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"Homem quer mulher como platéia"
Para ensaísta, pelo fato de o humor ser um sinal de inteligência, homens não querem que as mulheres sejam engraçadas
Christopher Hitchens diz ainda que a necessidade de fazer o sexo feminino rir ajudou a desenvolver o senso de humor dos machos
CHRISTOPHER HITCHENS
DA "VANITY FAIR"
Seja qual for seu gênero, você
certamente já deve ter ouvido o
seguinte comentário da boca de
uma amiga que está enumerando os encantos de um novo pretendente (homem): "Ele é bonitinho, trata minhas amigas
bem, sabe um monte de coisas e
é super, superdivertido..." (Se
você próprio é homem e conhece o sujeito em questão, com
freqüência já deve ter se perguntado: "Divertido? Ele não
reconheceria uma piada se ela
lhe fosse servida sobre alface
regada a molho "béarnaise'").
Mas eis uma coisa que você
jamais vai ouvir da boca de um
amigo homem que está elogiando os encantos de sua conquista (mulher) mais recente:
"Ela é um doce-de-coco, tem vida própria, .... [pausa para a
enumeração de atributos que
não são de sua conta] e, cara, ela
me faz rolar de tanto rir".
Por que isso? Quero dizer,
por que razão isso acontece?
Por que as mulheres, que têm o
mundo masculino inteiro a
seus pés, não são engraçadas?
Por favor não se faça de desentendido -não faça de conta que
não sabe do que estou falando.
Tá bom -experimentemos
pelo outro lado (como disse o
bispo à "barwoman'). Por que os
homens, em média e como um
todo, são mais divertidos que as
mulheres? Bom, para começo
de conversa, eles não têm muita saída senão ser engraçados.
A tarefa mais importante que
o homem precisa desempenhar
na vida é impressionar o sexo
oposto, e a Mãe Natureza (como a chamamos, em tom de
brincadeira) não foi gentil com
os homens. Na verdade, ela
equipa muitos de nós com armamentos muito parcos para
encarar essa briga.
Um homem mediano tem
apenas uma chance, e ela não é
muito grande, então é bom que
ele seja capaz de fazer a dama
dar risada. Fazer as mulheres
rir tem sido uma das preocupações cruciais de minha vida.
Se você conseguir levá-la a rir
-estou falando daquela risada
verdadeira, ruidosa, com a cabeça para trás e a boca aberta
para expor todos os dentes, involuntária, plena, que vem do
fundo da garganta; o tipo de riso que é acompanhado por espanto e uma leve (não, melhor
-uma barulhenta) gargalhada
de prazer- bem, então você terá pelo menos conseguido que
ela se solte e mude de expressão. Não entrarei em detalhes.
As mulheres não têm a menor necessidade correspondente de agradar aos homens
dessa maneira. Elas já agradam
a eles, se é que você me entende. Agora temos o prazer de dispor de um estudo científico que
lança luz sobre essa diferença.
Na Escola de Medicina da
Universidade Stanford (um lugar onde eu certa vez fui submetido a um procedimento hilário realizado com um sigmoidoscópio), os pesquisadores seríssimos mostraram a dez homens e dez mulheres uma
amostra de 70 charges em preto-e-branco e pediram que atribuíssem "notas" a cada uma,
segundo uma "escala de graça".
Anexo, um exemplar da linguagem do estudo, conforme
foi resumido na "Biotech
Week": "Os pesquisadores
constataram que homens e mulheres compartilham boa parte
do mesmo sistema de reação ao
humor; ambos utilizam em
grau semelhante a parte do cérebro responsável pelo conhecimento e a justaposição semânticos e a parte envolvida no
processamento da linguagem.
Mas constataram que algumas
regiões cerebrais eram mais
ativadas nas mulheres. Estas
partes incluíram o córtex pré-frontal esquerdo, o que sugere
uma ênfase maior no processamento de linguagem e executivo entre as mulheres, e o "nucleus accumbens" ... que faz parte do centro de recompensas do
mesolímbico."
O texto possui todo o encanto da tentativa feita pelo professor Scully de definir um sorriso, conforme citada por Richard Usborne em seu tratado
sobre P.G. Wodehouse: "O afastamento e levantamento ligeiro
dos cantos da boca, descobrindo parcialmente os dentes; a
curvatura das rugas naso-labiais...". Mas, espere -a coisa
fica ainda pior.
"As mulheres pareceram ter
menos expectativa de recompensa, que, no caso, era a parte
final da piada", disse o autor do
estudo, dr. Allan Reiss. "Assim,
quando chegavam a essa parte,
ficavam mais gratificadas com
ela." O estudo também concluiu que "as mulheres são
mais rápidas em identificar
materiais que consideram não
ser engraçados".
Demoram mais a entender
uma piada, ficam mais gratificadas quando isso acontece,
são rápidas em identificar o que
não acham engraçado -e para
isso precisávamos da Escola de
Medicina da Universidade
Stanford? E, vejam bem, essas
foram mulheres às quais se
apresentou material de humor.
