São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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15ª BIENAL DO LIVRO
Portugal quer mostrar que não é só Saramago


Estande destinado à literatura portuguesa reúne obras de autores famosos em seu país de origem, mas quase anônimos no Brasil


BRUNO GARCEZ
free-lance para a Folha

Para a maior parte dos leitores brasileiros, quando se fala em literatura contemporânea portuguesa, um dos poucos escritores lembrados é José Saramago.
Autores como Agustina Bessa-Luís e José Cardoso Pires, cuja popularidade em Portugal rivaliza com a de Saramago, são quase desconhecidos por aqui.
O estande português na Bienal do Livro -o maior entre os estrangeiros- pretende mostrar que a produção literária atual do país é farta e diversificada.
Com mais de 50 títulos lançados, entre romances, ensaios, biografias e livros de viagem, Agustina Bessa-Luís é um retrato dessa diversidade. Segundo a autora, há várias razões para justificar seu quase anonimato entre os leitores nacionais e a grande popularidade de Saramago no Brasil.
"Saramago tem uma editora poderosa no Brasil (a Companhia das Letras) e seus livros são mais polêmicos que os meus. Além disso, autores masculinos são sempre privilegiados, daí Margerite Yourcenar (autora do romance "Memórias de Adriano") nunca ter ganho o Prêmio Nobel", diz.
Atingir o mercado brasileiro é uma preocupação dos editores portugueses. Não é a toa que o livro "A Construção do Brasil", editado em Lisboa, tem ortografia "brasileira", que evita termos e grafias próprias de Portugal.
A obra, escrita pelo historiador Jorge Couto, defende a tese de que a descoberta do Brasil foi intencional e não casual, como afirmam alguns estudiosos.
Segundo Couto, o navegador Duarte Pacheco teria avistado a costa brasileira durante expedição realizada em 1498 para verificar se existiam terras na longitude da área portuguesa do Tratado de Tordesilhas.
O espírito explorador português não se faz presente apenas nas descobertas marítimas, mas também nas letras. Caso do poeta Ernesto de Melo e Castro, adepto de pesquisas de linguagem e da poesia visual, herdeira do concretismo.
Na Bienal, o autor apresenta dois novos trabalhos: o livro de ensaios "Voos da Fénix Crítica 2" -que será lançado hoje- e o livro de poemas visuais "Algorritmos". O livro de ensaios traz textos sobre as obras de José Saramago e Antonio Machado, entre outros.
Melo e Castro afirma ser não um inovador só em seu país, mas também no mundo. "Fui o autor do primeiro videopoema que se tem notícia", diz. O autor se refere ao poema "Rodalume", recitado ao vivo na TV portuguesa, em 1968.
"Fui convidado a dar uma entrevista, mas, em vez de responder a perguntas, li o poema", diz.
O gesto irreverente por pouco não custou caro ao poeta. Era época do regime de Salazar, e a leitura foi considerada um insulto aos telespectadores, o que quase acarretou na prisão do escritor.
Castro reside há dois anos no Brasil e dá aulas de literatura na PUC-SP, onde já deu seminários sobre videopoesia e cyberpoesia.


Livro: Voos da Fénix Crítica 2
Autor: Ernesto de Melo e Castro
Lançamento: Edições Cosmos
Quando: hoje, às 17h
Onde: estande de Portugal (G174 - pavilhão azul)
Quanto: R$ 21



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