São Paulo, sábado, 8 de março de 1997.

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Look da cantora Patti Smith inspira a moda

Modelo do desfile da estilista Ann Demeulemeester, outubro de 96 da Redação

A grande exposição de Robert Mapplethorpe montada no MAM de São Paulo dá oportunidade para conferir ao vivo a força do que se pode chamar de dois mitos da realidade.
De um lado, o próprio fotógrafo, que registrou o universo a sua volta e suas convicções em torno de raça, sexo, profissão. Do outro, sua musa e companheira, a cantora, compositora e poeta Patti Smith.
Robert conheceu Patti aos 20 anos, em 67. Ele estava dormindo em seu apartamento em Nova York. A porta estava aberta. Ela entrou, procurando outra pessoa; era o endereço errado. Quando ele abriu os olhos, ela estava em sua frente.
Os dois viveram juntos no lendário hotel Chelsea, em Nova York, onde foram amantes e companheiros por muitos anos, num período de descoberta e muita criatividade. Foram de Patti suas primeiras fotos, tiradas com uma Polaroid.
Richard tinha um pequeno altar em casa, com uma pele de lobo -um talismã dos dois-, mais um calendário adventista com as imagens religiosas (uma de suas fixações) substituídas por fotos de Patti.
O espírito libertário, a atitude, o despojamento e a ambiguidade de Patti Smith entraram na moda. Na última temporada de desfiles de Paris, a estilista belga Ann Demeuleester deu um susto no Planeta Fashion ao encher sua passarela de clones de Patti Smith.
O look era o mesmo das fotos de Mapplethorpe de 75: camisa masculina branca aberta e caída sobre regata branca, gravata jogada, cabelo embaraçado, sobrancelhas fortes.
As revistas de moda captaram a intensidade da história e foram mais longe -até porque não chega a ser novidade a parceria moda/rock. As três publicações mais importantes dos Estados Unidos, ``Vogue'', ``Harper's Bazaar'' e ``W'' dedicaram páginas e páginas sobre esse cruzamento fashion.
O mais especial é o da ``W'' (edição de março, capa de Tom Cruise), com fotos de Steven Sebring, que acabara de dirigir um documentário sobre a cantora e havia passado alguns meses em sua constante companhia. Assim, aos 52 anos, Smith vira modelo de um editorial em que faz também a função de editora de moda, escolhendo as roupas que veste.
O resultado é tão verdadeiro quanto uma foto de Mapplethorpe (no da ``Vogue'', ela parece algo fantasiada). Entre as marcas usadas, Demeulemeester, Comme des Garçons, Jil Sander, Helmut Lang e DKNY. Não há maquiagem nem cabelo -somente os nós criados por suas tranças embaralhadas.
Na TV, deixe-se seduzir pelas imagens mais que realistas do fotógrafo Robert Frank (um dos maiores dos EUA) no clipe de ``Summer Cannibals'', do novíssimo álbum de Smith, ``Gone Again''.
No clipe, todo em preto-e-branco, realismo perde: informalmente, Smith esvazia os bolsos e coça o pé. Uma diva.
(EP)

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