São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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José Resende estende varal de referências

DA REPORTAGEM LOCAL

A principal sala de exposições do Centro Universitário Maria Antonia é, apesar de um espaço privilegiado, uma pequena armadilha para quem vai mostrar trabalhos de artes plásticas ali. Entremeada por colunas, representa uma competição com o próprio trabalho, e os modos de o artista encarar esse problema acabam sendo um trabalho à parte.
No caso de José Resende, 60, que mostra uma série de 130 camisas brancas abotoadas umas às outras naquele espaço, a partir da próxima quinta-feira, o jeito foi "orientar a circulação" através de lençóis igualmente brancos, que se tornaram parte da obra.
"É uma correção do espaço que me parece necessária e é uma maneira delicada de dirigir o espectador, mas os lençóis vão estar "sambando", se mexendo", diz. Do chão da sala, ventiladores fazem o mar de pano se manter em constante movimento.
"A referência mais imediata desse trabalho é o varal, que, em geral, mais recentemente, se dá de modo um pouco diverso, mas é uma estrutura muito rapidamente reconhecível", explica Resende. "Nesse sentido, a tensão aparece como um dos procedimentos que já foram, de outras maneiras e com outras características, usados no meu trabalho." As referências são os vagões de trem suspensos no ArteCidade e o tapete de borracha comprimido.
A obra das camisas, sem título, foi exposta pela primeira vez no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2002, sem os lençóis e com a metade do número de camisas, por causa do espaço. Para Resende, a mostra aqui "foi boa para repensar o trabalho".
Abotoar camisa a camisa, uma na outra, foi "um quebra-cabeça". "É um trabalho meio de chinês, abotoar, abotoar, abotoar, para que o resultado não ficasse muito gesticulante", explica.

Amanuense Belmiro
As referências caminham para além da imagem popular do varal ou de obras anteriores do próprio artista, e brotam de acordo com o repertório do espectador. Para Resende, a camisa branca é uma referência da burocracia, e o ventilador contribui para essa imagem de repartição pública. "O amanuense Belmiro [personagem do romance homônimo de Cyro dos Anjos] passeia por aqui", brinca. O artista também cita um diálogo da obra com as cenas finais de "Cinzas e Diamantes", filme dirigido pelo polonês Andrzej Wajda em 1958.
"As camisas criam um corpo outro, que ocupa esse lugar. É uma coisa meio cênica, uma espécie de estranho respirando aqui."
Além do trabalho de Resende, o Centro Universitário Maria Antonia recebe obras de artistas Rodrigo Matheus, Eurico Lopes e Ricardo Bezerra, além dos jovens artistas selecionados pelo Projeto Nascente. (AM)


José Resende
Onde:
Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, Vila Buarque, SP, tel. 0/xx/11/ 3237-1815)
Quando: abre dia 10, às 20h. De seg. a sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h. até 17/4
Quanto: entrada franca


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