São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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MÚSICA

Astro do rock alternativo americano diz que vem em janeiro mostrar o show de seu primeiro CD solo, recém-lançado

Ex-Pavement, Malkmus anuncia show no Brasil

LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Pavement, uma das bandas mais importantes do rock americano contemporâneo e espelho para grande parte de grupos independentes brasileiros novos, atravessou toda a década passada sem ligar suas guitarras por este lado do hemisfério.
Agora é que não vem nunca mais mesmo, porque desde o ano passado a seminal banda californiana não existe mais.
Mas essa "injustiça" com os fãs brasileiros do Pavement será parcialmente reparada com a presença por aqui de seu ex-líder, Stephen Malkmus, agora em frutífera carreira solo.
O anúncio de uma visita sonora ao Brasil em janeiro/fevereiro do ano que vem foi feito pelo próprio Malkmus, em entrevista à Folha por telefone, direto de Portland, Oregon (EUA), anteontem.
"Já está planejado. No inverno daqui, verão aí, tocaremos no Brasil e na Argentina", afirmou o genioso e genial vocalista/guitarrista, maior propagador do rock "low-tech", simplório, cru, com instrumentos e vocais em desarmonia, fora do tempo.
Se vier mesmo (já desmarcaram dois shows do Pavement no Brasil em cima da hora), Malkmus trará a turnê de seu primeiro álbum solo, o ótimo "Stephen Malkmus", recém-lançado no Brasil.
Leia a seguir a entrevista.

Folha - Você está feliz com seu primeiro álbum solo, depois de uns dez anos à frente do Pavement?
Stephen Malkmus -
Muito. Foi muito difícil gravá-lo. Não sabia direito o que fazer, mas no final fiquei muito satisfeito com ele. Chegou até a me surpreender. Posso dizer até que estou orgulhoso do disco.

Folha - Como você compararia "Stephen Malkmus" com os últimos discos do Pavement?
Malkmus -
Bem, eu acho que consegui colocar nele mais de mim mesmo, em vez de ter de, como nos últimos discos do Pavement, dividir as idéias com engenheiros de gravação famosos como Nigel Godrich [produtor de "Amnesiac", álbum do Radiohead". Eu quis que desta vez fosse apenas eu e algum engenheiro não tão famoso. Consegui ter mais controle. Parece até um disco meu, agora. Há diferenças no som, porque as bandas são diferentes. Meus amigos de Portland não são os caras do Pavement. Mas no final deu tudo certo.

Folha - O seu processo de criação, de compor as canções, está diferente do de seu tempo de Pavement?
Malkmus -
É o mesmo. Inclusive boa parte dessas canções era para entrar em um próximo disco do Pavement, até eu decidir que estava de saco cheio da banda. Aí peguei esse meu estilo Pavement e apliquei a um baterista diferente, a um novo baixista.

Folha - Você se encheu do Pavement. Foi por isso então que a banda acabou?
Malkmus -
Foi. O Pavement estava ficando repetitivo. As idéias já não eram tão novas. E você precisa dar alguns passos diferentes quando faz música, buscar novas inspirações, motivações. Para isso, acabamos com o Pavement.

Folha - Você mantém contato com seus ex-companheiros?
Malkmus -
Somos amigos ainda. Não vivemos na mesma cidade, ficou difícil para nos vermos, conversarmos. Mantenho contato com o Bob [ex-baterista do Pavement". É meu melhor amigo.

Folha - Desde que seu álbum foi lançado nos EUA e na Inglaterra, em fevereiro, você tem tocado o novo material solo em shows. Está satisfeito com o resultado ao vivo?
Malkmus -
No começo estávamos tocando muito mal. Banda nova e tal. Mas agora a coisa funciona bem melhor. Estava impressionado ao final do último show da turnê. Começamos tocando 40 minutos apenas. Agora somos uma banda capaz de tocar uma hora sem irritar o público.

Folha - Você tocou músicas do Pavement nos shows?
Malkmus -
Toquei uma vez só, em um show do Japão. Foi "Shady Lane". É difícil para a minha banda nova tocar Pavement. O baterista, John, só tem um disco do Pavement e nem gosta muito.

Folha - E quais são os planos futuros de turnê?
Malkmus -
Agora vamos apenas participar de uns festivais de verão na Europa. E já estamos conversando sobre uma turnê por Brasil e Argentina em janeiro ou fevereiro. Inverno para nós e verão para vocês.

Folha - Esses shows aqui na América do Sul estão confirmados?
Malkmus -
Bem, faltam seis, sete meses para acontecer. Mas já estão planejados.

Folha - Cogitou-se uma vez que o Pavement iria vir ao Brasil para tocar em um festival de jazz [no Free Jazz". Tem verdade nisso?
Malkmus -
Sim. Duas vezes. Uma para um festival e outra não. Iríamos tocar no Brasil em 97/98, com a turnê do álbum "Brighten the Corners". Mas havíamos acabado de chegar de uma exaustiva turnê por Europa e Japão. A idéia era nos divertirmos no Brasil, mas já não estávamos aguentando viajar e tocar as mesmas canções.



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