São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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"RENATO E SEUS BLUE CAPS"

Caixa de CDs traduz a jovem guarda

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A caixa de 16 CDs de Renato e Seus Blue Caps suscita uma pergunta: "Eles valem tudo isso?". Ouvidos os discos, a resposta se bifurca: musicalmente, não, porque a repetição de temas, arranjos e fórmulas torna o conjunto maçante; mas, do ponto de vista histórico, certamente, pois poucos artistas traduzem tão bem a jovem guarda e seus desdobramentos quanto Renato Barros e Cia.
Para o organizador da caixa, o pesquisador Marcelo Fróes, é um raciocínio elitista questionar o mérito de empreitada desse porte. Afinal, quantas bandas americanas iguais ou piores já não mereceram caixas? Mas, diante da rarefeita ousadia das gravadoras, a iniciativa surpreende.
O cuidado que cerca a caixa, os textos elucidativos de Fróes (um para cada CD) e a possibilidade de acompanhar 17 anos (1964 a 1981) na vida de uma banda são sensacionais, ainda mais levando em conta que só se ouvem hoje dois ou três sucessos de cada nome da jovem guarda -exceto Roberto & Erasmo, é claro.
Mas todas essas qualidades não escondem as limitações. Ao surgir no início dos anos 60, o grupo não era muito mais do que um subproduto da beatlemania, como provam as dez versões de Lennon & McCartney gravadas em apenas três discos. Nesse rol está o maior sucesso do conjunto: "Menina Linda".
Tanto nas versões quanto nas composições próprias e de amigos, a leveza dos Beatles e bandas afins embasa o som dos Blue Caps e explica os milhares de jovens fãs conquistados. Quando os meninos de Liverpool viraram adultos e largaram o iê-iê-iê, os irmãos Renato e Paulo César, cabeças do grupo, ficaram órfãos. É significativo um depoimento de PC a Fróes, em que ele diz gostar dos Beatles só até "Help!" (1965).
Também é emblemática a letra de Renato para a música que abriu o disco comemorativo dos dez anos do grupo. "Se eu pudesse voltar no tempo/ Voltaria há dez anos atrás", diz o refrão. Nos anos 70, com a página da jovem guarda virada e a banda insistindo em melodias e letras juvenis, os Blue Caps se tornaram o velho travestido de novo. Ainda assim, pescam-se bons momentos, como as composições do ainda desconhecido Raul Seixas e versões engenhosas de hits de Earth, Wind & Fire e Billy Joel. Os dois últimos discos da caixa mostram que a banda buscava com competência novos caminhos para a sua juventude.
Com Renato à frente e Cid Chaves e Gelson Moraes ainda na percussão e na bateria, os Blue Caps continuam na estrada. Carregam na bagagem passagens importantes do pop brasileiro, como o lançamento de compositores como Getúlio Côrtes e, em especial, a coerência na missão de produzir música com leveza e alegria.


Renato e Seus Blue Caps
   
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 225, em média (16 CDs)


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