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Crítica/"Na Cama"
Chileno leva incertezas conjugais ao motel
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Uma vez que o móvel
onde se dorme e se
transa pode ser encontrado em diversos locais, um título mais preciso para "Na Cama" (2005) seria "No Motel" ou
"No Quarto de um Motel". O jovem diretor chileno Matías Bize encena o que ocorre ali
quando um casal que mal se conhece, ambos beirando os 30
anos, resolve conversar depois
do sexo.
No início, Daniela (Blanca
Lewin) é pouco mais do que
"uma peituda" para Bruno
(Gonzalo Valenzuela); para Daniela, Bruno também não passa
de um bonitão "com cara de
passarinho". Durante algumas
horas, que o filme condensa em
85 minutos, sabe-se como eles
foram parar naquela situação e
para onde podem caminhar a
partir dali.
Bize e o roteirista Julio Rojas
haviam trabalhado juntos em
"Sábado, una Película en Tiempo Real" (2003), média-metragem (meros 65 minutos) também estrelado por Blanca Lewin e que já trazia algumas características de "Na Cama", como o interesse pela distância
no relacionamento entre jovens e por um exercício de estilo próximo ao do documentário
(ou de seu popular primo televisivo, o "reality show").
Aqui, o confinamento é ainda
mais radical do que nos brasileiros "Filme de Amor" (2003),
de Júlio Bressane, e "Incuráveis" (2005), de Gustavo Acioli,
que também se dedicam, com
propósitos bastante distintos,
as experiências-limite entre
quatro paredes, mas que permitem respirar um pouco de ar
fora dali.
Não se trata apenas de ficar o
tempo todo ao lado de Bruno e
Daniela. O espectador também
está, como eles, no escuro: a
conversa fiada entre amantes
ocasionais sugere mais do que
ambos parecem dispostos a revelar, em jogo de meias-verdades (e pequenas mentiras) que
torna especialmente simbólica
a penumbra do quarto.
A câmera na mão, oscilando
entre um e outro personagem,
quase sempre com enquadramentos mais fechados, evita até
mesmo que se apreenda a geografia do quarto.
Nesse aspecto, "Na Cama" tira leite de pedra: a economia de
informações visuais amplifica a
incerteza (insegurança mesmo) em torno da situação que o
longa mostra.
Bruno e Daniela falam, falam
e falam. Nada de especialmente
original ou colorido, apenas o
que esses dois jovens fugidios
consideram revelador a respeito do amor e de relacionamentos, frugais e duradouros. O interesse por "Na Cama" está na
proporção direta de enxergar
(ou não) algum frescor nessa
conversa.
NA CAMA
Direção: Matías Bize
Produção: Alemanha/Chile, 2005
Com: Blanca Lewin e Gonzalo Valenzuela
Quando: em cartaz nos cines HSBC Belas Artes, Cine Bombril e Sala
UOL de Cinema
Avaliação: regular
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