São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"BREAKING NEWS"

Câmera de Johnnie To coreografa duelos

LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

O s oito primeiros minutos deste "Breaking News" (2004) sintetizam o que há de melhor no cinema de Johnnie To, diretor de Hong Kong na ativa desde 1980, com dezenas de filmes no portfólio, mas praticamente desconhecido do público brasileiro.
Em um plano sem cortes, To apresenta os protagonistas de sua narrativa de ação -mostra a reunião dos assaltantes em seu esconderijo, os policiais de tocaia e um alucinante tiroteio quando mocinhos e bandidos se encontram. A seqüência surge de forma elegante, e a câmera de To, que sobe, desce, se aproxima e se afasta dos atores, controla o tempo e, assim, obtém um conjunto harmônico. Não raro, lembra os melhores duelos dos faroestes clássicos.
Esse estilo de registrar a violência se estende ao longo de todo o policial, numa busca incessante de To pela imagem coreografada, geométrica até, num registro que integra sua obra à escola de Hong Kong da qual faz parte John Woo, que levou seu cinema de ação do Oriente para Hollywood, em filmes como "A Outra Face" (1997).
Mas, se a estética de Johnnie To se mostra fascinante, sua narrativa frustra. Em "Breaking News", uma equipe de TV grava, por acaso, o confronto armado do começo do filme. O choque, um baile dos criminosos sobre os atabalhoados policiais, é transmitido ao vivo pela emissora e abre uma crise na segurança pública local.
Para estancar a sangria, a inspetora Rebecca Fong contra-ataca com um show: mobiliza centenas de agentes, que, com microcâmeras, registram a operação que encurrala os assaltantes em um prédio residencial. A polícia filtra as imagens captadas e divulga à imprensa sua versão da ofensiva.
To retrata a mídia de forma simplória, apenas como veículo sedento de sensacionalismo, e seus protagonistas são mais estereótipos do que personagens -há o policial tapado e o bom moço; o bandido truculento e o romântico; e a inspetora Fong, suposto cérebro da polícia, mas intelecto esmigalhado pela interpretação escolar de Kelly Chen.
Isso posto, "Breaking News" deve, sim, ser visto, mas vale a pena fazer um teste: tire as legendas, abaixe o som e aprecie a câmera flutuante de Johnnie To.


Breaking News
   

Direção: Johnnie To
Distribuidora: LK-Tel; só para locação


Texto Anterior: DVDs - DVDteca: Jeunet cativa platéias com fábula otimista sobre a vida
Próximo Texto: "Kung Faux": Série satiriza filmes de artes marciais
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.