|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMAS/ESTREIAS
Crítica
Ingenuidade, paixão e idealismo dominam o bom "A Ilha da Morte"
Noção da coletividade permeia filme de Wolney Oliveira, que encontra soluções inteligentes para a falta de recursos
ALESSANDRO GIANNINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Formado pela Escuela de
Cine y TV de San Antonio de Los Baños, em
Cuba, Wolney Oliveira resgata
em seu segundo longa-metragem algo que o cinema brasileiro perdeu, a ingenuidade e a
paixão. Em "A Ilha da Morte",
ele lida com esses conceitos na
mesma medida em que encontra soluções para a falta de recursos, outro elemento central
do filme. A ideia do pragmatismo (importada da produção industrial) que passou a nortear a
atividade cinematográfica é
combatida desde o princípio.
Inspirado em um grupo de cineastas amadores dos anos 50
que fizeram filmes caseiros em
San Antonio de Los Baños, Oliveira conta a história de Rodolfo (Caleb Casas), filho de pai revolucionário e mãe dona de casa numa Cuba pré-Fidel. Perseguida pela polícia política do ditador Fulgêncio Batista, a família se muda de Havana para a
ensolarada San Juan de Las Rocas a fim de se esconder e dar
continuidade à revolução.
Apaixonado pelo cinema de
Hollywood, Rodolfo escreve a
Samuel Goldwyn na esperança
de conseguir trabalho na "fábrica de sonhos". O contraste
com os ideais revolucionários
do pai não poderia ser mais evidente. E ele é cobrado por isso.
Ao mesmo tempo que enfrenta
exigências por responsabilidade e postura política, quer dar
continuidade ao sonho unindo-se a amigos na nova cidade.
Rodolfo é movido pela paixão. Enquanto o pai se reúne
clandestinamente com revolucionários, o filho escreve o roteiro de um filme de terror,
aventura e romance inspirado
nos sucessos da época. Quer filmá-lo com os amigos, uma turma heterogênea de aficionados
que usam uma câmera amadora para produções caseiras.
"A Ilha da Morte" se sustenta
no paralelo entre a busca pelos
ideais revolucionário e artístico. O curioso é que, nos dois casos, o coletivo, o envolvimento
da comunidade, jamais fica de
lado. O grupo do pai se cotiza
para financiar ações clandestinas e desestabilizar o chefe de
polícia. A turma de Rodolfo dribla a falta de recursos usando
moradores como atores.
Tributo ao cinema
Com referências explícitas e
implícitas a Howard Hawks,
Charles Coburn e Alfred Hitchcook, o filme presta tributo ao
cinema como arte fundamental
para a formação de cultura e
identidade. "A Ilha da Morte",
que é como Rodolfo intitula sua
aventura com pitadas de romance e terror, não teria sido
feita com motivações políticas,
mas a história dentro do filme
reflete uma situação vivida pela
população, que de alguma forma se reconhece na tela.
Coprodução de Brasil, Cuba e
Espanha, o filme teve sua ideia
central inspirada no curta "O
Invasor Marciano" (1980), da
época em que Oliveira estudava
cinema. O longa também deve
aos cineastas amadores que fizeram história na cidade nos
anos 50. Eles se reuniam em
torno de produções caseiras
que eram homenagens singelas
aos grandes filmes da época.
A ILHA DA MORTE
Produção: Brasil/Cuba/Espanha, 2006
Direção: Wolney Oliveira
Com: Laura Ramos, Caleb Casas, Isabel
Santos e Alberto Pujol
Onde: estreia hoje no iG Cine e na Reserva Cultural
Classificação: não recomendado para
menores de 12 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Fãs veem no filme vida nova e próspera para saga Próximo Texto: Crítica: Documentário contra cigarro dá vontade de fumar Índice
|