Não surpreende que elas sejam
menos capazes de gerá-lo.
Sinal de inteligência
Isso não significa que as mulheres sejam destituídas de humor, nem que não possam ser
grandes humoristas e comediantes. Aliás, se elas não operassem no comprimento de onda do humor, não adiantaria
muito nos matarmos para tentar fazer com que se contorçam
de tanto rir. O humor, afinal, é
sintoma infalível de inteligência. Os homens riem de praticamente qualquer coisa, muitas
vezes precisamente por serem
-ou porque eles são- extremamente estúpidas. As mulheres não são assim. E as comediantes e humoristas entre elas
são incomparáveis: Dorothy
Parker, Nora Ephron, Fran Lebowitz, Ellen DeGeneres.
Com ousadia extrema -pelo
menos foi o que pensei-, decidi
telefonar para Lebowitz e Ephron para testar minhas teorias.
Fran respondeu: "Os valores
culturais são masculinos; que
uma mulher diga que um homem é engraçado equivale ao
homem dizer que a mulher é
bonitinha. Além disso, boa parte do humor é agressivo e preventivo, e o que existe de mais
masculino que isso?". Nora
Ephron não discordou. Mas, de
uma maneira que me pareceu
um pouco felina, ela me acusou
de plagiar um discurso de Jerry
Lewis que disse mais ou menos
a mesma coisa. (Só vi Jerry Lewis em ação uma vez, em "O Rei
da Comédia", em que na realidade quem era engraçada era
Sandra Bernhard).
De qualquer maneira, meu
argumento não afirma que não
existem humoristas mulheres
de bom nível. Há mais humoristas mulheres péssimas do
que humoristas homens péssimos, mas existem algumas damas impressionantes lá fora.
Entretanto, se você olhar
mais de perto, verá que a maioria delas ou é gorda, ou lésbica,
ou judia, ou então um misto das
três coisas. Quando Roseanne
se levanta para contar piadas
sobre motoqueiros e convida
quem não curte seu humor a
chupar seu pau -você está me
entendendo? A facção sáfica
pode ter suas razões para desejar o mesmo que eu desejo -a
doce entrega do riso feminino.
E o humor judaico, sempre fervilhando de autodepreciação e
angústia existencial, é quase
masculino por definição.
Substitua "autodepreciação"
por autodefecação (termo que
eu realmente ouvi sendo usado
inadvertidamente uma vez), e
quase todos os homens rirão
imediatamente, nem que seja
apenas para passar o tempo.
Mergulhe um pouco mais
fundo, porém, e você entenderá
o que Nietzsche quis dizer
quando descreveu um chiste
como sendo um epitáfio sobre a
morte de um sentimento.
O humor masculino prefere
que a piada seja às expensas de
alguém e entende que a vida
muito provavelmente já é uma
piada em si, para começo de
conversa -e, com freqüência,
uma piada de muito mau gosto.
O humor faz parte da armadura que vestimos para resistir
a algo que já é farsesco o suficiente (possivelmente não seja
coincidência o fato de que os
homens, fustigados pela natureza implacável, tendam a referir-se à própria vida como maldita). Enquanto as mulheres,
abençoados sejam seus corações ternos, prefeririam que a
vida fosse justa e até mesmo
doce, em lugar da confusão sórdida que ela é. Piadas sobre
consultas médicas calamitosas,
visitas ao psiquiatra ou ao banheiro, ou então sobre desafogar as frustrações sexuais com
bichinhos de estimação peludos, são do reino masculino.
Sem cura
Deve ter sido um homem que
cunhou a frase "tão hilário
quanto um ataque cardíaco".
Em todas os milhões de charges
que mostram um paciente desanimado ouvindo o veredicto
do médico ("Não existe cura.
Não existe nem mesmo uma
corrida para chegar à cura"),
você se recorda de uma sequer
em que a paciente é mulher?
Foi o que pensei.
Precisamente porque o humor é sinal de inteligência (e
muitas mulheres pensam, ou
aprenderam de suas mães, que
podem ser vistas pelos homens
como ameaça se aparentarem
ser inteligentes demais), é possível que, de certo modo, alguns
homens não queiram que as
mulheres sejam engraçadas.
Eles querem as mulheres como platéia, não como concorrentes. E existe uma reserva
imensa e transbordante de insegurança masculina que seria
facílima de ser explorada pelas
mulheres (os homens podem
contar piadas sobre o que aconteceu com John Wayne Bobbitt, mas não querem que as
mulheres o façam).
Os homens têm próstatas
-que hilário!-, e estas tendem
a fraquejar, assim como seus
corações e seus pênis. Isso é divertido apenas quando se está
em companhia masculina.
As mulheres não acham tão
hilária sua própria decadência
e ridículo físico, e é por isso que
admiramos mulheres como
Lucille Ball e Helen Fielding,
que vêem o lado engraçado disso. Mas isso é tão raro que é como a comparação que dr. Johnson traçou entre uma mulher
pregando e um cão andando
nas patas traseiras: o espantoso
é que sequer seja feito.
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