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Músico erudito ganha projeção
Compositor brasileiro Felipe Lara tem obras executadas pelo importante grupo Quarteto Arditti
Com 31 anos, ex-guitarrista de rock ganha elogios
do "New York Times" e
tem duas encomendas internacionais para este ano
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No próximo sábado, dia 13,
no Festival Ars Música, em Antuérpia, na Bélgica, o Quarteto
Arditti toca "Tran(slate)", do
compositor brasileiro radicado
em Nova York Felipe Lara.
Fundado pelo violinista britânico Irvine Arditti em 1974 e
atração da edição de 2010 do
Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o
grupo já gravou nada menos
que 160 CDs e é tido como o
mais destacado quarteto de
cordas do planeta no quesito
interpretação de música
contemporânea.
Ser tocado pelo Quarteto
Arditti é uma honra para qualquer compositor. No caso do jovem sorocabano de 31 anos,
contudo, está se tornando uma
rotina. "Conheci o quarteto em
2005, quando ajudei a organizar um concerto com música
nova dos doutorandos em composição da NYU (Universidade
de Nova York)", conta Lara.
Foi para este evento que ele
escreveu seu primeiro quarteto
de cordas -"Corde Vocale",
que o grupo apresentou em São
Paulo, em 2007, quando participou do Festival Música Nova.
Não parou por aí. Em 2008,
Lara embolsou os 3.000 do
Staubach Preis no 44º Curso de
Férias de Música Nova de
Darmstadt -o evento que
transformou a cidade germânica, no pós-Guerra, na meca das
vanguardas da música contemporânea por disseminar as estéticas de compositores como
Pierre Boulez, 84. Pois bem: a
obra com que Lara venceu o
prêmio foi "Tran(slate)", que
mistura a execução do quarteto
de cordas com recursos eletrônicos em tempo real.
"Em "Tran(slate)", utilizo
gravações de samples da minha
voz e de três harmônicos complexos do violão como material
harmônico", explica. A obra
também tem, contudo, uma
versão puramente instrumental, sem recursos eletrônicos.
É nesse formato que
"Tran(slate)" será tocado em
Antuérpia pelo Quarteto Ardi-
tti. E é nele, ainda, que acaba de
ser apresentado em Nova York,
pelo Jack Quartet. O tom da
crítica assinada por Anthony
Tommasini no "The New York
Times", na última quinta-feira,
dia 4, é altamente elogioso.
Tommasini chama a obra de
"brilhantemente realizada", e
descreve como todas as sonoridades específicas da música
eletrônica "são evocadas pelos
músicos em uma obra tecnicamente formidável e amplamente variada, que evolui em
seções crepitantes. A performance foi um "tour de force" de
intensidade e cor".
Neste ano, Lara tem ainda
duas encomendas internacionais: o Ensemble Recherche,
da Alemanha, pediu-lhe um
"Liebeslied" ("Canção de
Amor"), peça instrumental para incluir na turnê em que comemora 25 anos de atividade.
Também em terras germânicas, o Donaueschingen Musiktage, o mais antigo festival de
música contemporânea do planeta, estreia uma obra do compositor em outubro com a Netherlands Chamber Radio Philharmonic, de Amsterdã, sob a
batuta do regente e compositor
húngaro Peter Eötvös, 66.
Lara era, na adolescência,
um guitarrista de rock que se
apaixonou por jazz e MPB. Em
1999, ganhou bolsa para estudar na Berklee College of Music, em Boston (EUA). Hoje, é
doutorando em música na Universidade de Nova York, onde
pesquisa a obra do francês
Tristan Murail, 63, seu professor, e um dos principais nomes
da corrente vanguardista conhecida como espectralismo.
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