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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Streetwear dá fôlego novo ao Fashion Rio
Sommer, Cantão e TNG conseguiram aliar criatividade e adequação comercial; Lenny mostra moda praia audaciosa
Quarto dia do evento de moda tem coleções bem resolvidas, nas quais se destacaram as estamparias e cartela de cores vibrantes
ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
O Fashion Rio ganhou fôlego
no quarto dia, com três boas
apresentações de grifes de
streetwear jovem, que combinaram frescor criativo e visada
comercial. Sommer, Cantão e
TNG, mesmo sem alçar vôos
muito altos, mostraram coleções bem resolvidas, nas quais a
estamparia e as cores vibrantes
foram as grandes estrelas.
A Sommer levou os fashionistas ao cultuado Cine Odeon,
na Cinelândia, para mostrar
uma coleção inspirada na cultura jovem japonesa -dos filmes, mangás e tribos urbanas.
O desfile foi dirigido por Mari
Stocker, que criou um divertido
espetáculo de kabuki pop.
A estilista Thais Losso trabalhou bem uma vasta cartela de
cores, explorou ampla variedade de tecidos, reinventou as referências japonesas com elementos esportivos e multiculturais -e conseguiu superar
(sobretudo nas peças femininas) o grande risco da coleção:
o de se transformar numa parafernália circense.
A Cantão fez a melhor apresentação do dia, com um trabalho de estampas ultracoloridas
executado com muito bom gosto e uma edição de looks bastante feliz. Florais, xadrezes e
elementos gráficos se organizaram em misturas caleidoscópicas, fazendo contraponto com
peças lisas e em jeans.
A grife acertou até mesmo
nos modelos mais sofisticados,
como o ótimo vestido bordado,
com mangas volumosas e aplicações que ganhavam diferentes brilhos de acordo com a luz
e com o movimento do corpo.
TNG por Marcelo Sommer
Com sua primeira coleção assinada por Marcelo Sommer
(que vendeu a grife Sommer
para a empresa AMC Têxtil), a
TNG reencontrou seu DNA esportivo, agora explorado de forma mais pop, com inspiração
na década de 80.
Para as meninas, os melhores
momentos foram as calças molengas, tanto as em cetim de seda com dobras em cascatas
quanto no simpático modelo
estampado com cavalo baixíssimo, abaixo dos joelhos.
Os vestidos em cetim, porém,
nem sempre deram certo, assim como as bermudas de tela
femininas, que deveriam permanecer enterradas entre as
idéias mais infelizes da moda
oitentista.
A Lenny mostrou uma coleção audaciosa, apostando alto
na arquitetura dos biquínis e
maiôs, desta vez adornados por
miniazulejos que formavam
elegantes curvas e recheavam
mosaicos exuberantes.
A estilista também mostrou
ótimos vestidos chemise e macaquinhos amplos, alguns com
simpáticos bolsões, perfeitos
para dispensar a bolsa na areia.
Na praia, cariocas se dividem entre sunga e bermuda
NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Nos primeiros dias do Fashion Rio, os desfiles masculinos foram muito mais pródigos
em bermudas do que em sungas. As bermudas chegaram até
mesmo a rivalizar com as calças
no gosto dos estilistas. E as sungas surgiram muito raramente,
apenas para quebrar o gelo. A
hegemonia da bermuda será o
fim da sunga? Os homens-bermudas venceram os homens-sunga? A pergunta divide as tribos nas praias cariocas mas
também os fashionistas.
"Sou um homem-bermuda, o
que mostra que sou um cara tímido, que não fica por aí exibindo sua intimidade", declara
o DJ Nepal, freqüentador da
praia no Coqueirão, reduto de
artistas e alternativos nas
areias de Ipanema. O estilo
agrada a modelo carioca Fabíola Cabral. "Acho incrível, de
preferência se a bermuda for
baixa. É muito mais charmoso.
Sunga, só mesmo se o cara tiver
um corpo absurdo."
Entre os mais jovens, como
os criadores da badalada grife
masculina Reserva, a bermuda
é a preferida. "Somos uma grife-bermuda com toda certeza",
diz Fernando Sigal, um dos
criadores da marca. Na sua nova coleção, as bermudas de surfistas relembram os antigos
freqüentadores do píer de Ipanema, badalado nos anos 70.
Sunga cavada
Na hora de mostrar as sungas, que naquela época eram
cavadas, os estilistas da Reserva recuaram. "Não temos coragem de usar sunga cavada, nem
os nossos consumidores", diz.
Fernando lembra que pelo
menos um dos pontos da praia
de Ipanema é dominado pelas
sungas: a Farme de Amoedo, famoso ponto gay da praia. "Usar
sunga ali tem a ver com se exibir, mostrar um corpo malhado
e em forma", teoriza. O stylist
Rogério S. atenta para outro fenômeno. "No Coqueirão, existem os surfgays, que são pessoas que nem pegam onda, mas
vão para a praia de bermuda só
por uma questão de estética",
aponta Rogério, ele próprio um
homem-sunga. Nem sempre é
fácil atravessar de um mundo a
outro da praia. O modelo Tet
Mendes recorda como conseguiu passar da bermuda à sunga. "Quando eu era moleque me
achava muito magro. Agora,
uso sunga e acho legal."
"Jura que você usa isso?",
pergunta um amigo de Tet nos
bastidores do desfile da Chiaro,
cujo estilista, Felipe Fonseca,
por sua vez, se define como homem-sunga e homem-bermuda ao mesmo tempo. "Uso os
dois. Mas a sunga é prática porque dá para usar debaixo da
roupa", diz.
As roupas de praia masculina
são tão importantes no Rio que
até viraram caso de polícia. Isso
porque, há poucos dias, o traficante Marcelo PQD foi preso e
fotografado de sunga, deixando
ver o seu corpo malhado. A foto
causou sensação na cidade -e
não só entre as mulheres.
Grife de moda praia mira em público gay
DOS ENVIADOS AO RIO
Uma grife de moda praia
que está de olho no consumidor gay estréia hoje no
Fashion Rio. É a Butch, do
estilista Juliano Corbetta,
28, gaúcho que vive nos
EUA há oito anos. "Não faço moda gay, que em geral
é vulgar. Faço peças para
todos os públicos", diz ele.
"Mas gostaria, sim, de
atrair o consumidor gay."
Juliano é dono do hypado blog gay "Made in Brazil". Estudou em Nova
York e trabalhou nas grifes
Byblos e John Bartlett.
Cria sobretudo camisetas
e sungas. A maior parte
das peças que produz no
Rio Grande do Sul é exportada para a Austrália e os
EUA. O desfile de hoje vai
ser a sua porta de entrada
no mercado brasileiro.
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