São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2000


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CRÍTICA
"Maquinarama" é produto bem-acabado, de pegada funda, surpreendente

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

A dota um rumo surpreendente o mineiro Skank em seu quinto álbum, "Maquinarama". Antes reggae, ska, pop latino, o grupo está por ora convertido a algo da curva entre o rock, o funk e o soul, perto um pouco do Roberto Carlos de 1969/1970.
Parece que virou o Jota Quest, atualmente a banda mais bem-sucedida da gravadora que os abriga, Sony. OK, é suspeita a virada repentina de direção -ainda mais nessa gravadora, ainda mais que o Skank vem de certa crise de vendas e de popularidade desde "Siderado" (98).
Mas não sejamos simplistas. Ainda que tais interesses existam, "Maquinarama", quase disco de outra banda (não há sopros, o que é baita revolução em se tratando de Skank), é produto bem-acabado, de pegada funda, surpreendente mesmo.
Traz na produção Tom Capone (em quatro faixas) e Chico Neves (nas outras oito). O próprio Chico Neves parece seguir rota distinta da que vinha orientando trabalhos tecnologizados que fez com Lenine, Arnaldo Antunes ou Paralamas do Sucesso, por exemplo.
Em comum, há o mérito de ele quase sempre tornar mais complexos os trabalhos dos artistas com quem se mete. Mas tanto ele como os Skank tateiam uma velha novidade, o black rock brasileiro, o soul branco mineiro.
Parece uma vertente que se vai reabrindo. Os filhos de Simonal e de Elis de cá, agora Skank lá de Minas, e o soul brasileiro dá pista de estar enfim se reorganizando (com muitos mais artistas e produtores brancos do que negros, o que é lamentável -a culpa não é deles, claro, mas da indústria, que desencontra dos novos negros).
E o Skank? Seu "Maquinarama" começa todo funk-rock, na festa intricada de "Água e Fogo", túnel do tempo-espaço com vibrafone e Edgard Scandurra na parceria. Mais funk vem bem depois, em "Fica", ainda assim talvez a mais reconhecível a quem esteja habituado ao estilo Skank.
A imagem de Roberto Carlos (e, um pouco menos, de Erasmo Carlos) assoma em várias passagens, como "Três Lados", "Balada do Amor Inabalável" (um baita arranjo de elevador, quase samba-rock para namorar, sobre letra do sempre fibroso Fausto Fawcett) ou "A Última Guerra" (soul à Erasmo com toada mineira à Milton Nascimento e Lô Borges, já pensou numa coisa dessas?).
Em "Maquinarama", os carros e helicópteros do Roberto Carlos "Em Ritmo de Aventura" (67) estão travestidos de foguetões, mas continuam sendo carros e helicópteros -e o Skank parece tentar fazer o "Em Ritmo de Aventura" dos anos cibernéticos.
Não chega a tanto, é claro, que os Skank são por enquanto neoconvertidos, fiéis que chegaram há pouco à igreja do pop-soul.
A colcha de retalho do fim de século torna as coisas um pouco mais difusas, entre rocks pesados ("Rebelião"), mais algum orientalismo, mais algum pop latino...
É um desafio o disco, em suma. Não é a banda que se fez dominante no mercado com discos como "Calango" (94) ou "O Samba Poconé" (96). É outra, mais sofisticada, menos populista, mais audaciosa. O Skank dá um salto no escuro, mas um salto para cima. Seja o que o mercado quiser.


Maquinarama     Grupo: Skank Lançamento: Sony Quanto: R$ 20, em média



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