necessária e é uma maneira delicada de dirigir o espectador, mas os lençóis vão estar
"sambando", se mexendo", diz. Do
chão da sala, ventiladores fazem o
mar de pano se manter em constante movimento.
"A referência mais imediata
desse trabalho é o varal, que, em
geral, mais recentemente, se dá de
modo um pouco diverso, mas é
uma estrutura muito rapidamente reconhecível", explica Resende.
"Nesse sentido, a tensão aparece
como um dos procedimentos que
já foram, de outras maneiras e
com outras características, usados no meu trabalho." As referências são os vagões de trem suspensos no ArteCidade e o tapete de
borracha comprimido.
A obra das camisas, sem título,
foi exposta pela primeira vez no
Paço Imperial, no Rio de Janeiro,
em 2002, sem os lençóis e com a
metade do número de camisas,
por causa do espaço. Para Resende, a mostra aqui "foi boa para repensar o trabalho".
Abotoar camisa a camisa, uma
na outra, foi "um quebra-cabeça".
"É um trabalho meio de chinês,
abotoar, abotoar, abotoar, para
que o resultado não ficasse muito
gesticulante", explica.
Amanuense Belmiro
As referências caminham para
além da imagem popular do varal
ou de obras anteriores do próprio
artista, e brotam de acordo com o
repertório do espectador. Para
Resende, a camisa branca é uma
referência da burocracia, e o ventilador contribui para essa imagem de repartição pública. "O
amanuense Belmiro [personagem do romance homônimo de
Cyro dos Anjos] passeia por
aqui", brinca. O artista também
cita um diálogo da obra com as
cenas finais de "Cinzas e Diamantes", filme dirigido pelo polonês
Andrzej Wajda em 1958.
"As camisas criam um corpo
outro, que ocupa esse lugar. É
uma coisa meio cênica, uma espécie de estranho respirando aqui."
Além do trabalho de Resende, o
Centro Universitário Maria Antonia recebe obras de artistas Rodrigo Matheus, Eurico Lopes e Ricardo Bezerra, além dos jovens artistas selecionados pelo Projeto Nascente.
(AM)
José Resende
Onde: Centro Universitário Maria
Antonia (r. Maria Antonia, 294, Vila
Buarque, SP, tel. 0/xx/11/ 3237-1815)
Quando: abre dia 10, às 20h. De seg. a
sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h
às 18h. até 17/4
Quanto: entrada franca
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