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Bem na fita
Dobra aprovação ao cinema
brasileiro em SP, revela Datafolha;
65% apontam filmes como ótimos
ou bons contra 32% em 1995, no início
da retomada da produção
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O cinema brasileiro recuperou o respeito do público. Na cidade de São Paulo, 65% dos
adultos que têm o hábito de ver
filmes consideram os títulos
brasileiros ótimos ou bons.
Entre os espectadores que
vão com mais freqüência ao cinema -ao menos uma vez por
mês- o índice é maior, de 70%.
A aprovação da maioria do
público aos filmes nacionais foi
identificada em pesquisa do
instituto Datafolha realizada
com 598 pessoas entre os últimos dias 8 e 10 de maio.
A opinião dos paulistanos sobre a cinematografia nacional
era inversa há 13 anos. Em
1995, 63% consideravam os filmes brasileiros como regulares, ruins ou péssimos. A parcela dos que achavam os títulos
nacionais ótimos ou bons era
de 32%, segundo o Datafolha.
"Em 1995, não havia filme
brasileiro para ver. Os títulos
que responderam pela produção naquele momento tiveram
uma responsabilidade acima
do normal", aponta Sérgio Rizzo, crítico de cinema da Folha.
"Carlota Joaquina"
Apenas 12 longas brasileiros
estrearam nos cinemas em
1995. "Carlota Joaquina", de
Carla Camurati, fez surpreendentes 1,3 milhão de espectadores e passou a ser considerado o marco zero da "retomada".
A pane na produção de longas no Brasil ocorrera em 1990,
quando o presidente Fernando
Collor de Mello extinguiu a
Embrafilme, órgão estatal de
onde saíam as verbas para a
realização dos filmes.
A "retomada" foi impulsionada pela Lei do Audiovisual
(1993), que inaugurou a etapa
de financiamento da produção
via renúncia fiscal. Agora, são
as empresas que destinam parte de seu Imposto de Renda devido à produção de filmes e têm
em recompensa sua imagem de
"patrocinadora" divulgada.
"Para mim, está claro que isso [os atuais 65% de aprovação
ao filme brasileiro] tem a ver
com o tamanho da oferta. Aumentou a chance de o espectador gostar de um filme brasileiro, porque há mais filme brasileiro para ver", diz Rizzo. "Essa
equação em cinema vale em
qualquer canto do mundo: não
há qualidade sem quantidade."
A "constância na produção"
também é o "fator mais importante" para explicar a mudança
na avaliação do público sobre
os filmes brasileiros, na opinião
de Pedro Butcher, crítico de cinema da Folha.
Blockbuster nacional
"O que se está colhendo é um
esforço de institucionalização
[do cinema] e de diálogo [dos
filmes] com o público. Mas o
Brasil ainda está engatinhando
nesse aspecto. Tivemos um período bom [recentemente],
mas voltamos a ter uma grande
dificuldade de emplacar sucesso", afirma Butcher.
Embora tenha conseguido
afastar a fama de ser precário
em qualidades e recuperar o
crédito do público, o filme brasileiro é amplamente derrotado pelo concorrente hollywoodiano na bilheteria.
Entre os dez filmes mais vistos no país neste ano, apenas
um é brasileiro -"Meu Nome
Não É Johnny", de Mauro Lima, ocupa o terceiro lugar, com
2,1 milhões de espectadores.
Os filmes brasileiros, que
contam com uma reserva de
mercado imposta pelo governo
federal por meio da cota de tela
(a fixação do número de dias de
exibição obrigatória de títulos
nacionais nos cinemas), respondem por aproximadamente
12% do total de ingressos vendidos no país a cada ano.
A pesquisa Datafolha identificou, no entanto, que 64% dos
paulistanos assistiram a algum
filme brasileiro nos últimos 12
meses, sendo que 44% o fizeram em DVD ou VHS.
Os maiores consumidores de
filmes brasileiros têm entre 16
e 40 anos, pertencem às classes
A, B e C, têm nível médio ou superior de escolaridade, são solteiros, trabalham e não têm filhos.
Filme em casa
O hábito de ver filmes em casa é a segunda opção cultural
favorita dos paulistanos e também a segunda mais freqüente.
Perde apenas para o de ouvir
música. A parcela de cinéfilos
entre a população adulta da cidade, aqueles não abrem mão
de ir ao cinema ao menos uma
vez por mês, é de 24%.
A indústria de vídeo doméstico não se mostra desatenta ao
interesse do espectador por títulos nacionais. No ano passado, 103 filmes brasileiros foram
lançados em vídeo, de acordo
com levantamento da Ancine
(Agência Nacional do Cinema).
O resultado completo da pesquisa Datafolha será apresentado na íntegra no seminário
"Perspectivas do Investimento
em Cultura", que ocorre de
amanhã a sexta, na Estação Pinacoteca, em São Paulo.
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