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"RENATO E SEUS BLUE CAPS"
Caixa de CDs traduz a jovem guarda
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A caixa de 16 CDs de Renato
e Seus Blue Caps suscita uma
pergunta: "Eles valem tudo isso?".
Ouvidos os discos, a resposta se
bifurca: musicalmente, não, porque a repetição de temas, arranjos
e fórmulas torna o conjunto maçante; mas, do ponto de vista histórico, certamente, pois poucos
artistas traduzem tão bem a jovem guarda e seus desdobramentos quanto Renato Barros e Cia.
Para o organizador da caixa, o
pesquisador Marcelo Fróes, é um
raciocínio elitista questionar o
mérito de empreitada desse porte.
Afinal, quantas bandas americanas iguais ou piores já não mereceram caixas? Mas, diante da rarefeita ousadia das gravadoras, a
iniciativa surpreende.
O cuidado que cerca a caixa, os
textos elucidativos de Fróes (um
para cada CD) e a possibilidade de
acompanhar 17 anos (1964 a 1981)
na vida de uma banda são sensacionais, ainda mais levando em
conta que só se ouvem hoje dois
ou três sucessos de cada nome da
jovem guarda -exceto Roberto
& Erasmo, é claro.
Mas todas essas qualidades não
escondem as limitações. Ao surgir
no início dos anos 60, o grupo não
era muito mais do que um subproduto da beatlemania, como
provam as dez versões de Lennon
& McCartney gravadas em apenas três discos. Nesse rol está o
maior sucesso do conjunto: "Menina Linda".
Tanto nas versões quanto nas
composições próprias e de amigos, a leveza dos Beatles e bandas
afins embasa o som dos Blue Caps
e explica os milhares de jovens fãs
conquistados. Quando os meninos de Liverpool viraram adultos
e largaram o iê-iê-iê, os irmãos
Renato e Paulo César, cabeças do
grupo, ficaram órfãos. É significativo um depoimento de PC a
Fróes, em que ele diz gostar dos
Beatles só até "Help!" (1965).
Também é emblemática a letra
de Renato para a música que
abriu o disco comemorativo dos
dez anos do grupo. "Se eu pudesse
voltar no tempo/ Voltaria há dez
anos atrás", diz o refrão. Nos anos
70, com a página da jovem guarda
virada e a banda insistindo em
melodias e letras juvenis, os Blue
Caps se tornaram o velho travestido de novo. Ainda assim, pescam-se bons momentos, como as composições do ainda desconhecido
Raul Seixas e versões engenhosas
de hits de Earth, Wind & Fire e
Billy Joel. Os dois últimos discos
da caixa mostram que a banda
buscava com competência novos
caminhos para a sua juventude.
Com Renato à frente e Cid Chaves e Gelson Moraes ainda na percussão e na bateria, os Blue Caps
continuam na estrada. Carregam
na bagagem passagens importantes do pop brasileiro, como o lançamento de compositores como
Getúlio Côrtes e, em especial, a
coerência na missão de produzir
música com leveza e alegria.
Renato e Seus Blue Caps
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 225, em média (16 CDs)
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