São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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Escritor foi analfabeto até os 20 anos

COLUNISTA DA FOLHA

A obra de Gavino Ledda surpreende duplamente. Em primeiro lugar, porque esse escritor nascido em 1938 na Sardenha (ilha pertencente à Itália) viveu quase 20 anos como um camponês analfabeto, antes de se diplomar e se tornar escritor de renome com "Pai Patrão" (1974).
Em segundo porque, após esse romance de estréia, levado ao cinema pelos irmãos Taviani em 1976, ele enveredou por uma prosa que desconstrói o italiano e o sardo convencionais, inventando uma nova língua, altamente pessoal, que combina traço arcaico e ousadias vanguardistas.
Alguns textos dessa fase experimental -"Recanto", "Morte da Língua Aristotélica" e "Onomatopéias Mínimas"- estão publicados ao final da nova edição do "Pai Patrão". Mas é o romance sobre o pequeno Gavino, condenado pelo pai autoritário à rotina rude de um pastor de ovelhas, que continua a fascinar os leitores.
Engana-se, contudo, quem pensa que "Pai Patrão" se resume a um relato autobiográfico. Pois, na sua solidão nas montanhas, apartado da família e dos amigos, faminto de comida e palavras, a criança vai percebendo o discurso da natureza e construindo uma "língua do silêncio" que já revela uma percepção lingüística da realidade, antecipando assim a prosa de um dos livros mais comoventes da literatura italiana do pós-guerra. (MCP)


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