São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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TEATRO

Peça inaugura o Espaço Cultural Santo Agostinho, em São Paulo, com três apresentações neste fim de semana

Bibi incorpora Amália Rodrigues em "show" musical

RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL

Bibi Ferreira, 79, 60 anos de carreira, mergulha de cabeça em Amália Rodrigues (1920-1999) no espetáculo "Bibi Vive Amália", que estréia hoje em São Paulo para três apresentações. A temporada inaugura o teatro do Espaço Cultural Santo Agostinho, com 718 lugares.
Na entrevista que deu na última terça para promover o espetáculo, a atriz, "dama do teatro brasileiro", não parava de impostar a voz em inflexões que homenageavam a cantora portuguesa, "rainha do fado", que morreu há dois anos.
"Uma grande cantora, uma mulher bela, inteligente, elegante", é o que tem a dizer da nova personagem que incorporou.
A relação entre as duas artistas remonta a uma outra, a cantora francesa Edith Piaf (1915-1963). Em 1989, quando levou "Bibi Canta e Conta Piaf" a Lisboa, a brasileira teve na platéia a presença de Amália seguidas vezes. Segundo a atriz, a cantora chegou a dizer que queria ser interpretada por Bibi nos palcos. "Acho que ela viu a peça 14 vezes."
O projeto da peça começou quando Amália Rodrigues ainda estava viva, mas só decolou no início deste ano. Para o trabalho, foram convidadas duas presenças lusas. Roteiro, texto e direção cênica couberam a Tiago da Silva, e o guitarrista Vitor Lopes foi escalado para acompanhar Bibi nas canções. Ambos atuaram ao lado da cantora portuguesa.
"Quando eu era pequenina...", canta Bibi, enquanto move os olhos por trás dos pesados óculos escuros. Comentando a personagem que vive, lembra: "Imagine o drama de uma mulher que diz: "Sou muito triste ou muito alegre. Num momento tenho 200 anos e depois 12". É essa personalidade que buscamos retratar na peça".

Cenário sem excessos
A dramatização da vida da cantora, segundo os envolvidos na montagem, fugiu do didatismo, enfatizando sua música e o canto da protagonista. Além de Bibi, apenas uma narração é feita, por Nilson Raman, contando detalhes sobre a vida de Amália.
"Isto não é "Medéia'", brinca Bibi. "É um show ", acrescenta Tiago da Silva. Por isso, contam, o cenário foi construído sem excessos, para valorizar a luz e as performances da protagonista.
No repertório do "show", 22 músicas se perfilam. Fados portugueses são o principal, mas há espaço para canções brasileiras que Amália cantava, além de espanholas e italianas, reunidas em um pot-pourri. "Enquanto eu tiver voz, vou cantar."
Bibi faz distinções entre a língua portuguesa e a "brasileira" na fala da personagem. "Não sou caricata. Não é uma blague, como nós brasileiros temos o hábito de fazer. Faço com a dignidade que ela e essa pátria merecem."
E conta uma história para ilustrar: durante a estréia no Rio, na sexta-feira passada, a atriz Dercy Gonçalves se manifestou da platéia: "Essa Bibi é um fenômeno!". A protagonista não deixou de lado o sotaque português ou a personagem: "Se não é a grande Dercy Gonçalves?", em carregado acento, foi a resposta da atriz.
"Fizemos um trabalho de ourivesaria. Trabalhamos sílaba por sílaba", conta Silva, sobre a adequação da atriz ao sotaque lisboeta de Amália Rodrigues.
Bibi Ferreira estreou como atriz em 28 de fevereiro de 1941, no teatro Serrador, no Rio, convidada pelo pai, o ator Procópio Ferreira. O papel era de protagonista, na peça "La Locandiera".
De lá para cá, colecionou papéis principais em sua trajetória e se afirmou também como diretora. Só no ano passado, foram seis montagens na direção. Ainda para 2001, Bibi prepara a estréia de "Conduzindo Miss Daisy", peça do sul-africano Percy Mtwa, com Nathalia Timberg e Milton Gonçalves no elenco.
"As pessoas me perguntam o que faço quando não estou trabalhando. Nada, respondo, só observo. Nos meus relaxos eu me preparo para futuros trabalhos."



BIBI VIVE AMÁLIA - Texto e direção: Tiago da Silva. Com: Bibi Ferreira. Onde: Espaço Cultural Santo Agostinho (r. Apeninos, 118, tel. 0/xx/11/279-4858). Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom., às 19h; apresentações únicas. R$ 50.



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