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TEATRO
Peça inaugura o Espaço
Cultural Santo Agostinho, em São Paulo, com três apresentações neste fim de semana
Bibi incorpora Amália Rodrigues em "show" musical
RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL
Bibi Ferreira, 79, 60 anos de carreira, mergulha de cabeça em
Amália Rodrigues (1920-1999) no
espetáculo "Bibi Vive Amália",
que estréia hoje em São Paulo para três apresentações. A temporada inaugura o teatro do Espaço
Cultural Santo Agostinho, com
718 lugares.
Na entrevista que deu na última
terça para promover o espetáculo,
a atriz, "dama do teatro brasileiro", não parava de impostar a voz
em inflexões que homenageavam
a cantora portuguesa, "rainha do
fado", que morreu há dois anos.
"Uma grande cantora, uma mulher bela, inteligente, elegante", é
o que tem a dizer da nova personagem que incorporou.
A relação entre as duas artistas
remonta a uma outra, a cantora
francesa Edith Piaf (1915-1963).
Em 1989, quando levou "Bibi
Canta e Conta Piaf" a Lisboa, a
brasileira teve na platéia a presença de Amália seguidas vezes. Segundo a atriz, a cantora chegou a
dizer que queria ser interpretada
por Bibi nos palcos. "Acho que ela
viu a peça 14 vezes."
O projeto da peça começou
quando Amália Rodrigues ainda
estava viva, mas só decolou no
início deste ano. Para o trabalho,
foram convidadas duas presenças
lusas. Roteiro, texto e direção cênica couberam a Tiago da Silva, e
o guitarrista Vitor Lopes foi escalado para acompanhar Bibi nas
canções. Ambos atuaram ao lado
da cantora portuguesa.
"Quando eu era pequenina...",
canta Bibi, enquanto move os
olhos por trás dos pesados óculos
escuros. Comentando a personagem que vive, lembra: "Imagine o
drama de uma mulher que diz:
"Sou muito triste ou muito alegre.
Num momento tenho 200 anos e
depois 12". É essa personalidade
que buscamos retratar na peça".
Cenário sem excessos
A dramatização da vida da cantora, segundo os envolvidos na
montagem, fugiu do didatismo,
enfatizando sua música e o canto
da protagonista. Além de Bibi,
apenas uma narração é feita, por
Nilson Raman, contando detalhes
sobre a vida de Amália.
"Isto não é "Medéia'", brinca Bibi. "É um show ", acrescenta Tiago da Silva. Por isso, contam, o cenário foi construído sem excessos, para valorizar a luz e as performances da protagonista.
No repertório do "show", 22
músicas se perfilam. Fados portugueses são o principal, mas há espaço para canções brasileiras que
Amália cantava, além de espanholas e italianas, reunidas em
um pot-pourri. "Enquanto eu tiver voz, vou cantar."
Bibi faz distinções entre a língua
portuguesa e a "brasileira" na fala
da personagem. "Não sou caricata. Não é uma blague, como nós
brasileiros temos o hábito de fazer. Faço com a dignidade que ela
e essa pátria merecem."
E conta uma história para ilustrar: durante a estréia no Rio, na
sexta-feira passada, a atriz Dercy
Gonçalves se manifestou da platéia: "Essa Bibi é um fenômeno!".
A protagonista não deixou de lado o sotaque português ou a personagem: "Se não é a grande
Dercy Gonçalves?", em carregado
acento, foi a resposta da atriz.
"Fizemos um trabalho de ourivesaria. Trabalhamos sílaba por
sílaba", conta Silva, sobre a adequação da atriz ao sotaque lisboeta de Amália Rodrigues.
Bibi Ferreira estreou como atriz
em 28 de fevereiro de 1941, no teatro Serrador, no Rio, convidada
pelo pai, o ator Procópio Ferreira.
O papel era de protagonista, na
peça "La Locandiera".
De lá para cá, colecionou papéis
principais em sua trajetória e se
afirmou também como diretora.
Só no ano passado, foram seis
montagens na direção. Ainda para 2001, Bibi prepara a estréia de
"Conduzindo Miss Daisy", peça
do sul-africano Percy Mtwa, com
Nathalia Timberg e Milton Gonçalves no elenco.
"As pessoas me perguntam o
que faço quando não estou trabalhando. Nada, respondo, só observo. Nos meus relaxos eu me
preparo para futuros trabalhos."
BIBI VIVE AMÁLIA - Texto e direção:
Tiago da Silva. Com: Bibi Ferreira. Onde:
Espaço Cultural Santo Agostinho (r.
Apeninos, 118, tel. 0/xx/11/279-4858).
Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom., às
19h; apresentações únicas. R$ 50.
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