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"Nunca estive "no armário'", afirma o cantor
DO ENVIADO A BEVERLY HILLS
Leia a seguir a entrevista que
Michael Stipe deu à Folha, anteontem. A conversa com o líder
do R.E.M. aconteceu no Ralph
Guild Radio Studio, do Museu de
Televisão e Rádio. Tocava "Stir It
Up", com Bob Marley.
(SD)
Folha - Vamos direto ao assunto.
Você parece ser muito reservado
em relação à sua vida pessoal. No
entanto há duas semanas deu uma
entrevista à revista "Time" em que
disse que é homossexual e vive
com um homem há três anos.
Michael Stipe - Bem, isso não é
novidade. A entrevista à "Time"
foi muito boa, mas tinha duas horas de duração. O repórter pinçou
coisas que julgou interessantes e
esta foi uma delas. A imprensa
britânica, especialmente, pinçou
coisas da entrevista já pinçada,
como o fato de que eu me referia a
mim mesmo como "queer" [gíria
para homossexual".
Eu faço essa auto-referência há
pelo menos cinco anos. Mas eles
se deliciaram! Eu nunca estive "no
armário", na verdade. Falei da minha homossexualidade publicamente já em 1993. Estive na capa
de revistas gays em 1995. Não é
uma grande coisa para mim.
Foi chocante ver as pessoas fazendo um escândalo agora, por
uma frase numa entrevista.
Folha - Sim, mas foi a primeira
vez que você falou com todas as letras para uma revista da grande
imprensa, não?
Stipe - Pode ser, mas para mim
era só mais uma entrevista.
Folha - E as reações?
Stipe - Bom, todos os jornais britânicos, por exemplo, me estamparam na primeira página. Quero
dizer, assumir em 2001 não teria
sentido, seria bobo. Eu já assumi
faz tempo. Meus amigos, minha
família, minha banda, todos sabem que sou gay há uns oito anos.
Mas isso vende jornais...
É uma questão pessoal, no entanto, não é da conta de ninguém,
por isso não fico falando no assunto toda hora. Falei naquele
momento e de novo agora, pois
achei que as pessoas ficariam felizes de saber que eu estou feliz.
Folha - De onde vem o nome "Reveal"? Você virou religioso?
Stipe - [Risos" Na verdade foi
mais banal. O disco estava pronto
e nós não conseguíamos batizá-lo. No último dia, nosso empresário sugeriu este e gostamos.
Folha - Parte da crítica vem dizendo que este é o melhor CD da carreira do R.E.M. Concorda?
Stipe - Tenho de concordar, caso
contrário não estaria aqui hoje falando com você sobre ele. Um dos
meus primeiros mestres, Jim Herbert, com quem trabalhei em vários clipes, uma vez me disse:
"Você só é tão bom quanto seu último quadro".
É assim que eu me senti quando
este CD ficou pronto, um alívio.
Trabalhei tanto tempo com tanta
gente. É tão bom colocar as músicas para as pessoas ouvirem e observar as reações... Estou feliz que
as pessoas estejam gostando, tenho muito orgulho de "Reveal".
Folha - Quando começa a turnê
de "Reveal"? E, mais importante,
vai passar pelo Brasil?
Stipe - Nós não vamos fazer turnê para este álbum. Não queremos. Já fizemos alguns shows
promocionais na Europa, o do
Brasil e o da Argentina, estamos
exaustos. Além disso, ficamos
dois anos trabalhando neste álbum, além de tê-lo interrompido
para fazer a trilha de "O Mundo
de Andy". Faz tempo que a gente
não tem férias. Bem mais para a
frente, pode ser que façamos uma
turnê mundial, Brasil incluído.
Folha - "Reveal" é mais feliz do
que "Up", que, apesar do nome,
era bem "down". É este o estado de
espírito da banda hoje?
Stipe - "Up" foi um disco muito
difícil de fazer, porque foi o primeiro em que gravamos como
um trio. E o jeito como o criamos,
com várias experimentações, foi
mesmo não-ortodoxo. De qualquer maneira, acho que é um bom
disco, com boas músicas. Mas
"Reveal" foi muito mais fácil fazer
para nós três, mais fácil trabalhar
como banda, voltar a ser amigos.
E é um álbum de verão, a intenção
é que seja leve.
A última música, "Beachball",
por exemplo, foi minha tentativa
de reescrever "Garota de Ipanema". Eu queria recriar aquele sentimento bom que as pessoas têm
quando ouvem essa música.
Folha - Para gravar "Reveal", vocês alugaram uma casa em Vancouver, outra em Atenas e outra em
Dublin e passaram quase um ano
isolados compondo. Era o único jeito para que o R.E.M. voltasse a ser o
R.E.M.?
Stipe - O disco que a gente estava
tentando fazer precisava de mais
inspiração do que dá para ter nos
EUA. Eu conheço este país muito
bem, já gravei em várias cidades.
A música que você ouve nas ruas
aqui é meio monotemática e chata. Não foi o caso em Atenas, em
Dublin... Trabalhamos duro para
ter mais variação. Repare que
uma música é mais acústica, outra
é mais mecânica, a terceira mistura as duas... Foi fruto do ambiente, das pessoas, e eu não sinto
mais esse estímulo nos EUA.
Folha - Nesse sentido, como é viver num mundo em que as paradas
musicais são dominadas por Britney Spears e N'Sync?
Stipe - Não tem problema. As rádios são uma porcaria há anos,
não é de agora. Com poucas exceções. Eu não ouço rádio no meu
carro, mas você não consegue evitar escutar nas lojas, nos restaurantes. Desde que eu estou numa
banda, há 20 anos, a música que
está nas rádios do meu país não é
representativa do melhor.
Você não ouve P.J. Harvey ou
Björk ou Patti Smith ou Radiohead ou R.E.M. nas rádios. Um ou
outro U2 e mesmo um ou outro
R.E.M., mas é só.
Folha - O que você ouve quando
está sozinho em casa?
Stipe - Hoje em dia? Todas as
pessoas que me inspiram como
músico. Radiohead, U2, Patti
Smith, Björk, P.J. Harvey, um
grupo novo australiano chamado
The Avalanches, Travis. E coisas
como Brian Eno, Chemical Brothers e um alemão, Dub Taylor.
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