São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Streetwear dá fôlego novo ao Fashion Rio

Sommer, Cantão e TNG conseguiram aliar criatividade e adequação comercial; Lenny mostra moda praia audaciosa

Quarto dia do evento de moda tem coleções bem resolvidas, nas quais se destacaram as estamparias e cartela de cores vibrantes


ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

O Fashion Rio ganhou fôlego no quarto dia, com três boas apresentações de grifes de streetwear jovem, que combinaram frescor criativo e visada comercial. Sommer, Cantão e TNG, mesmo sem alçar vôos muito altos, mostraram coleções bem resolvidas, nas quais a estamparia e as cores vibrantes foram as grandes estrelas.
A Sommer levou os fashionistas ao cultuado Cine Odeon, na Cinelândia, para mostrar uma coleção inspirada na cultura jovem japonesa -dos filmes, mangás e tribos urbanas. O desfile foi dirigido por Mari Stocker, que criou um divertido espetáculo de kabuki pop.
A estilista Thais Losso trabalhou bem uma vasta cartela de cores, explorou ampla variedade de tecidos, reinventou as referências japonesas com elementos esportivos e multiculturais -e conseguiu superar (sobretudo nas peças femininas) o grande risco da coleção: o de se transformar numa parafernália circense.
A Cantão fez a melhor apresentação do dia, com um trabalho de estampas ultracoloridas executado com muito bom gosto e uma edição de looks bastante feliz. Florais, xadrezes e elementos gráficos se organizaram em misturas caleidoscópicas, fazendo contraponto com peças lisas e em jeans.
A grife acertou até mesmo nos modelos mais sofisticados, como o ótimo vestido bordado, com mangas volumosas e aplicações que ganhavam diferentes brilhos de acordo com a luz e com o movimento do corpo.

TNG por Marcelo Sommer
Com sua primeira coleção assinada por Marcelo Sommer (que vendeu a grife Sommer para a empresa AMC Têxtil), a TNG reencontrou seu DNA esportivo, agora explorado de forma mais pop, com inspiração na década de 80.
Para as meninas, os melhores momentos foram as calças molengas, tanto as em cetim de seda com dobras em cascatas quanto no simpático modelo estampado com cavalo baixíssimo, abaixo dos joelhos.
Os vestidos em cetim, porém, nem sempre deram certo, assim como as bermudas de tela femininas, que deveriam permanecer enterradas entre as idéias mais infelizes da moda oitentista.
A Lenny mostrou uma coleção audaciosa, apostando alto na arquitetura dos biquínis e maiôs, desta vez adornados por miniazulejos que formavam elegantes curvas e recheavam mosaicos exuberantes.
A estilista também mostrou ótimos vestidos chemise e macaquinhos amplos, alguns com simpáticos bolsões, perfeitos para dispensar a bolsa na areia.

Na praia, cariocas se dividem entre sunga e bermuda

NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Nos primeiros dias do Fashion Rio, os desfiles masculinos foram muito mais pródigos em bermudas do que em sungas. As bermudas chegaram até mesmo a rivalizar com as calças no gosto dos estilistas. E as sungas surgiram muito raramente, apenas para quebrar o gelo. A hegemonia da bermuda será o fim da sunga? Os homens-bermudas venceram os homens-sunga? A pergunta divide as tribos nas praias cariocas mas também os fashionistas.
"Sou um homem-bermuda, o que mostra que sou um cara tímido, que não fica por aí exibindo sua intimidade", declara o DJ Nepal, freqüentador da praia no Coqueirão, reduto de artistas e alternativos nas areias de Ipanema. O estilo agrada a modelo carioca Fabíola Cabral. "Acho incrível, de preferência se a bermuda for baixa. É muito mais charmoso. Sunga, só mesmo se o cara tiver um corpo absurdo."
Entre os mais jovens, como os criadores da badalada grife masculina Reserva, a bermuda é a preferida. "Somos uma grife-bermuda com toda certeza", diz Fernando Sigal, um dos criadores da marca. Na sua nova coleção, as bermudas de surfistas relembram os antigos freqüentadores do píer de Ipanema, badalado nos anos 70.

Sunga cavada
Na hora de mostrar as sungas, que naquela época eram cavadas, os estilistas da Reserva recuaram. "Não temos coragem de usar sunga cavada, nem os nossos consumidores", diz.
Fernando lembra que pelo menos um dos pontos da praia de Ipanema é dominado pelas sungas: a Farme de Amoedo, famoso ponto gay da praia. "Usar sunga ali tem a ver com se exibir, mostrar um corpo malhado e em forma", teoriza. O stylist Rogério S. atenta para outro fenômeno. "No Coqueirão, existem os surfgays, que são pessoas que nem pegam onda, mas vão para a praia de bermuda só por uma questão de estética", aponta Rogério, ele próprio um homem-sunga. Nem sempre é fácil atravessar de um mundo a outro da praia. O modelo Tet Mendes recorda como conseguiu passar da bermuda à sunga. "Quando eu era moleque me achava muito magro. Agora, uso sunga e acho legal."
"Jura que você usa isso?", pergunta um amigo de Tet nos bastidores do desfile da Chiaro, cujo estilista, Felipe Fonseca, por sua vez, se define como homem-sunga e homem-bermuda ao mesmo tempo. "Uso os dois. Mas a sunga é prática porque dá para usar debaixo da roupa", diz.
As roupas de praia masculina são tão importantes no Rio que até viraram caso de polícia. Isso porque, há poucos dias, o traficante Marcelo PQD foi preso e fotografado de sunga, deixando ver o seu corpo malhado. A foto causou sensação na cidade -e não só entre as mulheres.

Grife de moda praia mira em público gay

DOS ENVIADOS AO RIO

Uma grife de moda praia que está de olho no consumidor gay estréia hoje no Fashion Rio. É a Butch, do estilista Juliano Corbetta, 28, gaúcho que vive nos EUA há oito anos. "Não faço moda gay, que em geral é vulgar. Faço peças para todos os públicos", diz ele. "Mas gostaria, sim, de atrair o consumidor gay."
Juliano é dono do hypado blog gay "Made in Brazil". Estudou em Nova York e trabalhou nas grifes Byblos e John Bartlett. Cria sobretudo camisetas e sungas. A maior parte das peças que produz no Rio Grande do Sul é exportada para a Austrália e os EUA. O desfile de hoje vai ser a sua porta de entrada no mercado brasileiro.


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