São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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CINEMAS/ESTREIAS

Crítica

Ingenuidade, paixão e idealismo dominam o bom "A Ilha da Morte"

Noção da coletividade permeia filme de Wolney Oliveira, que encontra soluções inteligentes para a falta de recursos

ALESSANDRO GIANNINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Formado pela Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, Wolney Oliveira resgata em seu segundo longa-metragem algo que o cinema brasileiro perdeu, a ingenuidade e a paixão. Em "A Ilha da Morte", ele lida com esses conceitos na mesma medida em que encontra soluções para a falta de recursos, outro elemento central do filme. A ideia do pragmatismo (importada da produção industrial) que passou a nortear a atividade cinematográfica é combatida desde o princípio.
Inspirado em um grupo de cineastas amadores dos anos 50 que fizeram filmes caseiros em San Antonio de Los Baños, Oliveira conta a história de Rodolfo (Caleb Casas), filho de pai revolucionário e mãe dona de casa numa Cuba pré-Fidel. Perseguida pela polícia política do ditador Fulgêncio Batista, a família se muda de Havana para a ensolarada San Juan de Las Rocas a fim de se esconder e dar continuidade à revolução.
Apaixonado pelo cinema de Hollywood, Rodolfo escreve a Samuel Goldwyn na esperança de conseguir trabalho na "fábrica de sonhos". O contraste com os ideais revolucionários do pai não poderia ser mais evidente. E ele é cobrado por isso. Ao mesmo tempo que enfrenta exigências por responsabilidade e postura política, quer dar continuidade ao sonho unindo-se a amigos na nova cidade.
Rodolfo é movido pela paixão. Enquanto o pai se reúne clandestinamente com revolucionários, o filho escreve o roteiro de um filme de terror, aventura e romance inspirado nos sucessos da época. Quer filmá-lo com os amigos, uma turma heterogênea de aficionados que usam uma câmera amadora para produções caseiras.
"A Ilha da Morte" se sustenta no paralelo entre a busca pelos ideais revolucionário e artístico. O curioso é que, nos dois casos, o coletivo, o envolvimento da comunidade, jamais fica de lado. O grupo do pai se cotiza para financiar ações clandestinas e desestabilizar o chefe de polícia. A turma de Rodolfo dribla a falta de recursos usando moradores como atores.

Tributo ao cinema
Com referências explícitas e implícitas a Howard Hawks, Charles Coburn e Alfred Hitchcook, o filme presta tributo ao cinema como arte fundamental para a formação de cultura e identidade. "A Ilha da Morte", que é como Rodolfo intitula sua aventura com pitadas de romance e terror, não teria sido feita com motivações políticas, mas a história dentro do filme reflete uma situação vivida pela população, que de alguma forma se reconhece na tela.
Coprodução de Brasil, Cuba e Espanha, o filme teve sua ideia central inspirada no curta "O Invasor Marciano" (1980), da época em que Oliveira estudava cinema. O longa também deve aos cineastas amadores que fizeram história na cidade nos anos 50. Eles se reuniam em torno de produções caseiras que eram homenagens singelas aos grandes filmes da época.


A ILHA DA MORTE

Produção: Brasil/Cuba/Espanha, 2006
Direção: Wolney Oliveira
Com: Laura Ramos, Caleb Casas, Isabel Santos e Alberto Pujol
Onde: estreia hoje no iG Cine e na Reserva Cultural
Classificação: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: bom




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