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CRÍTICA
Cada hora é uma coisa
da Reportagem Local
"Ela é puro êxtase/ Ecstasy", canta a faixa-título do
novo disco do Barão Vermelho. O narrador da canção fica
olhando a outra à distância,
sem muito peito para entrar na
dança. É o que o Barão faz com
a música de "Puro Êxtase".
Não é um disco de virada
clubber (eles fazem questão de
ressaltar), embora se utilize do
produtor Marcelo "Memê"
Mansur, ex-escudeiro do Lulu
Santos versão dance.
O rock continua solto ("Iceberg" comprova), e os tempos
moderninhos são pano de fundo. O problema é que a atitude
soa um tantinho covarde -o
cara vê a outra caindo no ecstasy, mas não se posiciona. Cazuza sorriria amarelo diante do
rodeio de "Puro Êxtase".
Mas o tema é o tema. Aí estão
título, capa pop, grafias, Memê, e versão drum'n'bass do
mimo "Cena de Cinema"
(um roquinho fofo que Lobão
gravou em 82) para atestarem.
Resulta em colagem grudada
com goma de farinha. A linguagem contemporânea se
choca com excesso velhusco de
metais e/ou cordas ("No Topo
do Mundo", "Por Você"
-esta com o "tô em todas"
Jaques Morelenbaum).
Em flashes de simpatia, Barão soa blueseiro ("Presente
Ordinário") ou pop "bubble
gum" ("Vou Correndo Até
Você"). Cada hora uma coisa.
Tudo isso faz de "Puro Êxtase" um disco confuso, mas
não detestável. Releve cordas,
metais, drum'n'bass, a má voz
de Frejat (mas nisso ele empata
com quase toda sua geração)
-sobrará, ainda, um arcabouço pop fluente, sincero.
O despojamento rende bons
frutos -por isso ficam simpáticas a inclusão de "Cena de
Cinema" ou a redescoberta da
compositora Dulce Quental
(do Sempre Livre, lembra?).
O que não dá é a ladainha
instrumental que gasta dez minutos de CD, com final tipo
"se não fosse a música o que
seria de nós?", piada de músico para músico. O resto da população quer música -às vezes há, às vezes só confusão.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco: Puro Êxtase
Banda: Barão Vermelho
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 18, em média
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