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SAIBA MAIS
Escritor foi analfabeto até os 20 anos
COLUNISTA DA FOLHA
A obra de Gavino Ledda surpreende duplamente. Em primeiro lugar, porque esse escritor nascido em 1938 na Sardenha (ilha pertencente à Itália)
viveu quase 20 anos como um
camponês analfabeto, antes de
se diplomar e se tornar escritor
de renome com "Pai Patrão"
(1974).
Em segundo porque, após esse romance de estréia, levado
ao cinema pelos irmãos Taviani em 1976, ele enveredou por
uma prosa que desconstrói o
italiano e o sardo convencionais, inventando uma nova língua, altamente pessoal, que
combina traço arcaico e ousadias vanguardistas.
Alguns textos dessa fase experimental -"Recanto",
"Morte da Língua Aristotélica"
e "Onomatopéias Mínimas"-
estão publicados ao final da nova edição do "Pai Patrão". Mas
é o romance sobre o pequeno
Gavino, condenado pelo pai
autoritário à rotina rude de um
pastor de ovelhas, que continua a fascinar os leitores.
Engana-se, contudo, quem
pensa que "Pai Patrão" se resume a um relato autobiográfico.
Pois, na sua solidão nas montanhas, apartado da família e dos
amigos, faminto de comida e
palavras, a criança vai percebendo o discurso da natureza e
construindo uma "língua do silêncio" que já revela uma percepção lingüística da realidade,
antecipando assim a prosa de
um dos livros mais comoventes
da literatura italiana do pós-guerra.
(MCP)
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