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CRÍTICA
"Maquinarama" é produto bem-acabado, de pegada funda, surpreendente
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A dota um rumo surpreendente o mineiro Skank em
seu quinto álbum, "Maquinarama". Antes reggae, ska, pop latino, o grupo está por ora convertido a algo da curva entre o rock, o
funk e o soul, perto um pouco do
Roberto Carlos de 1969/1970.
Parece que virou o Jota Quest,
atualmente a banda mais bem-sucedida da gravadora que os abriga, Sony. OK, é suspeita a virada
repentina de direção -ainda
mais nessa gravadora, ainda mais
que o Skank vem de certa crise de
vendas e de popularidade desde
"Siderado" (98).
Mas não sejamos simplistas.
Ainda que tais interesses existam,
"Maquinarama", quase disco de
outra banda (não há sopros, o que
é baita revolução em se tratando
de Skank), é produto bem-acabado, de pegada funda, surpreendente mesmo.
Traz na produção Tom Capone
(em quatro faixas) e Chico Neves
(nas outras oito). O próprio Chico
Neves parece seguir rota distinta
da que vinha orientando trabalhos tecnologizados que fez com
Lenine, Arnaldo Antunes ou Paralamas do Sucesso, por exemplo.
Em comum, há o mérito de ele
quase sempre tornar mais complexos os trabalhos dos artistas
com quem se mete. Mas tanto ele
como os Skank tateiam uma velha
novidade, o black rock brasileiro,
o soul branco mineiro.
Parece uma vertente que se vai
reabrindo. Os filhos de Simonal e
de Elis de cá, agora Skank lá de
Minas, e o soul brasileiro dá pista
de estar enfim se reorganizando
(com muitos mais artistas e produtores brancos do que negros, o
que é lamentável -a culpa não é
deles, claro, mas da indústria, que
desencontra dos novos negros).
E o Skank? Seu "Maquinarama"
começa todo funk-rock, na festa
intricada de "Água e Fogo", túnel
do tempo-espaço com vibrafone e
Edgard Scandurra na parceria.
Mais funk vem bem depois, em
"Fica", ainda assim talvez a mais
reconhecível a quem esteja habituado ao estilo Skank.
A imagem de Roberto Carlos (e,
um pouco menos, de Erasmo
Carlos) assoma em várias passagens, como "Três Lados", "Balada
do Amor Inabalável" (um baita
arranjo de elevador, quase samba-rock para namorar, sobre letra
do sempre fibroso Fausto Fawcett) ou "A Última Guerra" (soul à
Erasmo com toada mineira à Milton Nascimento e Lô Borges, já
pensou numa coisa dessas?).
Em "Maquinarama", os carros e
helicópteros do Roberto Carlos
"Em Ritmo de Aventura" (67) estão travestidos de foguetões, mas
continuam sendo carros e helicópteros -e o Skank parece tentar fazer o "Em Ritmo de Aventura" dos anos cibernéticos.
Não chega a tanto, é claro, que
os Skank são por enquanto neoconvertidos, fiéis que chegaram
há pouco à igreja do pop-soul.
A colcha de retalho do fim de século torna as coisas um pouco
mais difusas, entre rocks pesados
("Rebelião"), mais algum orientalismo, mais algum pop latino...
É um desafio o disco, em suma.
Não é a banda que se fez dominante no mercado com discos como "Calango" (94) ou "O Samba
Poconé" (96). É outra, mais sofisticada, menos populista, mais audaciosa. O Skank dá um salto no
escuro, mas um salto para cima.
Seja o que o mercado quiser.
Maquinarama
Grupo: Skank
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 20, em média
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