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CRÍTICA
"Floribella" reage com simplicidade à ficção
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
É curioso que a Bandeirantes tenha optado por um caminho completamente diverso
da Globo para conceber sua novela infanto-juvenil. Depois de
muitas mutações e dez anos no
ar, pode-se até dizer que há uma
fórmula bem-sucedida em "Malhação": conflitos adolescentes
tratados com "seriedade" adulta,
adultos infantilizados (e mais ou
menos patéticos) e um meio ambiente coletivo -colégio, academia- para amarrar tudo isso
num lugar só. A combinação esperta entre leveza de personagens juvenis com a solenidade
noveleira com que são tratados
seus amores e intrigas, além do
formato híbrido entre a novela e
o seriado, fizeram da atração da
Globo uma espécie de fenômeno
de audiência e longevidade.
Em "Floribella", claro, percebem-se traços de "Malhação" e
não só porque a protagonista, Juliana Silveira, foi a Júlia na sétima
temporada. Há namoricos e há
adolescentes em torno de um
projeto comum, um grupo de
música que, inclusive, pretende
ter uma existência extranovela,
como a Vagabanda da última
temporada de "Malhação".
Mas o apelo de "Floribella"
vem de outra parte. Seu roteiro
contém algumas das principais
convenções do conto de fadas e o
tom da novela é bastante infantil.
Ainda que ela pretenda soar "jovem" no sentido mais besta
-com gírias, roupas, música e
uma certa estridência geral-, a
história e, sobretudo, a maneira
de contá-la remetem a uma espécie de encantamento infantil.
Para começar, quase todos os
personagens são órfãos. Flor, a
moça pobre, e o príncipe encantado Fred o são de pai e mãe. No
conto de fadas é importante que
pais e mães não estejam muito
por perto, para garantir a existência autônoma e, portanto, a
possibilidade de aventura dos
personagens. Depois, o mal -a
madrasta e meia-irmã invejosas- está longe de ser matizado.
Malva (Suzy Rêgo até está com
uma mecha branca no cabelo, à
la Malvina Cruela) e Delfina, as
opositoras de Flor no caminho
em direção ao príncipe, até dão
aquelas risadas malignas. Por
fim, fadas-madrinhas, como a
personagem de Zezé Motta, aparecem nas horas de aperto.
Talvez valha a pena se perguntar qual é o motivo de uma novela tão infantilizada estar fazendo
um relativo sucesso -a emissora está atingindo índices significativos de audiência no horário.
É como se houvesse aí uma sinalização da necessidade de fantasia de pelo menos uma parcela
dos espectadores, que pode ser
satisfeita com mais simplicidade
do que as novelas da Globo atualmente permitem.
O que "Floribella" e novelas de
época que a Record entendeu
por bem ressuscitar a partir de
"A Escrava Isaura" (e agora em
"Essas Mulheres") parecem prometer é uma história contada
com menos acessórios e menos
complicações artificiais. E isso
encontra eco em um público que
provavelmente se cansou do excesso de "atualidade" e da manipulação sem critérios que a concorrência vem praticando.
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